Na tarde da última quarta-feira (10), movimentos populares e sindicais, reunidos na Frente Brasil Popular Pernambuco, realizaram no centro do Recife um ato político-cultural de solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mobilização fez parte da Jornada de Lutas em Defesa da Democracia, que aconteceu em diversas cidades do País enquanto o ex-presidente prestava depoimento ao juiz Sergio Moro no prédio da Justiça Federal, em Curitiba. Apoiadores do petista ocuparam a capital paranaense desde o dia anterior ao depoimento, com caravanas de diferentes partes do País.
A concentração do ato no Recife teve início às 13 horas, na rua da Aurora, em frente ao Monumento Tortura Nunca Mais. Foi realizada uma programação com apresentações culturais de artistas locais, falas públicas dos setores organizados que contribuíram com a construção do ato, apresentação de vídeos do ex-presidente e microfone aberto ao público. Dentre as pessoas que participavam da manifestação, estavam aposentados, trabalhadores ativos, estudantes e militantes sociais insatisfeitos com o governo ilegítimo de Michel Temer e com o viés imparcial que a Operação Lava Jato vem assumindo.
A professora de direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Liana Cirne Lins, integrante da Frente de Juristas pela Democracia, ministrou no local uma aula pública onde apontou os abusos do juiz Sérgio Moro em perseguição ao ex-presidente Lula e o papel elitista e conservador que o Poder Judiciário tem desempenhado desde o golpe do ano passado. Para Liana, a atuação de Moro desrespeita o ideal de imparcialidade requerido pela Justiça, de maneira que o juiz não estaria separando suas opiniões pessoais do seu exercício profissional. “Como juiz, como agente do Estado, ele [Moro] tem que prezar pelo respeito à legalidade", declarou a professora universitária.
Muitos dos depoimentos dos presentes na manifestação denunciavam que o grupo político responsável por impulsionar o impedimento da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) é o mesmo que agora quer prender o ex-presidente Lula, sendo esse um fechamento desejado pela direita para o golpe sofrido pela democracia. Na opinião de José de Oliveira, administrador e militante do Movimento Negro Unificado (MNU), o que está acontecendo há um tempo no País é uma perseguição à esquerda brasileira: “Essa obsessão pelo ex-presidente não se encerra em si mesma, não é só o Lula que os golpistas querem. Eles desejam o retrocesso social no Brasil, para acabar com os ganhos sociais dos últimos anos”.
O consultor de tecnologia da informação João Martins se diz nada surpreso com os desdobramentos antidemocráticos que têm caracterizado o golpe. Na opinião de João, é esperado que um governo que não foi eleito democraticamente, como o de Michel Temer, não faça nenhum tipo de consulta ao povo para suas medidas. “Quem votou na Dilma, não votou no Temer. É extremamente natural a postura que o presidente ilegítimo vem tomando, porque ele não teve voto, ele não teve apoio popular, por isso ele não chama o povo para o debate”, afirmou. O consultor defende, ainda, que tudo o que tem acontecido na política brasileira é pensando no benefício da classe mais rica. “O meu posicionamento em relação a Temer e aos seus aliados políticos é que eles estão fazendo o papel deles de golpistas, não me admira essa postura antidemocrática deles”, concluiu.
Para a aposentada Cinezia Norat, a permanência de Michel Temer no poder representa a quebra total da democracia brasileira e a perda dos direitos dos trabalhadores, tanto dos que estão na ativa, quanto dos aposentados. Cinezia criticou as medidas do presidente ilegítimo e seus aliados, como as reformas da previdência e a trabalhista. “Esse desmonte dos direitos trabalhistas representa a volta da escravidão, tanto é que o deputado Nilson Leitão do PSDB está propondo que os trabalhador rural seja pago por seu trabalho com casa e alimentação. É praticamente a volta da escravidão, é isso que representa hoje o governo Temer”, afirmou a aposentada.
Edição: Monyse Ravena