Sabe aquele tipo de filme que a gente fica dias pensando sobre ele? Que a gente gostaria muito que as pessoas assistissem e que mesmo assim é muito difícil falar ou escrever sobre ele? "Moonlight, sob a luz do luar" - o grande vencedor do Oscar 2017 - é um desses filmes. A produção americana, de baixo custo, sem grandes astros, nenhum efeito especial, mas uma grande história para contar, surpreendeu ao ser escolhido pelo grande prêmio do cinema mundial. Afinal, o mercado cinematográfico, tão conhecido pelas grandes produções e a proposta de entretenimento, tem – cada vez mais – compreendido a importância do cinema como reflexão da sociedade.
Moonlight narra a saga de um menino negro, pobre, que convive com a realidade das drogas no subúrbio de uma grande cidade e que só tem por perto a figura de uma mãe ausente. Uma história comum em tantos subúrbios, o que nos aproxima ainda mais desse menino que na adolescência ainda descobre a sua sexualidade – e como lidar com o fato de se sentir atraído por rapazes – e também todas as transformações e descobertas que ele vive até a vida adulta. E a abordagem delicada e respeitosa desse tema, por vezes tão difícil para as famílias/amigos e educadores, é que faz do filme um instrumento pedagógico importantíssimo e que deveria ser exibido não só na sala de casa como nas escolas.
Mas o filme vai além. Em tempos em que as representações se fazem ainda mais presentes, um filme protagonizado por negros, por exemplo, ser premiado e ganhar tamanha visibilidade nos faz acreditar num novo momento dessa industria do entretenimento. Vale lembrar que a música já conta com essas representações há tempos, que a imprensa e comunicação também e a própria política (nessa era pós-Obama). E agora parece que chegou a vez do cinema. Mesmo que, desde sempre, atores, diretores e produtores negros sejam presentes nesse mercado, só agora se consegue trazer a tona grandes histórias como Moonlight. Vale lembrar que esse é um ano significativo com a exibição de outros filmes que seguem esse mesma abordagem: "Estrelas além do tempo", "Um limite entre nós" e até mesmo "Lion", ao também tratar de uma saga de um garotinho indiano em busca da sua identidade.
*Silvana Marpoara é jornalista, educadora e comentarista de cinema.
Edição: Monyse Ravena