Pernambuco

COPA 2018

Senegal se despede, mas deixa reflexões

Organizada, equipe teve o único técnico negro nesta edição do mundial

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cissé é o único técnico negro nesta Copa e também o que tem menor salário entre os 32 treinadores
Cissé é o único técnico negro nesta Copa e também o que tem menor salário entre os 32 treinadores - Getty Images/FIFA

Nessa quinta-feira (28) a Copa se despediu do Senegal, última seleção do continente africano com chances de classificação à segunda fase. Este ano país da África conseguiu chegar à fase de mata-mata da competição. Mas Senegal chegou perto, sendo eliminado apenas por ter tomado mais cartões que o Japão. A equipe se impôs com o 2x1 sobre a favorita Polônia já na estreia vendeu caro o suado empate em 2x2 contra o Japão. Na última rodada caiu para a Colômbia (1x0) e ficou em absoluta igualdade com o Japão na tabela de classificação, mas os asiáticos passaram de fase pelo critério do “Fair Play” (Jogo Limpo, que favorece quem tomou menos cartões).
E para além da campanha, a qualidade do futebol e a disciplina tática apresentados pelo Senegal serviram para calar os que acusam o futebol africano de ser desorganizado. Importante observar também que o craque Sadio Mané, atacante do Liverpool vice-campeão da Liga dos Campeões da Europa este ano, ele jogou como mais um “operário” do time do que como uma estrela – diferente do que acontece com Portugal, Argentina e Egito, por exemplo, em que o time inteiro joga em função do craque. E muito disso é mérito do técnico Aliou Cissé.
Cissé, técnico jovem de 42 anos, foi volante na seleção Senegalesa de 2002, que chegou às quartas de final da Copa do Mundo, fase mais avançada que uma seleção do continente já conseguiu alcançar num mundial – assim como Gana em 2010 e Camarões em 1990. Cissé é também o único técnico negro nesta Copa e, coincidência ou não, é também o que tem menor salário entre os 32 treinadores, recebendo R$70 mil por mês (R$850 mil por ano), valor próximo do que recebem os técniso da Série B do Brasileirão.
O técnico senegalês, assim como o tunisiano Nabil Maâloul, são treinadores nativos de suas seleções. Egito, Marrocos e Nigéria preferiram contratar treinadores europeu, uma tradição que as seleções africanas seguem há décadas e que talvez nem tenha mais justificativa – se é que um dia já houve.
No futebol o argumento era de que as seleções africanas precisariam de técnicos dos grandes centros para que as seleções estivessem mais próximas do que se faz na “elite” do futebol. Mas nesta Copa seleções de menos tradição, como Coreia do Sul, Japão, Costa Rica e até a estreante Islândia já contam com treinadores nativos. O continente africano estreou em Copas do Mundo ainda em 1934 e tem participado ininterruptamente dos mundiais desde 1970. Quase 50 anos depois, será que no continente africano não há profissionais gabaritados para esta função?
Alguns profissionais como o nigeriano Stephen Keshi, que treinou a Negéria na Copa 2014, já sentiu na pele a diferença de tratamento dado pelas federações de futebol aos treinadores locais em comparação aos europeus. Ele afirma que a questão é reflexo do racismo e de uma cultura colonial, que dá preferência a um branco europeu para exercer a função mais “intelectualizada” à beira do gramado.

Edição: Monyse Ravena