Pernambuco

ABRIL VERMELHO

MST ocupa 13 terras em PE e cobra governo Lula: “irresponsabilidade como estão tratando a reforma agrária”

Famílias sem terra cobram cumprimento de acordos firmados pelo Governo Federal e ainda não cumpridos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Até o momento famílias agricultoras ocuparam 13 terras improdutivas em Pernambuco - Divulgação/MST

Entre o domingo (14) e esta terça-feira (16) o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) realizou 13 ocupações de terras improdutivas em Pernambuco, envolvendo 5.301 famílias. O movimento critica a falta de ações do Governo Federal na pauta da reforma agrária e o não cumprimento de acordos firmados com famílias sem terra.

A maioria dessas ocupações se deu no Sertão do estado, nos municípios de Petrolina (2), Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Serra Talhada, Bodocó e Inajá, somando 3.941 famílias. Destaques para as ocupações de terras da empresa Farm Fruit, envolvendo 600 famílias em Santa Maria da Boa Vista; de terras do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), envolvendo 300 famílias em Serra Talhada; além das duas ocupações de terras sob posse da Embrapa, em Petrolina, somando 2.416 famílias.

Em vídeo divulgado nas redes sociais do movimento, o dirigente nacional Jaime Amorim explicou o motivo das duas grandes ocupações em Petrolina. “Uma é numa área da Codevasf [Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco, empresa pública federal] que foi invadida pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, outra empresa pública] e está completamente improdutiva. São 1.500 hectares”, disse Amorim. O movimento contabiliza 1.100 famílias nessa ocupação.

A segunda ocupação é na verdade uma reocupação da área, esta sim da Embrapa, cobrando o cumprimento de acordos firmados em 2023. “[Ano passado] saímos da Embrapa com o compromisso de assentar aquelas 1.316 famílias que estavam acampadas. Mas isso não foi cumprido e agora voltamos para cobrar”, disse o líder sem terra. “Só sairemos com o compromisso assinado pelo Governo Federal: tanto assentar as famílias do ano passado, como assentar essas (1.100) da ocupação na Codevasf”, avisou.

Jaime também citou outros compromissos não cumpridos pelo Governo Federal. “A Superintendência do Incra em Petrolina era para ter sido instituída em abril do ano passado e até agora não foi”, afirmou ele, mencionando que o órgão será importante para reestruturar o Incra naquela região do Sertão. “É muita irresponsabilidade a forma como estão tratando a reforma agrária”, disparou.

Na região metropolitana do Recife foram realizadas duas ocupações até o momento, ambas em Itamaracá, nas fazendas Lavandeira (350 famílias) e na Fazenda Acidinho (300 famílias).

Nas regiões Agreste e Zona da Mata do estado foram três ocupações: na Fazenda Irmãos Andrade, em Caruaru (270 famílias), noutra área do DNOCS em Carpina (200 famílias), na fazenda de Bio Ribeiro em Bom Jardim (80 famílias) e na Fazenda Soledad, entre Passira e Glória do Goitá (160 famílias).


Ao todo mais de 5 mil famílias estão participando das ocupações de terra realizadas neste Abril Vermelho em Pernambuco / Divulgação/MST


Famílias sem terra reivindicam compromissos firmados pelo Governo Federal / Divulgação/MST

Amorim lembrou outro compromisso não honrado com as famílias sem terra do município de Goiana, na Zona da Mata. “A Usina Maravilha desde 2014 está em processo de desapropriação. Lula até foi lá durante uma das suas caravanas”, pontuou.

Jaime reclamou para que o Governo Lula tenha compromisso de desapropriar todas as massas falidas de usinas de açúcar devedoras. “Não é apenas um engenho - isso é favorecer os usineiros. Nós queremos resolver o problema da concentração de terras e da monocultura, que são terríveis para o Brasil”, cobrou.

A liderança do MST afirma que a reforma agrária gera empregos tanto para os agricultores, no campo, como para o comércio na cidade. E pede compromisso do poder público com “um modelo de desenvolvimento que não agrida a natureza, mas que refloreste”. “Não é incompatível desenvolver o campo e a fazer a proteção ambiental. Ou defendemos a natureza, ou seremos aos poucos derrotados por ela”, alertou.

As ocupações são parte da jornada de lutas Abril Vermelho, que o MST realiza todos os anos em memória do Massacre de Eldorado dos Carajás, que vitimou 21 sem terras em 1996.

Sede do Incra, no Recife

Além das ocupações de terra, nesta terça (16) o movimento ocupou com 200 famílias a sede do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), no Recife. Os sem terra cobram que o Incra realize vistorias para regularização em três acampamentos do movimento: acampamento General Abreu e Lima, existente há 29 anos no Cabo de Santo Agostinho; acampamento Luiz Gonzaga, instalado há 23 anos também no Cabo; e o acampamento Luiz Lourenzon, há um ano no município de Passira.


Famílias sem terra também ocuparam a sede do Incra, no Recife, cobrando vistorias em 3 acampamentos / Reprodução

Edição: Helena Dias