Viva é um filme realizado a partir de uma coprodução entre Cuba e Irlanda e narra a trajetória do jovem cabeleireiro Jesús (Hector Medina) na afirmação de sua identidade como drag queen e a superação de uma traumática relação com seu pai, o ex-pugilista Ángel (Jorge Perugorria), que reaparece em sua vida depois de 15 anos de prisão.
O diretor irlandês Paddy Breathnach consegue abordar de forma muito delicada o despertar de Jesús para o universo drag queen, num belíssimo trabalho de interpretação e sobretudo de corpo do jovem ator cubano que defende este personagem. O diretor coloca este universo em contraponto com os estereótipos cristalizados de masculinidade de uma sociedade machista, retratado a partir do universo do boxe, representado pelo pai. Breathnach também consegue se afastar do retrato caricatural do universo das drag queens, bem como de olhares simplórios sobre a latinidade e retrata uma Havana tanto visceral quanto universal.
Parte da beleza do filme está na escolha dos realizadores de não abordar essa relação de pai e filho de forma melodramática. Não existe bem ou mal. São dois homens com sonhos e expectativas que criaram para si e para o outro. O conflito que começa violento vai se encaminhando para uma recostura de laços entre os dois, que pode ser vista como metáfora de uma sociedade que precisa se livrar do machismo que oprime e violenta as pessoas.
Bons personagens secundários também se somam à jornada de Jesús, destaque para a atuação de Luis Alberto Garcia como Mama, mentora drag que auxilia o jovem no seu surgimento como Viva, num grito intenso e amplificado em nome da liberdade de ser, tão dura de se alcançar nos nossos dias.
*Cássio Uchoa, radialista da Rádio Universitária FM.
Edição: Monyse Ravena