Começamos o passeio pelo Carnaval de Pernambuco em Triunfo. Agora, chegamos em Bezerros para contar a tradição de mais um grupo de mascarados. Dessa vez, falamos dos Papangus. A brincadeira começou quando dois irmãos comeram o angu de uma casa vizinha e foram proibidos de entrar lá no Carnaval. Mas um deles, muito esperto, propôs cobrir o rosto com uma máscara. Assim foram os dois para a casa do coronel. Chegando lá, a dona da casa reconheceu os dois “papa angu”. Quem contou rapidamente essa história foi Lula Vassoureiro, de 72 anos, artesão e patrimônio vivo de Pernambuco.
Papel, tinta e criatividade fazem as máscaras dos Papangus, uma dos símbolos principais do Carnaval de Bezerros. Lula trabalha há 40 anos como artesão, fazendo as máscaras. Dono da Casa de Cultura Popular Lula Vassoureiro, ele fala com orgulho do trabalho. Para este Carnaval, ele confeccionará cerca de 300 máscaras, número pequeno em comparação com as 1000 que fazia, em média, há alguns anos.
“Eu não faço as máscaras pelo ganho em dinheiro. Faço porque gosto. Hoje sinto orgulho de passar esse conhecimento. Aqui, na Casa de Cultura, vem cerca de 150 alunos para aprender sobre essa tradição”, conta.
Lula rememora como era a festa de antigamente, quando os Papangus entravam na casa dos vizinhos, colocavam som e tomavam licor. “Hoje é muito difícil que isso aconteça, porque as pessoas se sentem inseguras. Mas nunca vi ou soube de Papangu que furou ou matou um. É uma festa sadia”, explica. A graça é não ser reconhecido.
Mas o Carnaval em Bezerros tem outras atrações. Os blocos irreverentes de rua atraem um público grande durante os cinco dias de festa. A advogada Marluce Florêncio, que mora em Caruaru, vai para o Carnaval de Bezerros desde 2012. Ela diz que gosta da festa na cidade porque “é aquele Carnaval tradicional, sadio. Você pode levar as crianças, idosos. É muito animado. Me sinto à vontade. Diferentemente de outros lugares que são mais agitados, como Olinda e Recife. Claro que a cada ano mais gente vai para Bezerros, porém a festa não perdeu as tradições”.
A insegurança de brincar o Carnaval era algo presente para Marluce, que demorou um tempo para aceitar a sugestão dos amigos de ir em Bezerros nesse período. “Sempre me falavam que o Carnaval de lá era sadio, mas eu tinha medo. Então criei coragem e fui. Me apaixonei. Tem os desfiles, os papangus, as pessoas fantasiadas. E, se você quer algo mais elétrico, tem o palco mais afastado do centro”, conta.
Edição: Monyse Ravenna