Pernambuco

Golpe

Beatriz Cerqueira: “A Medida Provisória 746 foi o início de uma reforma na educação"

As Reformas da Educação, da Previdência e a Trabalhista e os impactos para o povo são os principais temas da entrevista

Brasil de Fato | Caruaru (PE) |
A entrevista foi concedida durante o Congresso da CUT-PE
A entrevista foi concedida durante o Congresso da CUT-PE - Vinicius Sobreira

Em entrevista ao Brasil de Fato, Beatriz Cerqueira, da Central Única dos Trabalhadores Minas Gerais (CUT/MG), fala sobre os impactos das reformas do governo não eleito Michel Temer na vida da população, em especial como vai atingir a vida das mulheres e dos mais pobres. Ela reforça também que só a luta e a unidade podem impedir mais avanços que ataquem os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. A entrevista foi concedida no mês de julho, durante o Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores em Pernambuco (CUT-PE), em Caruaru (PE).

Brasil de Fato: Nós temos passado no país por algumas mudanças estruturais. Que mudanças são essas?

Beatriz Cerqueira: O golpe de Estado, o que nós estamos vivendo, de ter o Michel Temer como Presidente da República tem um objetivo muito maior, que não tem nada a ver com o combate à corrupção, com briga de partido político, com o que a imprensa tenta fazer com a população. Michel Temer se tornou presidente para que ele pudesse ser um instrumento para implementar um novo Estado brasileiro, um Estado que não nos cabe. Não cabe para a maioria da população, quem precisa de educação, quem precisa de saúde, quem precisa dos serviços do Estado brasileiro.

A reforma trabalhista, a reforma da previdência, o congelamento dos investimentos por 20 anos, tudo isso que a gente está vendo é a constituição de um novo Estado brasileiro. De menos direitos, de menos saúde, de menos assistência social, de não ter direito a aposentar, de não ter direito a carteira assinada, é isso que nós estamos enfrentando.

Você afirmou aqui no congresso que a reforma do Ensino Médio é verdadeiramente uma reforma da educação. Como você nota isso?

A Medida Provisória 746 não foi uma reforma do Ensino Médio como tentou se passar, foi o início de uma reforma na educação. Que reforma é essa? Para o filho do trabalhador, a educação é rápida pra que ele estude qualquer coisa e vá para o mercado de trabalho. Para quem tem tempo, não precisa trabalhar e pode pagar, um estudo a longo prazo. Nós estamos falando da classe dos ricos. É isso que significa a reforma do Ensino Médio e, junto com isso, a desprofissionalização docente. Significa dizer que você não precisa ser professor para estar numa sala de aula, não precisa de concurso público e também não precisa de carreira. Então destrói a profissão docente além de fazer essa divisão de classes, da educação para os pobres e da educação para os ricos. É isso que a reforma do Ensino Médio significou.

BdF: Diante dessa avalanche de reformas, como você visualiza o peso da reforma trabalhista sobre as mulheres?

Quem mais vai pagar a conta de tudo isso que está acontecendo é a mulher. Porque na demissão, a mulher é demitida primeiro; na questão salarial, o salário da mulher é menor; na carreira, a mulher demora mais a ser promovida; na informalidade, as mulheres estão em maior número; nos benefícios previdenciários, a mulher está em maior número: seja nos benefícios de prestação continuada, de pensão por morte, nas aposentadorias por idade ou tempo de serviço, os benefícios são para as mulheres em sua maioria.

Então, é uma reforma que ataca todo mundo, mas ataca estruturalmente as mulheres. Isso tudo aumentará porque o Estado deixará de prestar a assistência que presta atualmente com o congelamento dos investimentos por 20 anos. E quando você tira uma presidenta da República da forma que a Dilma foi retirada também é um recado, né? “Mulher não serve para o espaço público, volte pra casa!” O ataque às mulheres, a questão da violência sexual, física, moral, da negação das mulheres no espaço de poder, das piadas, da misoginia. Isso também se agrava no momento que nós estamos enfrentando, então, quando não há democracia, não se avança em direitos e fundamentalmente as mulheres sofrem muito mais com tudo isso.

Apesar da reforma da previdência não ter sido votada, como você analisa as últimas mudanças na Previdência Social?

No dia seguinte ao assumir a presidência, Michel Temer iniciou uma reforma. Ele acabou com o Ministério da Previdência Social, ele começou a rever benefícios como licença-saúde, aposentadorias por invalidez e benefícios de prestação continuada, ou seja, atingindo a classe mais pobre da população.

E ele não conseguiu aprovar a reforma da previdência pela nossa resistência, pela nossa capacidade de compreensão da reforma, de diálogo com a população e de pressão na base dos deputados. Nós precisamos ficar muito atentos porque ele pode, na impossibilidade de aprovar a reforma da previdência, trabalhar com um plano B, criando projetos de lei que atacam alguns benefícios, inclusive uma reforma tributária, que retiraria a vinculação de vários impostos à seguridade social.

A seguridade social é um setor que se ouve falar muito pouco e que também está em risco, podendo sofrer reformas...

Isso. Quem hoje está sofrendo com as reformas são as pessoas que têm sido invisibilizadas na sociedade. Hoje são 15 milhões de pessoas desempregadas. Quem as representa? Elas não estão vinculadas a um sindicato, elas não contribuem, elas não participam de uma Assembleia.

Na medida em que elas perdem o emprego, elas se tornam invisíveis na sociedade. Isso é muito grave. São pessoas que hoje passam fome, são pessoas que hoje não conseguem cumprir uma obrigação básica que é pagar uma conta de água ou energia, até a população de rua aumenta. É um cenário de muita dificuldade para a classe trabalhadora, pra quem é pobre e exatamente por isso a gente tem que reforçar a unidade e a luta pra impedir tudo isso.

Edição: Monyse Ravena