Em entrevista ao Brasil de Fato - PE, o senador Humberto Costa, líder do Partido dos Trabalhadores (PT) no Senado, fala sobre as consequências da reforma trabalhista, analisa a atual fragilidade do governo golpista de Michel Temer (PMDB) e a possibilidade de cassação do atual presidente pelo Congresso Nacional.
Para ele, Temer não tem mais força política para aprovar a reforma da Previdência. Quanto a reforma Trabalhista aprovada semana passada no Congresso Nacional, Costa acredita que a disputa agora se dá "na justiça e esperar que a gente possa eleger alguém no ano que vem ou neste ano que promova uma reconstituição do que foram os direitos trabalhistas no Brasil até hoje".
Confira a entrevista:
Brasil de Fato - A partir da sua perspectiva, de líder do PT no Senado, como foi a votação da Reforma Trabalhista?
Humberto Costa - Nós tentamos nos opor o tempo inteiro e a nossa visão é de que a Reforma é um grande prejuízo para os trabalhadores. Primeiro porque ela acontece em um momento muito difícil de recessão e desemprego e longe de ser um fator de geração de emprego. O que essa reforma faz é gerar subempregos.
Quem tem hoje um emprego mais qualificado com carteira assinada, certamente vai ser contratado por uma das outras formas que eles estão adotando daqui para frente. Além do mais várias dessas preposições implicam em redução da renda do trabalhador, redução das contribuições sociais para a previdência, por exemplo. É um desastre, mas tentamos nos opor a isso, fizemos a luta que era possível fazer, houve mobilização popular, mas não o suficiente para convencer os senadores.
De fato era uma matéria menos espinhosa para eles porque precisava só de uma maioria simples, mas mesmo assim eles tiveram muito além do que a gente estava esperando. Agora é a disputa na justiça e esperar que a gente possa eleger alguém no ano que vem ou neste ano que promova uma reconstituição do que foram os direitos trabalhistas no Brasil até hoje.
Qual a sua expectativa em torno da votação da denúncia contra Michel Temer no Congresso?
Se ficar apenas essa denúncia, é possível que ele consiga se safar, vai depender desses próximos 15 dias o que eles vão construir em termos de sustentação, da posição do PSDB que tem ficado em cima do muro fazendo acenos de que vai sair do governo, mas não sai.
Tudo isso vai pautar o que vai acontecer depois do recesso. Agora se o Ministério Público, de fato, apresentar mais de uma denúncia, eu acho que vai ser muito difícil um parlamentar votar várias vezes para salvar o pescoço de Temer e isso todos eles vão sentir agora nesse período do recesso, porque voltam para os estados, vão fazer reuniões, mas a minha expectativa, no primeiro momento, é que há um resultado indefinido.
Sobre o trâmite da votação da reforma da Previdência, qual o ritmo que deve ter?
Caso Michel Temer permaneça, acho que será muito difícil ele ter força política para aprovar a reforma da Previdência. Se ele permanece será como um presidente fragilizado e sem qualquer tipo de legitimidade; se, por acaso, ele sai e assume o Rodrigo Maia (DEM) ou alguém que seja eleito de forma indireta, vão tentar dar uma roupagem nova e acho que só nessa condição essa reforma andaria. Hoje no Senado e na Câmara não há número para aprovar a reforma da Previdência, porque nos dois casos é preciso três quintos de parlamentares, no caso do Senado, 49 senadores e na Câmara, 308 deputados.
Olhando para o cenário de Pernambuco, tivemos na última semana grande repercussão da tentativa do governo do Estado de privatização da Coopergás. Qual a sua opinião sobre isso?
Nós somos totalmente contrários a que isso aconteça. Esse é um setor estratégico, na área de infraestrutura, uma empresa saudável, que gera lucro e que pode, inclusive, trabalhar com subsídios para a população mais pobre. Pernambuco é um estado que tem um terreno muito fértil para utilização do gás natural e essa tentativa só se explica pelo desmonte que eles estão promovendo na Petrobras e a exigência que fazem para os estados também fazerem isso para poder renegociar as suas dívidas e convalidar os incentivos fiscais.
Falando do cenário eleitoral de 2018, você já tem proposição de candidatura?
Em princípio eu quero ser candidato a senador. Eu acho que estou fazendo um bom mandato. Esses anos não foram fáceis e eu cumpri um papel muito difícil que foi o de ser líder do governo Dilma em um momento em que vivemos muitas dificuldades. Portanto, isso gera algum tipo de dificuldade, mas eu acho que de modo geral meu mandato tem um reconhecimento da população e eu espero voltar a ser candidato. Agora, eu não sou candidato de mim mesmo, o Partido vai discutir de que maneira eu vou ajudar mais e se o Partido considerar que eu ajudo mais em outra condição, eu vou avaliar se vale a pena ou não, mas em princípio vou para o Senado.
Qual sua opinião sobre a possibilidade de o PT de Pernambuco ter candidatura própria ao governo do estado? Cita-se o nome de Marília Arraes, por exemplo.
Se a eleição fosse hoje, eu acho que a tendência é que nós tivéssemos candidatura própria. É verdade que ainda muita água vai rolar... Se Lula for candidato a Presidente muita gente vai ter interesse de estar junto conosco, se ele não for, nós vamos ter que construir nosso caminho sozinhos, mas a probabilidade de a gente ter uma candidatura própria é grande. Precisamos definir isso sem muita delonga, para não perder espaço. Alguns nomes foram apresentados, o nome de Marília Arraes é um bom nome, existem outras pessoas do partido que podem dar essa contribuição também.
É possível uma eleição sem Lula?
Eu acho que uma condenação de Lula que o impeça de ser candidato é na verdade uma cassação do voto de uma parcela significativa do eleitorado brasileiro. São milhões de pessoas que querem votar em Lula, sabem que ele é o melhor candidato, é ele que pode nos ajudar a sair dessa crise.
Edição: Monyse Ravena