Pouco mais de 20 dias de ocupação e mais de 50 filmes exibidos. Mais de duas mil pessoas passaram por lá nesse tempo. O cenário é bem diferente do que até então se fazia no Cine Olinda, que há mais de 50 anos estava fechado, a espera de ação por parte do poder púbico. O movimento #OcupeCineOlinda, junto com o #CineRuaPe e o Ponto de Cultura Cinema de Animação realizaram um grande ato na noite da sexta (30.09), que resultou na ocupação do cinema de rua. A principal reivindicação é que a reforma seja concluída e que o cinema popular volte ao pleno funcionamento.
Alysson Souza, integrante do #OcupeCine Olinda, está no prédio desde o dia 08.10 e quase todos os dias tem dormido no espaço. Ele explica o objetivo do movimento: “aqui na cidade existem prédios públicos que estão constantemente em reforma. O Cine Olinda é de 1911 e tem muita gente que não sabe da existência dele. As pessoas ficam surpresas quando falamos do cinema para elas nas ruas e ônibus. Lutamos para que esse equipamento cultural seja de fato um cinema popular. Queremos que ele seja reavivado”.
Olinda estava sem cinema há 36 anos, quando o Cinema Duarte Coelho foi fechado. Diante desse contexto, André Dib, jornalista, pesquisador e membro do movimento #CineRuaPE, observa: “principalmente por ter acontecido em uma cidade-patrimônio com forte tradição artística e total carência de espaços culturais, a ocupação do Cine Olinda é uma ação legítima e poderosa, cuja energia pode ser utilizada a favor de um retorno sustentável e imediato desta sala histórica. Além de ser a primeira ocupação de um cinema de rua em Pernambuco, nos últimos dias ela vem oferecendo sessões diárias em uma cidade sem cinema há 36 anos”.
“Nós estamos melhorando e não invadindo. Colocamos as indicações das saídas e iluminamos o cinema por dentro, enquanto ocupantes. Mas o poder público precisa terminar essa reforma que já dura décadas. É preciso colocar os equipamentos de segurança, concluir os banheiros, colocar um bom equipamento de projeção e som e contratar profissionais”, reforça Alysson.
As tarefas de manutenção, oficinas, plenárias e a própria exibição de filmes tem sido divididas entre as pessoas que estão no local.
Nos domingos à tarde acontecem as plenárias, nas quais a programação da semana seguinte é decidida. “Todo mundo que quiser propor alguma atividade pode preencher um formulário na internet ou chegar aqui para preencher o impresso. Chamamos todas as pessoas também para somar nas outras atividades e ajudarem com doações de mantimentos. Nesse, momento, estamos precisando bastante dessas doações”, explica Alysson.
Em carta pública, assinada por diversos movimentos, coletivos e grupos, o #OcupeCineOlinda afirma: “diante da ineficiência do Estado, o poder da autonomia e da autogestão consegue gerar espaços incríveis: de sonho, de união, arte, cinema e de direitos a todas as pessoas. O Cine Olinda é todo nosso e está ocupado, de portas abertas, para realizarmos esses sonhos. Nossa luta é anticapitalista acima de tudo, e assim entendemos que o embate é pela defesa e manutenção dos espaços públicos, geridos democraticamente de forma participativa, em face à histórica presença dos interesses privados nas instituições governamentais”.
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