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Seis anos sem Marielle: não toleraremos a violência política que fere as mulheres e a democracia

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"A força das mulheres é uma força incontornável de transformação do mundo, e não toleraremos a violência política que fere as mulheres e a democracia que almejamos! ", escreve Rosa - Reprodução / Flickr
até nos momentos de violência política há uma grande invisibilidade e desinteresse em fazer justiça

Hoje faz seis anos da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes. Lembro como se fosse hoje o dia 14 de março de 2018. O assassinato de Marielle nos atingiu. Atingiu a todas as mulheres militantes. Ligamos umas para as outras para saber como estavam nossas companheiras. Rememoramos o dia 14 de março como um dia de luta contra a violência política de gênero e raça não só nas campanhas eleitorais, mas da violência que as mulheres que ocupam cargos eletivos sofrem cotidianamente. 

A violência política de gênero é crime no Brasil. A lei 14.192/2021 considera como violência política contra a mulher “toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher”. Também se considera violência qualquer distinção, exclusão ou restrição dos nossos direitos e liberdades políticas fundamentais que se justificam pelo fato de sermos mulheres.

Com o assassinato de Marielle Franco, sua família vem dando continuidade ao seu legado através do Instituto Marielle Franco, que juntamente ao o instituto E se Fosse Você?  são hoje importantes referências do tema. Este segundo, inclusive, é o responsável pela pesquisa “A Vida das Mulheres Não Vale uma Postagem”, sobre os ataques coordenados contra parlamentares mulheres, LGBTQIA+ e negras no Brasil - entre as quais eu me encontro. A pesquisa concluiu que menos de 15% das contas de autoridades analisadas se solidarizaram às mulheres vítimas de ameaças de estupro corretivo.  

É muito importante a pauta da violência política estar na agenda política sempre, não só quando os casos acontecem. No entanto, até nestes momentos há uma grande invisibilidade e desinteresse em se fazer justiça. Passados seis anos, ainda não temos respostas conclusivas de quem mandou matar Marielle e porquê.
 
A violência política de gênero e raça demanda uma atuação concreta do Estado, que deve identificar, prevenir e combater ações de violência política contra a mulher; ampliar a participação das mulheres na política; criar canais de denúncia; promover ações que fomentem a paridade entre homens e mulheres nos órgãos e instituições públicas e políticas; além de monitorar e avaliar as ações de enfrentamento à violência política contra a mulher.

A  baixíssima representação das mulheres nos cargos eletivos e a violência política se retroalimentam. Para termos uma ideia, nós mulheres somos 51% da população, mas lideramos apenas 12% das cidades do país - mesmo que o número de mulheres prefeitas tenha dobrado em 20 anos.

Se pensarmos nas mulheres negras, a situação é ainda pior: somos 28% da população mas governamos apenas 4% dos municípios. Os homens seguem no comando de 88% das prefeituras brasileiras e nossa liderança se concentra em municípios menores, que abrangem apenas 9% da população. 

Mesmo sendo minoria, nossas gestões são eficientes. Um estudo feito pela USP aponta que as cidades governadas por mulheres tiveram 44% menos mortes e 30% menos internações por covid-19. Isto porque nós, mulheres, colocamos a vida no centro da ação política. Nós somos as verdadeiras defensoras da vida e pautamos nossa existência na solidariedade e defesa da liberdade, da justiça, da equidade, da diversidade!

Não estamos sós e não seremos interrompidas! Estamos aqui, mulheres jovens, negras, lésbicas, sem terra, resistindo e avançando! A força das mulheres é uma força incontornável de transformação do mundo, e não toleraremos a violência política que fere as mulheres e a democracia que almejamos! 

Lugar de mulher é na política! Marielle Franco vive!

Edição: Vinícius Sobreira