O ano de 2016 foi de aprofundamento da crise econômica no País. E expectativa é de retração de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ao fim de 2016. Em Pernambuco não foi diferente. De acordo com os dados levantados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o estado de Pernambuco teve, só este ano, pouco mais de 400 mil admissões, enquanto mais de 455 mil trabalhadores foram desligados de seus postos de trabalho – um saldo negativo de 55 mil empregos, o que representa uma redução de 4,1% dos postos de trabalho no estado.
A área da construção civil foi a que apresentou maior redução percentual (-11,5%), com perda de 11.200 postos de trabalho. Já a indústria foi a que teve maior redução de empregos, com 14.500 postos de trabalho fechados (-6,1%). O ramo da indústria mais atingido foi o da metalurgia, com 1.769 postos de trabalho fechados (uma redução de 14,9%). O setor do comércio teve fechamento de 12 mil empregos (-3,9%), enquanto no setor de serviços foram 19 mil vagas fechadas (-3,25%).
Henrique Gomes, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal), recorda que desde 2014 o setor naval tem sido fortemente impactado, com suspensões de contratos para as empresas do ramo e com o escândalo em torno da Petrobras. “Várias empresas do setor naval estão fechando ou entrando em recuperação judicial. Muitas delas nem estão pagando aos trabalhadores a verba a qual temos direito com as demissões”, se queixa.
Mas nos últimos meses surgiu uma boa notícia: “Voltamos a ter um avanço no Estaleiro Atlântico Sul. Está para se efetivar 600 contratações ainda este ano. Novos contratos para construir 5 novos navios foram firmados e temos produção garantida até 2022”, comemora. Gomes avalia que as contratações de metalúrgicos têm sido poucas, concentradas no estaleiro Atlântico Sul e na Fiat de Goiana – e nesta, destaca, “com baixo salário”.
O economista Pedro Lapa avalia que as demissões na área da construção civil são conseqüências do encerramento do ciclo de construção de algumas obras, como a Refinaria Abreu e Lima e a duplicação da BR-101, e da estagnação do programa Minha Casa Minha Vida.
Ele avalia que os ataques à Petrobras têm forte impacto no presente e no futuro de Pernambuco. “Esses ataques acabam desmontando um mecanismo importante para se construir em Pernambuco um pólo industrial do único setor que o Brasil tem governabilidade, que é o de petróleo e gás. Essa política está sendo desmanchada”, lamenta. Para Lapa, a refinaria é um projeto âncora de um plano maior para o setor de petróleo e gás. “Irradiava em Pernambuco e Nordeste, estimulando a pesquisa, a formação profissional – técnica e universitária – e alcançando as indústrias naval e química. Vivíamos em Pernambuco o nascimento de um novo ciclo industrial, que acabou interrompido com a chegada de Michel Temer (PMDB)”.
A Consultoria Econômica em Planejamento (CEPLAN), da qual é sócia a economista Tânia Bacelar, realizou levantamento em que apresenta uma redução de 90 mil postos de trabalho no estado desde a adoção do plano de austeridade pelo governo federal, ainda sob a gestão Dilma Rousseff. O desemprego no estado saltou de 7% para 11%. Os dados atualizados mostram que quem se manteve no emprego teve redução de 25% na renda.
Em documento recente, o diretor técnico do DIEESE, Clement Ganz, escreveu que o Brasil está como um “trem parado e com locomotivas travadas”, criticando a solução proposta pelo governo Temer com a Proposta de Emenda Constitucional nº 55/2016 (ou apenas PEC 55). Para ele, o governo federal quer vender para o capital internacional as empresas privadas e públicas do Brasil, além de fazer um brutal reajuste no tamanho do Estado, reduzindo-o.
Para Ganz, esse plano “destruirá a capacidade do país sustentar o desenvolvimento econômico soberano, condição para uma integração internacional virtuosa”. Em outras palavras, esse caminho impedirá que o Brasil tenha condições de manter relações econômicas positivas com outras nações, mantendo o País subserviente a outros. No texto “Da Agenda FIESP ao austericídio”, Ganz afirma que a austeridade teve por objetivo gerar desemprego, queda de salários, enfraquecer a classe trabalhadora “e assim mudar a correlação de forças para favorecer a imposição de outro projeto de País, sem passar pelo crivo das urnas”.
Dos três senadores pernambucanos, Armando Monteiro (PTB) e Fernando Bezerra (PSB) votaram a favor da PEC, enquanto Humberto Costa (PT) votou contra. Entre os 25 deputados federais de Pernambuco, apenas 5 votaram contra a PEC, enquanto os outros 20 foram favoráveis à medida.
Edição: ---