Pernambuco

PELADEIRAS

Mulheres ocupam quadras e campos de futebol society no Recife

Já não é incomum encontrar grupos de amigas nesses espaços

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Só no clube em que elas jogam, há 5 peladas femininas semanalmente
Só no clube em que elas jogam, há 5 peladas femininas semanalmente - Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

É noite de quarta-feira. Num clube de futebol society no bairro da Madalena, Recife (PE), começam a chegar mulheres, ocupando aquele ambiente majoritariamente masculino e chamando atenção de alguns curiosos que ainda não se acostumaram. Todas estão equipadas com chuteiras adequadas ao gramado sintético, algumas trajando meião. Os gritos da torcida do Sport, que a poucos metros de distância enfrenta o Flamengo, desconcentra algumas delas, que cogitaram ir ao jogo. Mas na noite de quarta-feira a pelada é sagrada.

Há mais de quatro anos as amigas se reúnem semanalmente para jogar. Já mudaram de local e, daquele grupo que iniciou, muitas saíram e muitas outras se somaram. O grupo, com idades entre 20 e 30 anos, conta hoje com mais de 20 mensalistas e quase 10 diaristas, que juntas pagam o aluguel do campo. Uma das mais antigas é Camila Sieber, 20 anos. “Uma amiga já jogava essa pelada antes de mim. Ela colocou no Facebook que estavam precisando de mais meninas. Eu fui, gostei e fiquei até hoje. Já faz 4 anos”, recorda a estudante de educação física. Ela já jogava futsal na escola quando iniciou na pelada. Hoje ela integra o time de quadra da UFPE.

A publicitária Paloma Immisch, 34, também tem histórico de prática esportiva. Dos tempos de escola até concluir a universidade, Immisch já competiu na natação, handebol e futsal. Quando entrou no mercado de trabalho, buscou seguir com a prática semanal e se aventurou no futevôlei. Mas se encontrou nos gramados society e joga, atualmente, três peladas semanais, nas noites de segunda, quarta e sexta-feira. “Não suporto academia, então busco esportes com bola, especialmente o futebol”. No clube há 5 grupos de peladas semanais de mulheres.

Diferentemente do “2 ou 10”, onde os times têm 10 minutos para marcar dois gols e se manter em campo até perder, as amigas preferem um formato menos competitivo e mais justo. O jogo tem 10 minutos e, na primeira partida da noite, o time que ganhar permanece para o segundo jogo. Mas a partir de então os times começam a se revezar, independente de quem vença. Cada time só joga duas partidas consecutivas, de modo que todos joguem o máximo de tempo.

Marília Galindo, 26, também é das “veteranas” na pelada. Ela, que mais nova praticava handebol, só jogava futebol com os primos. Mas avalia que ao longo desses 4 anos de pelada tem visto crescer os esses grupos de mulheres. “De uma forma ou de outra ainda nos olham com surpresa, seja com tom de crítica ou de incentivo. Acham estranho e sempre há um olhar diferente por sermos mulheres. Mas acho que cada vez mais temos nos consolidado”, diz a advogada.

Já a dentista Laís Couto, 25, é uma “novata” na pelada. Em novembro foi convidada por uma amiga para jogar nesse mesmo local, mas num horário mais tarde. “Mas era muito tarde, muita gente saiu e a pelada acabou. Mas como fiz amizade com as meninas que jogam mais cedo, entrei para esta pelada e estou desde janeiro”, relembra. Ela começou em novembro após um ano inteiro sem praticar exercícios. “Para a minha rotina está sendo ótimo, porque hoje tenho mais disposição. E um dos objetivos era queimar calorias. E estou tendo um ótimo retorno”, comemora.

Paloma Immisch conta que nas peladas que joga tem garotas ainda em idade escolar, mas a maioria é de adultas e já trabalha. “Os perfis são bem misturados. Algumas escolhem o futebol porque amam o esporte, outras escolhem jogar para queimar calorias ou ainda porque é um esporte que ajuda a modelar o corpo, pernas, abdômen”, conta a publicitária.

Mas, questionadas sobre, a postura dos homens diante dos jogos delas, as entrevistadas dizem não ter escutado críticas diretamente. “É nítido que existe muito preconceito, especialmente dos homens, por estarmos jogando futebol e ocupando um espaço que culturalmente pertence a eles. Mas no meu ciclo nunca passei por isso. Escuto muito incentivo, tanto de meninos como de meninas”, diz a estudante de educação física Camila Sieber.

Já Paloma Immisch diz ter vivido uma situação chata com crianças. “Um grupo de meninos de no máximo 7 anos ficou no alambrado, criticando as meninas e dizendo para as irmos para casa lavar prato e lavar roupa. Mas tiramos eles de lá e o pai se desculpou”, lembra. “Sabemos que eles escutaram isso em algum lugar e repassaram, mas nunca escutamos diretamente de adultos, só de crianças em formação”, avalia a publicitária.

Edição: Monyse Ravena