"Lembro com muita saudade daquele bailinho, quando a gente dançava bem agarradinho, onde a gente ia mesmo é pra se abraçar". Esses versos cheios de sentimentos, imortalizados na voz do Rei do Brega, o pernambucano Reginaldo Rossi, representam o grande sucesso da Era de Ouro do brega clássico, que embalou as noites dos casais de namorados a partir dos anos 1970.
De lá para cá, o brega mudou bastante. No entanto, a estrutura simples das músicas, as melodias marcantes e as letras de forte apelo romântico com rimas e refrões melosos e fáceis de decorar; além, claro, do visual chamativo dos artistas, continuam sendo características do ritmo em que pulsam há décadas os corações apaixonados e faz desse gênero musical a trilha sonora ideal para o Dia dos Namorados.
O rótulo de "brega" foi atribuído às músicas populares românticas pelas elites, que consideravam as canções de gosto duvidoso. Mesmo assim, o povo nordestino jamais deixou o brega morrer, fazendo com que ficasse ainda mais conhecido e fosse crescendo e consolidando seu espaço no cenário musical.
Cada vez mais influenciado pelos diferentes ritmos musicais, como o bolero, o sertanejo, o pop latino e, mais recentemente, a kizomba angolana, o funk carioca e o reggaeton caribenho, o brega mantém sua tradição de músicas que ficam no limiar entre o cafona e o poético. Exemplo disso, são os versos da canção "Necessito", versão recifense para o hit mundial "Despacito", lançada recentemente pela Banda Sedutora: "Sim, faz tempo que estava admirando você, vem dançar brega comigo hoje, vem que na minha mira só tava dando você".
Embalando casais
O fato é que o amor pegou forte as ondas de rádio e o brega foi abraçado pelos pernambucanos como patrimônio cultural, harmonizando a história de diversas gerações de casais. É o caso dos namorados Ítalo Nóbrega e Beatriz Fernandes, que são grandes fãs de bandas e cantores bastante populares no Recife, como Kelvis Duran, Banda Sedutora, Musa do Calypso, Ovelha Negra, Vício Louco, Banda Torpedo, Banda Kitara, entre tantas outras.
Juntos há cinco anos e nove meses, o brega é trilha sonora da história dos dois há ainda mais tempo. Antes de começarem a namorar, o casal pé-de-valsa era daqueles amigos que gostam de criar coreografias e inventaram os próprios movimentos para a música "Contigo na cabeça", de Kelvis Duran. Até hoje, sempre que a canção é tocada em festas, eles reproduzem os mesmos passos, arrancando aplausos e encorajando outros casais a se desafiarem na pista de dança.
De acordo com Ítalo, sua relação com o brega vem da infância, quando morava no centro de Casa Amarela, bairro da zona norte do Recife. "Às seis horas da manhã começavam a passar os carrinhos de som tocando bregas. Eu odiava! Mas, quando fui ficando mais velho, comecei a gostar", explica.
Para ele, a influência também vem da sua família, que é bastante festeira e costuma colocar para tocar bandas desse ritmo nas festas em casa. Desde então, o rapaz tem se tornado, cada vez mais, um admirador do ritmo mais popular do Recife, apresentando sempre novas músicas à namorada, que viveu em Brasília (DF) durante a infância e não tinha tanto contato com os ritmos nordestinos. "Tudo o que eu conheço de brega é ele quem me mostra, praticamente todas as festas que a gente paga para entrar é com brega tocando", conta Beatriz.
Com tantas músicas de brega presentes nas listas de reprodução do casal, ambos concordam que é impossível escolher uma só. Entretanto, as de Kelvis Duran estão, sem dúvida, entre as favoritas. Para Ítalo, inclusive, foi só depois de descobrir sua adoração pelo cantor que a namorada conheceu seu verdadeiro lado e, finalmente, se apaixonou.
Seja no carro, em casa ou na balada, o bom e velho breguinha está sempre servindo de pano de fundo para os momentos românticos do casal. Na opinião deles, que não se incomodam com o rótulo de casal brega, isso acontece porque o ritmo dançante do gênero é ideal para o baile a dois, bem agarradinho, além de possuir letras amorosas que permitem que as pessoas se identifiquem com as histórias contadas nas canções, estimulando uma atmosfera de paixão e ternura, perfeita para este 12 de junho.
Edição: Monyse Ravena