Quem anda de ônibus na Região Metropolitana do Recife vive dificuldades: tempo de espera elevado, superlotação, poucas opções de linhas e insegurança, com riscos de assédios, assaltos e acidentes. Além disso, pagamos caro por um serviço ruim e o tão falado direito de ir e vir fica restrito para quem tem condições de pagar a passagem ou para aqueles que embarcam de forma “irregular”.
Precisamos compreender o transporte público como um direito social. Ele garante o acesso a outros direitos como educação, saúde, trabalho e lazer. É fundamental para a classe trabalhadora se locomover para o trabalho, procurar emprego, acessar serviços de saúde, ir à escola, parques ou museus. Para atender a essas necessidades, é preciso que ele seja acessível, seguro e de qualidade.
A Urbana-PE (Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco) criou a campanha “Faça o Certo”. Ela culpa uma minoria, que não tem condições de pagar o alto valor da passagem, pela lotação e preços elevados. Os empresários alegam que o embarque irregular não permite oferecer uma quantidade adequada de veículos e que a conta desses usuários que não pagam é repassada para o valor total da tarifa.
Se a qualidade é ruim e o preço é elevado por conta do que os empresários julgam como um “mau comportamento da população”, cabe a Urbana-PE, ao Consórcio Grande Recife e ao Governo do Estado prestarem contas à sociedade. Esta tem o direito de saber o quanto lucram as empresas através da bilhetagem, o quanto de dinheiro público/isenção de impostos é destinado ao setor e o quanto se ganha com publicidade nos espaços dos ônibus.
A campanha “Faça o Certo” reflete a pior face do empresariado, que em períodos de crise retiram da classe trabalhadora tudo o que podem para manter e ampliar as suas margens de lucro. Isso se expressa na precarização das condições de trabalho e salários dos rodoviários e no valor da tarifa com a péssima qualidade do transporte público. Eles lucram com a necessidade do povo se locomover e estimulam a denúncia daqueles que, para eles, “fazem a coisa errada”. Mas o certo é agir com transparência e respeito aos usuários e não transferir a responsabilidade para a população.
*Marcones Oliveira é geógrafo e militante da Consulta Popular.
Edição: Catarina de Angola