Pernambuco

Socialismo

"A solidariedade internacional é um pilar da nossa identidade", afirma cônsul de Cuba

Laura Pujol, cônsul cubana para o Nordeste, concedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Pernambuco

Recife (PE) |
"Estamos submetidos a uma situação de agressão permanente, mas a vocação do povo cubano é a solidariedade" afirma Laura
"Estamos submetidos a uma situação de agressão permanente, mas a vocação do povo cubano é a solidariedade" afirma Laura - PH Reinaux

De passagem pelo estado de Pernambuco, Laura Pujol, cônsul geral de Cuba para o Nordeste, esteve em visita à redação e concedeu entrevista ao Brasil de Fato. Na conversa, ela falou sobre a expectativa do povo cubano com as eleições presidenciais que aconteceram esta semana e elegeram Miguel Díaz-Canel como novo presidente, e refletiu sobre os legados que a Revolução Cubana transmitiu ao seu povo ao longo desses quase 60 anos. 

Brasil de Fato – Quais são as expectativas com as eleições em Cuba e com a saída de Raúl Castro? 

Laura Pujol – Existe uma expectativa em relação à mudança de governo em Cuba, o que é natural, é resultado do nosso processo político que leva a eleições presidenciais a cada cinco anos. 52% dos candidatos foram eleitos pela primeira vez como deputados da Assembleia Nacional do Poder Popular. Temos 54% de mulheres no parlamento, mais de 300 deputadas, é realmente uma coisa que nos orgulha muito ter conseguido. Um resultado da inclusão e da representatividade da mulher cubana para a força trabalhadora, a força diretiva do país, e, certamente, isso se espelha no parlamento. O parlamento cubano é realmente um parlamento jovem, muito diverso, com muitas representações de diversos setores da sociedade e tem uma tarefa histórica. Vai ser o primeiro parlamento em que o presidente da casa não vai ser uma pessoa da história da revolução, será uma renovação que é necessária e também inevitável pela própria passagem do tempo. 


E agora, em 2019, se completam 60 anos da revolução cubana. Que legados a revolução tem deixado para o povo cubano?

Mais de 70% da população de Cuba nasceu após a revolução, então nós temos já uma realidade na qual estamos falando de um legado importante na memória histórica da nação cubana e realmente um momento onde se cristalizou a nacionalidade cubana. Já temos então uma história de estar acostumados e de saber que somos sujeitos de direitos humanos elementares, como o fato de ter acesso a uma atenção integrada de saúde de primeiro nível, somente por ter nascido, sem ter que me preocupar em ter ou não dinheiro ou ter depois que dividir em inúmeras parcelas o valor do plano de saúde. O fato de ser o povo cubano o dono dos principais meios de produção, dono das principais instalações, nos dá um poder, nos dá uma consciência da importância de preservar isso que nós temos. Por isso é tão difícil destruir a Revolução, porque qualquer país tem problemas, qualquer país tem coisas que não dão certo, que tem que ser superadas e melhoradas, mas quando você vai fazer qualquer análise, você começa a análise pensando ‘o que eu não quero perder’. 

Cuba é um exemplo de solidariedade a outros países em situações como catástrofes, e outras situações também, e mais recente com o caso da Síria...

Estamos submetidos sim a uma situação de confronto e de agressão permanentemente, mas a vocação do povo cubano é a da solidariedade. Isso não é uma coisa nova, nem é uma coisa que tenha sido exclusiva do processo revolucionário. Desde o início das guerras emancipatórias cubanas se evidenciou uma vocação solidária na própria identidade nacional do cubano. São exemplos antigos, mas que dão uma ideia de que essa é uma questão de vital importância dentro da identidade do cubano e, é claro, potencializado pelo fato de ser um país socialista, de ter uma Revolução Socialista, onde a solidariedade internacional é um dos pilares de nossa identidade como nação e como povo. Se tem um terremoto a pessoa doa sangue, se tem uma situação de uma catástrofe natural mandamos uma brigada médica, e agora recentemente, com a agressão criminosa do imperialismo norte-americano contra o povo sírio, não podíamos fazer de forma diferente de como sempre fazemos. 

Sobre a importância da comunicação para a população e para os trabalhadores...

Sabe-se o que está acontecendo na Síria, no Vietnã, agora neste minuto nos Estados Unidos, mas provavelmente você não sabe o que está acontecendo no seu bairro. Por isso nós, em Cuba, criamos um sistema de transmissão local, ou seja, de emissoras locais que transmitem todos os dias notícias da localidade, seja município ou província, seja por televisão ou pela rádio comunitária que é muito importante. O rádio é um veículo muito útil, sobretudo aqui em Pernambuco, imagino, porque tem uns engarrafamentos (risos), tem que escutar muita rádio. Em geral as pessoas escutam ainda muito rádio, é um veículo que não deve ser preterido em relação às novas tecnologias, sites, blogs, redes sociais, a geração de conteúdos curtos. Existe muita superficialidade e, então, vocês devem fugir disso. 

Edição: Catarina de Angola