O Filósofo Santo Agostinho escreveu certa vez que vivemos sempre no tempo presente, mas que esse presente tem três dimensões: vivemos simultaneamente o presente das coisas presentes, o presente das coisas passadas e o presente das coisas futuras. É que nossas ações vão redefinindo também nossa memória do passado. Ao mesmo tempo vão forjando o futuro de cada passo que damos hoje. Talvez nenhuma outra época represente tão bem essa confraternização do tempo quanto as festas de fim de ano. É onde nosso povo tem algum descanso para visitar a memória do que já viveu e olhar para o futuro em busca de tempos melhores. É o momento onde o passado redesenhado encontra o futuro sonhado e o abraça. É tempo de renovar as esperanças e adentrar o novo ano com orgulho do tempo vivido.
Se isso é verdade para cada um de nós, o é ainda mais para a luta dos povos. Estes disputam cotidianamente a memória do passado que nos foi contada pelos vencedores, se organizam no presente para desenhar no horizonte um tempo de libertação futura.
O ano de 2017 sem dúvida trouxe fantasmas do nosso passado: a ganância de nossas elites e sua tão velha habilidade em utilizar o Estado como o escritório da Casa Grande; o poder do dinheiro vindo de fora para comprar nossas riquezas e controlar os destinos da nação; a democracia de fachada para encobrir o autoritarismo dos dominantes. A ousadia dos poderosos em vender o patrimônio nacional, retirar direitos conquistados desde 1988, ameaçar o direito à aposentadoria se deu, contudo, em um ano de muita resistência do povo brasileiro. É certo que foi um ano de derrotas para a classe trabalhadora. Mas a experiência acumulada na resistência faz também ressurgir o passado de rebeldia e criatividade do povo brasileiro: a coragem dos negros e negras fujões de palmares, a inquebrantável resistência de canudos enfrentando a matadeira, de Carlos Marighella gingando capoeira diante de seus perseguidores, das greves do ABC paulista e do líder operário que ousaria ocupar a cadeira de presidente. Esse retorno do passado tem uma função pedagógica ao nos colocar diante da crise de destino característica de nossa história: a nação e a democracia só poderão existir se conduzidas pelo povo brasileiro.
Diante desse desafio, como olhar para o futuro? Que planos podemos fazer para 2018?
Este jornal não pode desejar ao leitor outra coisa para 2018 senão coragem e alegria de seguir lutando! Se tem uma coisa que aprendemos nesse dois anos com o povo pernambucano é que existem em cada praça, local de trabalho, ônibus lotado, bairros e favelas desse estado muito mais criatividade e rebeldia do que os inimigos do povo podem imaginar. Aprendemos que é na capacidade de nosso povo viver e resistir a barbárie que podemos encontrar a energia capaz de produzir o mundo novo. O dom de despertar no passado a centelha da esperança é um privilégio daqueles que podem ser acolhidos por essa energia criativa das lutas populares! Que venha mais um ano de muita luta, alegria e resistência!
Boas Festas e Feliz 2018!
Edição: Monyse Ravena