Dança, teatro e música se misturam para compor a apresentação do conhecido Pastoril. Originado em Portugal, o Pastoril retrata o nascimento de Jesus e, por isso, é apresentado no período natalino. É um dos quatro principais espetáculos populares nordestinos- os outros são o Bumba-meu-boi, o Mamulengo e o Fandango- e acontece nas festas natalinas do Nordeste, particularmente, em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas.
O surgimento desta manifestação cultural data da terceira década do século XIII. No começo, era apenas a apresentação teatral do nascimento de Jesus. Com o passar do tempo, seguiram-se duas linhas: a religiosa e a profana. Em Pernambuco, a introdução do Pastoril aconteceu em fins do século XVI no Convento dos Franciscanos de Olinda, através do Frei Gaspar de Santo Antônio. Um dos pastoris mais tradicionais do Recife era dos irmãos Valença, que há vários anos não funciona.
No bairro de Água Fria, em Recife, há 16 anos, surgia o Pastoril Giselly Andrade. Ana Farias, fundadora e coordenadora do grupo, explica como se formou o desejo de montá-lo. “Quando eu era criança tinha vontade de dançar e minha mãe não permitia, devido à falta de conhecimento. Quando tive Giselly, que é minha única filha, inseri ela na cultura popular. Ela foi convidada para dançar no pastoril e esse foi o ano de pesquisa para mim”, conta.
No tempo de pesquisa, ela observou e ouviu das pessoas que a repetição das mesmas músicas em todos as apresentações era algo que afastava o público. “Começamos usando as músicas da família dos Valença, mas procurei diferenciar arranjos. As nossas coreografias também são sempre novas e a entrada de cada personagem é diferenciada. Em 2008, lançamos um CD de 21 faixas com músicas autorias, minhas, das pastoras e de vizinhos músicos. As músicas são feitas com ritmos pernambucanos como a ciranda, o frevo e o maracatu”, explica Ana.
No Pastoril religioso, não pode faltar o Cordão Encarnado, o Cordão Azul e a Diana, de acordo com Ana. “Os cordões disputam o gosto do público e a Diana, vestida com as duas cores, traz a harmonia, a paz. A Estrela guia as pastoras até Belém. Tem também a Borboleta, pois onde tem flores também tem borboletas. A Cigana era uma personagem muito forte da época e mantemos até hoje. Além disso, não pode faltar o Anjo que faz a anunciação do menino Jesus”, narra a fundadora do grupo.
No cadastro da prefeitura do Recife, atualmente, existem 34 grupos. Ana Farias comenta que, hoje, no entanto, o fomento à atividade tem sido escassa. “Na gestão de João Paulo (PT), por conta de Fernando Duarte, secretário de cultura e grande defensor da cultura popular, o pastoril veio tendo apoio. Cada pastoril tinha de 8 a 9 apresentações em mercados públicos, museus e polos de animação nas comunidades. Na gestão atual, tem sido difícil para os pastoris. Estou vendo a hora de voltarmos a realidade de 16 anos atrás. As crianças não se sentem estimuladas para ensaiarem tanto, já que não terão como se apresentar. Ano passado, poucos grupos conseguiram espaço nas festividades da cidade”, reflete.
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