O dia 29 de agosto, desde o ano de 1996, é o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A data foi tirada durante o primeiro Seminário Nacional de Lésbicas, que aconteceu nessa data, no Rio de Janeiro, reunindo ativistas de todo o Brasil. “Foi a primeira vez no Brasil que as lésbicas se reuniram num espaço exclusivo para colocar suas pautas”, explica Ana Paula, integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco. “O sujeito político ‘lésbica’ já existia dentro do movimento feminista e do movimento LGBT, no entanto, ainda havia muita invisibilidade dentro desses espaços”, comenta Ana.
O cotidiano dessas mulheres é duro quando sofrem preconceito por se relacionarem com outras mulheres, quando têm negados direitos como o de ter acesso ao serviço de saúde específico para as suas demandas, quando se escondem por medo da repressão familiar e da sociedade. Por isso a importância dessa data, como afirma Clarissa Nunes, militante da Marcha Mundial das Mulheres de Pernambuco: “O dia vem para dar voz e lembrar que existimos e que a estratégia do sistema que vivemos, de nos invisibilizar, é justamente porque a forma que amamos é revolucionária. Amar outra mulher é sair da lógica do papel de mulher que a sociedade nos impõe”.
Os desafios, na atual conjuntura, são grandes e é preciso resistir, como reflete Ana Paula: “Numa sociedade que se pauta na heteronormatividade e nesse momento de recrudescimento do discurso conservador, é importante que as lésbicas se olhem e estejam juntas nessa resistência”. O próprio ato de falar sobre lesbianidade já é um desafio, como observa Clarissa Nunes, que também aponta a necessidade desse grupo incidir na política: "um desafio é conseguir incidir nos espaços de poder. Temos que decidir sobre as nossas próprias vidas e não podemos deixar o conservadorismo defendido por Bolsonaros e Felicianos vencer”.
Marília Cavalcanti, enfermeira especialista em saúde mental, lembra-se das diversas situações de constrangimento e preconceito que passou com suas namoradas. Desde constrangimento em locais públicos, até ser apresentada à família de uma ex-companheira como “amiga”. “Ser mulher lésbica é um tanto difícil. Mas eu não me escondo. Quando aconteceu de eu ser apresentada como ‘amiga’, eu fiquei muito chateada e expliquei para minha namorada que a gente não tinha que se esconder”, lembra.
O posicionamento de Marília sempre foi o de enfrentamento ao preconceito, de afirmação da sua condição de mulher lésbica. No dia 13/08, Marília oficializou o seu noivado com Hyla Danniele em uma festa para família e amigos. “Foi um momento muito lindo, de muita felicidade para todos e para nós duas. Foi muito especial, pois era o compartilhamento da nossa decisão de casar, era o momento de anunciar publicamente que decidimos viver juntas. Isso tem um caráter político também, de me permitir amar e poder escolher viver com outra mulher”, lembra Marília.
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