Desde o mês de maio os trabalhadores da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) observam com mais atenção os movimentos do governador Paulo Camara (PSB) e do vice-governador e Secretário de Desenvolvimento Econômico, Raul Henry (PMDB). Isso porque, num momento em que o Governo Federal estimula a privatização de estatais, Camara e Henry firmaram acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para “planejar e estruturar ações futuras” da empresa, como adiantado pelo Brasil de Fato Pernambuco em nossa edição nº 30, no último mês de julho.
Além de atuar com um recurso fundamental para o desenvolvimento econômico do estado, que é o gás natural, a Copergás também tem apresentado lucros crescentes: R$ 30,6 milhões em 2014; R$ 50,7 milhões em 2015; e R$ 70,9 milhões em 2016. As perspectivas são só de avanços pelos próximos 10 anos. Entre os combustíveis fósseis, o gás é o menos poluente. Então seu uso é estratégico na busca por uma matriz energética limpa. Hoje a empresa produz um volume médio superior a 4,8 milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo a 4ª maior empresa do mercado brasileiro de movimentação de gás natural.
Em defesa da empresa estatal, seus trabalhadores têm se manifestado sempre que possível contra a possível privatização e cobrado do governador uma posição definida em relação à Companhia. “Na Bahia o governador já disse publicamente que não vai privatizar a Bahiagás. Mas o governador de Pernambuco não se posiciona”, reclama Rogério Almeida, da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Ele e outros sindicalistas estiveram presentes na audiência pública realizada no último dia 6 de novembro, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), quando deputados estaduais e população puderam debater a situação da Copergás. Além de parlamentares, estiveram presentes membros da direção da empresa, trabalhadores e representações sindicais.
Na ocasião, surpreendeu a posição dos aliados de Paulo Camara, todos se posicionando contra a privatização da Copergás. O vice-líder do governo na Alepe, deputado Rodrigo Novaes (PSD), pontuou que “não está clara a intenção por parte do governo”, mas que o deputado é “contrário à privatização da Copergás em qualquer circunstância”. “E tenho a mesma posição em relação à Chesf. Mesmo países como Estados Unidos e Canadá, que são liberais, eles não abrem mão de suas fontes de energia”, afirmou.
A posição foi reforçada por Aloísio Lessa (PSB). “Sou economista de formação e integro a comissão de Desenvolvimento Econômico. Se vier uma proposta dessas serei contra. E tenho certeza que a Copergás não está no radar de privatização do governo”. O líder do governo na Alepe, Isaltino Nascimento (PSB), disse que “não tem ambiente de privatização. Não será o destino da Copergás”. Ele usou os bons resultados da empresa para afirmar o “compromisso do governo, que não tem nenhum tipo de ação no sentido de entregar ou de vender a empresa”. Mas, questionado se a privatização está mesmo descartada, Isaltino se esquiva afirmando que “é uma discussão que não está posta, está fora da pauta”.
No entanto, no fim de setembro, tanto o governador Paulo Camara como o vice Raul Henry deram declarações em que admitem a possibilidade de privatização. “Temos que ter a consciência de que privatizar pode ocorrer”, admitiu o governador ao Jornal do Commercio. “Mas não podemos vender o patrimônio público só para tapar o rombo”, ponderou, se referindo à situação econômica do estado. Antes de ser eleito, Camara geriu, de 2011 a 2014, a Secretaria da Fazenda, responsável pelas finanças do Governo de Pernambuco. À frente da pasta de Desenvolvimento Econômico, o vice-governador Raul Henry (PMDB) afirmou ao JC que o BNDES “está avaliando as vantagens e desvantagens de privatizar”. “Ou vender as ações pertencentes ao estado, ou vender parte, ou não vender”, pontuou. Nenhum dos dois esteve presente na audiência pública.
A Copergás é uma empresa de economia mista, cujos sócios são o Governo do Estado de Pernambuco (detentor de 51%), a Petrobras Gás S.A. - Gaspetro (24,5%) e a multinacional japonesa Mitsui Gás e Energia (24,5%). Por ser majoritário, o governo tem maior controle sobre a companhia, que é vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.
Representando a direção da Copergás na audiência, o assessor institucional Marcelo Barradas e a gerente financeira Isabela Santana reafirmaram os bons números da empresa, que espera alcançar os 31 mil clientes – entre empresas e residenciais – até o fim de 2017. “A privatização não é um assunto que estamos discutindo dentro da Copergás. Não faz parte do nosso dia a dia. A nossa agenda é técnica, pensando na gestão da empresa e expansão da rede de gás para todo o estado”, disse Barradas.
Escolhido pelos trabalhadores da Copergás para representa-los no Sindicato dos Petroleiros, Thiago Gomes também se pronunciou durante a audiência pública. “A finalidade da Copergás é o desenvolvimento econômico e social de Pernambuco. Mas o ente privado quer lucro. Que empresa privada faria um ramal que só vai começar a dar lucro após 10 ou 15 anos?”, provocou o trabalhador. Gomes destacou ainda que a Copergás nas mãos do governo foi fundamental para o último ciclo de desenvolvimento do estado. “Tem muita empresa que nunca teria vindo para Pernambuco se não fosse a Copergás. Foi a Copergás que trouxe empregos para fazer Pernambuco mais forte”, afirmou Gomes. Entre as 96 empresas que compram gás da Copergás estão a Petroquímica Suape, Gerdau, Alcoa, Jeep, entre outras.
A deputada Teresa Leitão (PT) gostou de ouvir os posicionamentos dos liados de Paulo Camara, mas avisou que ainda tem muitos motivos para ficarem atentos às movimentações em torno da Copergás. “Os movimentos feitos pelo governo do Estado em relação à máquina pública não são de preservação. A nossa vigilância tem que continuar”. Durante a audiência ficou encaminhado dois novos momentos para discutir o tema: uma audiência entre deputados e o governador e a convocação do vice e secretário Raul Henry para uma reunião da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa.
Criada por lei em 1992, a Copergás entrou em operação dois anos depois, funcionando através da rede de gasodutos herdada da Petrobras - e posteriormente ampliada a partir de 1998, com a missão de distribuir gás natural com sustentabilidade em todo o estado de Pernambuco. Hoje a empresa odoriza, canaliza e distribui o gás natural no estado de Pernambuco, atendendo os mercados industrial, residencial, comercial, termoelétrico, de cogeração de energia e à Refinaria Abreu e Lima. A população consome esse gás nos automóveis (o GNV) e alguns bairros da Zona Sul do Recife já pode receber o gás de cozinha através de canos - a empresa tem planos para, ainda no início de 2018, levar o gás até a Zona Norte. Já as indústrias utilizam o gás natural como fonte de energia para as máquinas.
Edição: Monyse Ravena