“Noventa milhões em ação. Pra frente Brasil do meu coração”. É com esta introdução que começa uma das mais famosas músicas relacionadas ao futebol em nosso país. Trata-se, na realidade, de uma canção gravada em homenagem à seleção brasileira de 1970, ano que viemos a conquistar o tricampeonato mundial disputado no México.
De lá para cá, o que pudemos acompanhar foi que este esporte seguiu se popularizando e, não à toa, somos reconhecidos hoje em dia como o país do futebol. Na verdade, não se sabe bem a certo quando, de fato, passamos a ser considerados como o país do futebol. Se na década de 1950, após a Copa do Mundo no Brasil, na década de 1970, com a conquista do tricampeonato, ou com o grande êxodo dos nossos jogadores para o mercado mundial já a partir da década de 1990. O fato é que não dá para escapar deste título.
Porém, apontar a importância do futebol para o nosso povo não nos impede de conhecer a realidade na qual estamos inseridos e para onde precisamos caminhar. A começar pelo próprio futebol, o lado glamouroso dos altíssimos salários contrasta necessariamente com uma realidade dura para a maioria dos jogadores. Números aproximados apontam que 82% dos jogadores brasileiros recebem até R$ 1000,00 por mês. Junte-se a isso a todos os mandos e desmandos de dirigentes de clubes e federações no Brasil que não demonstram possuir a mínima preocupação com as torcidas e seus interesses.
Somados a estes problemas, temos também a tentativa de elitização do esporte no Brasil. A passos largos, temos acompanhado esta grande investida, que tenta tornar o futebol um produto cada vez mais caro e de poucos. Afinal, que outra justificativa poderíamos ter para em um país com salário mínimo de R$ 954,00, encontrarmos camisas de clubes com valores por volta de R$ 250,00? Ou até mesmo ingressos para partidas que chegam a custar por volta de R$ 100,00?
Pois bem. Poderíamos listar inúmeras situações que apontam para os problemas hoje presentes no futebol em nosso país. Mas, o povo brasileiro insiste em gostar de futebol. Ainda bem. Torcer pela seleção brasileira não significa torcer pela CBF ou por seus corruptos cartolas. Assim como quando torcemos por nossos clubes de futebol não estão torcendo por seus dirigentes. Extrapolando um pouco o futebol, podemos também dizer que torcer, vibrar e se emocionar com a Copa do Mundo não significa que estamos fechando os olhos para a triste realidade que vivemos em um país que afunda cada vez mais após o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e que mantém em prisão política o maior presidente da história deste país, o Lula.
Não nos tornamos mais ou menos politizados ao nos encantarmos e acompanharmos a Copa do Mundo. Que a insistência de nosso povo em sua paixão pelo futebol nos sirva de exemplo. Vamos aproveitar. Assim como o nosso país, o nosso futebol não deve servir à interesses privados. Que sigamos, nos dois casos, torcendo e vibrando. Insistindo que ambos, o Brasil e seu futebol, são do povo. E que não se apropriarão assim tão fácil.
Edição: Monyse Ravenna