As rezadeiras ou benzedeiras são senhoras (há poucos relatos de homens nesse ofício) que tem importância no cuidado com a comunidade em que vivem. Uma mistura de saberes, dom e solidariedade compõe a arte-ofício da reza ou benzimento. Em Pernambuco tais figuras estão no cotidiano tanto de quem mora no campo quanto de quem mora nas periferias dos centros urbanos. São figuras que inspiram respeito e confiança. Como é o caso de Severina Ramos de Santana, 82 anos, mais conhecida como Dona Dida.
Ela começou a rezar com 25 anos. “Fui uma pessoa muito curiosa. De tudo que eu queria fazer eu conseguia. Eu tinha um santo muito forte quando era jovem. Então deu isso na minha cabeça, de rezar. Meu primeiro afilhado adoeceu e a mãe dele estava 'aperreada'. Eu fui lá e, quando cheguei, olhei pra ele e pedi pra ela buscar um galho de pinhão. Peguei o galho de pinhão e rezei o menino, o Gilson. Então, quando foi mais tarde, o menino estava melhor”, conta Dona Dida. “Mas eu não sabia reza desse negócio de 'olhado'. Então a reza que eu rezei foram três Pai Nossos e três Ave Marias. Eu disse também: nosso Senhor quando veio ao mundo curou três coisas: olhado, vento caído e carne trilhada. Aí fiquei rezando nos 3 dias seguintes e ofereci a nosso Senhor e nossa Senhora. Daí o povo ficou em cima de mim. Até adulto eu rezava”.
As curas oferecidas pelas benzedeiras são diferentes pelo fato de usarem a oração como principal ferramenta. Os gestos, falas e expressão corporal ganham ares de misticismo. A rezas são as mais variadas possíveis e podem ajudar na resolução de muitos problemas. Conflitos familiares, ambiente pesado, mau-olhado, 'espinhela caída', febre, tristeza e dores em geral são alguns exemplos do que uma boa reza pode resolver.
Dona Dida desconfiava que sua reza, criada da própria cabeça, com ela diz, tivesse efeito mesmo. As respostas das pessoas foram a prova. A senhora o fazia por compaixão. Nunca cobrou nem um cachimbo. “Eu sou de fazer bondade, não perversidade. Se chegasse na minha porta pedindo, prontamente rezava, alegre e satisfeita da vida. Hoje em dia eu não rezo mais porque ninguém me procura, sabe? Depois que me mudei do bairro onde eu morava e a idade foi aumentando... rezava os de dentro de casa, depois eu me esqueci e o povo esqueceu também de mim”, relata a senhora.
O ofício é passado oralmente ou criado pela própria pessoa a partir da observação, como foi o caso de Dona Dida. Mas não é todo mundo que consegue fazer, de acordo com a senhora. “Não é qualquer pessoa que pode, sabe? Porque eu vou te dizer: acho que para a pessoa tirar olhado só se for permitido por Deus. É uma coisa que vem de natureza. Não é todo mundo que pode”. O lamento de Dona Dida hoje é não estar rezando mais. “Antigamente era só o que se falava no meio do mundo e hoje pouco vê se falar”.
Edição: Monyse Ravena