Pernambuco

COMUNICAÇÃO

No agreste pernambucano, radioweb em assentamento do MST amplia direito à comunicação

Radioweb Normandia, lançada no último 1º de maio, divulga informações e análises sobre política e reforma agrária

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Oficina de rádio no Centro de Formação Paulo Freire, no Assentamento Normandia, em Caruaru (PE)
Oficina de rádio no Centro de Formação Paulo Freire, no Assentamento Normandia, em Caruaru (PE) - Francisco Terto

Falar e ouvir rádio ou, então, produzir e colher num pedaço de terra são duas situações que se unem a partir dos dados e reflexões sobre a falta de democratização. Ao longo dos séculos, no Brasil, a balança permanece desigual, medindo muitos privilégios para poucos e poucos direitos para muitos. No contexto contemporâneo, é preciso avançar no que se refere à consagração constitucional das funções sociais da terra e da comunicação.

Em abril de 2018, a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras elencou o Brasil como 102º (de um total de 180) no ranking mundial sobre liberdade de imprensa. Um dos motivos alegados pela colocação do país foi o fato do controle da mídia estar concentrado na mão de poucas famílias. Mais especificamente, movimentos populares denunciam que apenas oito sobrenomes são “donos” da maioria das concessões de rádio e televisão no Brasil.

Na questão agrária, a luta secular contra a concentração de terras entrou em estagnação com o governo sem votos de Michel Temer (MDB). Por exemplo, se em 2015 foram destinados R$ 800 milhões para desapropriações, a previsão para 2018 é de 34, 2 milhões. Um corte de 86,7 %. O cenário no campo ficou ainda mais difícil nos últimos dois anos com o aumento gradativo dos registros de casos de violência. Para termos uma ideia, no ano passado, 70 pessoas foram mortas em conflitos agrários. O aumento em relação a 2016 é de 15%.

É neste cenário que nasce a Radioweb Normandia, em Caruaru, no agreste pernambucano. A experiência segue ainda em caráter experimental, desde o 1º de maio, no assentamento Normandia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “A ideia da construção da Radioweb Normandia está agregada a um contexto maior, que é na perspectiva de construir hegemonia, disputar ideias. Através de uma linguagem didática, pedagógica e social, produzir informações e formação no sentido crítico sobre os principais fatos e acontecimentos da política e também na reforma agrária”, explica Francisco Terto, da Direção Estadual do MST em Pernambuco.

O processo de construção da Radioweb Normandia contou com um encontro, realizado nos dias 25, 26 e 27 de abril, na sede da rádio em Caruaru. A troca de conhecimentos foi facilitada pela Mestre TC, da Casa Tainã de Cultura, sediada em Campinas (SP). O Brasil de Fato Pernambuco, Rádio Aconchego, do Recife (PE), Coco de Umbigada, de Olinda (PE) e comunicadores e comunicadoras dos municípios de Caruaru e Santa Maria da Boa Vista, no sertão do São Francisco, também participaram do encontro.

A professora Glauce Gouveia, da Frente de Educação Popular, também compartilhou experiências e sonhos para a longa vida da Radioweb Normandia: “por uma comunicação livre, democrática, em tempos tão difíceis como este que a gente está vivendo. Então construir uma comunicação com estratégias de resistência e de luta tem outro sentido. Quando você vai para a prática, para a pegada mesmo, faz uma diferença muito grande”.

Para ouvir a transmissão da Radioweb Normandia, em caráter experimental, é preciso digitar o seguinte endereço: orelha.radiolivre.org/radionormandia

Edição: Monyse Ravenna