“Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. (...) para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos”. Em nosso tempo, está coberto de sentido o que nos deixou escrito o pernambucano João Cabral de Melo Neto em seu poema. Neste novo de 2018, as disputas políticas que se avizinham polarizarão ainda mais a sociedade brasileira com importantes embates que exigirão dos trabalhadores e trabalhadoras junto aos movimentos sociais, partidos políticos de esquerda e demais organizações populares o desafio de seguir nas lutas unitárias para derrotar o golpe, suas reformas, e restabelecer a democracia.
É verdade que no último ano vivenciamos uma correlação de forças desfavorável. O avanço da burguesia conservadora e de seu projeto antipopular e neoliberal, marcado por diversos retrocessos no que se refere aos direitos do povo brasileiro como a reforma trabalhista e os cortes nas políticas públicas de educação e saúde, nos levaram a atrasos sociais sem precedentes. Mas, apesar da força dos golpistas, a classe trabalhadora também deu grandes demonstrações da sua força. As populações negra, indígena, LGBT, mulheres e jovens, também foram tecendo nas ruas uma nova manhã.
Já nesse mês de janeiro, as lutas em defesa da democracia e da participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018 serão realizadas em todas as capitais do país. As possíveis consequências do julgamento de Lula (tais como a sua prisão e inelegibilidade), que será realizado no próximo dia 24, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre (RS), expressam claramente a continuidade do golpe que não tem titubeado em fraudar as instituições democráticas.
Também bate na porta das lutas do povo o combate à “Reforma” da Previdência. Está marcada para o dia 19 de fevereiro a primeira sessão na Câmara dos Deputados que votará a Proposta de Emenda Constitucional 287 (PEC – 287). Enquanto isso, o governo ilegítimo de Michel Temer segue na barganha de gabinete em gabinete de deputados para garantir os votos de aprovação do seu projeto, que retira direitos dos trabalhadores e trabalhadoras beneficiários do sistema.
Com a certeza que não haverá transformações estruturais no país que melhorem as condições de vida do povo sem uma profunda participação organizada das classes populares, será realizado, ainda este ano, o primeiro Congresso do Povo Brasileiro que contará com a presença de mais de 100 mil pessoas, construindo com as suas próprias mãos um projeto que busque o desenvolvimento do Brasil, a valorização do trabalho, a soberania nacional, a reversão dos retrocessos nas políticas de combate ao racismo e ao machismo, entre outras pautas.
Em 2018, “os fios de sol de seus gritos de galo” como na preciosa poesia de Cabral, tecerão “(a manhã) que plana livre de armação” e, pelas vozes do povo esta nova manhã será cantada/anunciada.
Edição: Monyse Ravena