O domingo amanheceu chuvoso, sugerindo que assistir ao jogo do Brasil na rua não era uma ideia tão boa assim. A organização da palhoça ficou para mais tarde do que o habitual. Pareceu até com o movimento que foi enfeitar a rua para copa, um pouco tardio, mas cheio de significados. Entretanto, os vizinhos da rua João Figueiredo Maia, no bairro de Ouro Preto,em Olinda, desde cedo demonstravam ansiedade e animação para a estreia da seleção brasileira da Copa do Mundo da Rússia. E escolheram a rua e a união para torcer pela seleção Canarinha.
Além da chuva, a preocupação era com a televisão. Buscaram pelas casas alguém que tivesse um projetor, porque a ideia era ter um telão. Não conseguiram, mas também não desanimaram. Trataram logo de fazer para proteção para a TV e logo organizaram o arraial.Enquanto tocavam músicas de copas passadas, as pessoas se reversavam em arrumar também a mesa de comidas, que foi composta pelas contribuições de quem chegava. E chegou caranguejo, arrumadinho, vinagrete e farofa. No isopor, refrigerante para as crianças e muita cerveja para os adultos. Estava tudo pronto para o jogo começar.
Eufóricos com a vitória do México contra a Alemanha, país responsável pelo famoso 7x1 contra o Brasil na Copa passada, os vizinhos vestidos em verde, amarelo e azul conversavam sobre a expectativa de ver Neymar e sua turma entrar em campo. O jogo começou com muitas brincadeiras, gritos, fogos e muita partilha. Até que veio o primeiro gol, muita comemoração. Começou o segundo tempo e os torcedores que se conhecem há décadas começaram a ficar nervosos com o desenrolar da partida e mais ainda quando a Suiça fez um gol. Os insultos contra o juiz mexicano Cesar Ramos, cada vez tomava mais força.
A tristeza pelo empate só era percebida nas falas posteriores, porque o clima de confraternização e festa continuou, mesmo após o juiz apitar o fim da partida. Ali era o início de uma copa do mundo para os brasileiros com um empate com gosto de derrota, mas que promete muitos bons encontros, conversas e alegrias. Para Socorro Correia, 75 anos, é muito importante o processo de organização e união dos vizinhos. Ela que já soma cerce de 10 copas morando na mesma casa, ressalta o quanto aquele momento estava sendo agregador. “Fizemos a nossa parte: reunimos, trabalhamos, enfeitamos, juntamos, nos abraçamos e assistimos. Ficou o coração com a esperança pela lembrança de copas com Romário, Bebeto, Rivelino, Pelé. Quanta história bonita o Brasil tem pra contar. Aqui tem divergência, como em todo canto, mas a gente releva porque o que é bom mesmo é torcer pelo Brasil, juntos. A gente queria juntar, para poder dar força e energia, porque se todo mundo colocar a mesma energia naquilo ali, a gente consegue”, conta.
Simone Adélia, 40 anos, gosta muito de futebol e acompanha as Copas desde os 14 anos de idade. Ela não mora mais na rua João Figueiredo Maia, mas escolheu lá para assistir a estreia do Brasil na Copa. “Eu gosto de mais dessa confraternização que juntam todos os vizinhos, de colocar a mesa no meio da rua, que cada um traz uma besteirinha de casa. É isso que faz a força, com a energia boa de cada um”, afirma. Já Rodrigo Jorge, 36 anos, é morador desde a infância conta que a união dos vizinhos é antiga, mas que precisa ser incentivada todos os anos.” O Brasil hoje não deu muita sorte, mas o que importa é que a comunidade está unida e a gente comemora o jogo ganhando ou perdendo”, diz. E foi exatamente isso que aconteceu, o arraial da rua João Figueiredo Maia continuou até muitas horas depois do jogo.
Edição: Monyse Ravenna