Os protestos contra as medidas do governo ilegítimo de Michel Temer mobilizaram 10 mil pessoas no Recife no último dia 31 de março. A manifestação foi organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo como parte do calendário Dia Nacional de Mobilização Unificada, com articulação de centrais sindicais e movimentos populares. No mesmo dia em que manifestantes ocuparam as ruas, Michel Temer sancionou o Projeto de Lei da Terceirização aprovado pela Câmara. A mobilização foi uma espécie de “termômetro” para a construção de uma Greve Geral nacional articulada para começar no dia 28 de abril.
O protesto contou com a participação de trabalhadores, trabalhadoras e estudantes. Para Thais Santos, de 23 anos, estudante de serviço social e ainda não contribui com a Previdência Social, a aprovação da Reforma da Previdência poderá impedi-la de se aposentar no futuro. “Essa reforma é o desmonte dos nossos direitos, conquistados a partir da luta da classe trabalhadora. Foi isso que me trouxe ao ato hoje, a necessidade de lutar pelos meus direitos e pelos direitos do próximo, lutar também por aqueles que não podem estar paralisação”, defendeu a estudante.
Com uma realidade oposta à de Thais, o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) José Nunes irá se aposentar ainda esse ano, mas nem por isso deixou de somar forças contra a Reforma da Previdência. “Sou brasileiro e acho que o nosso povo precisa ser respeitado. Esse governo golpista que está aí, ilegítimo, desrespeita os direitos conquistados com muito sacrifício, sangue e prisões. Por isso, com certeza estou na luta com os trabalhadores”, declarou.
As amigas Juliane Miranda e Marília Gabriela compareceram ao protesto junto aos colegas de trabalho. Para Juliane, grande parte da população ainda não tem a dimensão real dos retrocessos que o governo golpista vem provocando na vida dos brasileiros. “Discordo totalmente das medidas do governo Temer, inclusive estou hoje aqui com um grupo de trabalhadores da empresa onde atuo porque discordamos totalmente dessas reformas que fazem parte do golpe que sofremos ano passado”, afirma Juliane.
Marília Gabriela aproveitou para criticar o que chamou de manipulação exercida por parte dos meios de comunicação de massa. “A influência da grande mídia é tão forte que a maioria dos trabalhadores com quem convivo ainda não tem consciência que estão perdendo seus direitos, porque se informam pela grande mídia, pela Rede Globo. Por isso o bom uso das mídias populares e independentes são importantes na luta dos brasileiros”, conclui.
53 anos do Golpe Militar de 64
No protesto do dia 31 de março também foi lembrado o golpe civil-militar de 1964, que aconteceu no dia 1º de abril daquele ano. Muitos manifestantes que ocuparam as ruas do Recife fizeram questão de recordar os malefícios da ditadura e realizar comparações com o golpe que a democracia sofreu em 2016.
Para Marcone Aleixo, professor da rede estadual de ensino e também da rede particular, a relação entre os dois momentos históricos é simples e notória. “Cada vez que existe uma progressão social no Brasil, a elite fica insatisfeita porque tem em vista que seus privilégios vêm sendo desqualificados e diminuídos em benefício das massas. Por isso, toda vez que existir uma crise capitalista e que os indicadores apontem para o crescimento das bases sociais, haverá golpe nas democracias frágeis, que tem na sua condução o capital especulativo bancário”, afirmou o professor, que é filiado ao Sindicado dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe). Na opinião de Aleixo, as medidas do governo Temer querem sacrificar a massa trabalhadora para que a elite continue sempre no poder. “Com a terceirização estamos vivendo o ‘neoescravismo’, com a ausência de leis que protejam os trabalhadores, onde os grandes capitais vão nos manipular afim de lucro próprio”, completou.
Segundo Gleisa Campigotto, professora de história e militante da Marcha Mundial das Mulheres, apesar de não haver a forte figura dos militares em 2016, ainda assim existe em ambos os golpes um importante apoio da grande mídia e uma presença expressiva do imperialismo norte-americano, mesmo que este último seja suavemente perceptível. “O golpe que sofremos em 2016 faz parte de um cenário que vem sendo montado em toda a América Latina, com vários golpes de Estado. Precisamos, dentro desse processo político que viemos construindo nesses últimos tempos, pautar firme a unidade pelo ‘Fora Temer’ e por nenhum direito a menos”, finaliza.
Edição: Monyse Ravena