Nesta quarta-feira (1º) um encontro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu, por 17 votos a 8, que o partido apoiaria candidaturas do Partido Socialista Brasileiro (PSB) aos governos dos estados do Amazonas, Amapá, Paraíba e Pernambuco. Marília Arraes, vereadora do Recife e pré-candidata em Pernambuco está, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, empatada com o governador Paulo Camara (PSB) na corrida eleitoral pelo Palácio do Campo das Princesas. Após a decisão da Executiva Nacional, ela realizou uma entrevista coletiva, fez duras críticas ao PSB e avisou que vai recorrer à decisão da Executiva.
Rodeada por membros da Direção e da Executiva estadual do partido, além de duas componentes da Direção Nacional do partido, Marília Arraes disse que esta eleição não é como as outras e cobrou do PT uma postura diferente. “Esta não é uma eleição comum. Não podemos comparar com outros pleitos. Este momento após o impeachment da presidenta Dilma – que foi destituída com apoio do PSB e sem cometer crime algum –, somado a todo o desmonte do estado de bem estar social e entrega do nosso patrimônio nacional... Este cenário exige posturas diferentes das lideranças e dos partidos, especialmente do PT”, avaliou a vereadora.
Ela destacou que 10 dos membros da Executiva Nacional – entre eles os pernambucanos Múcio Magalhães e Moara Saboia, protocolaram um recurso junto ao Diretório Nacional pedindo revisão desse posicionamento no caso de Pernambuco. O PT ainda tem mais duas instâncias após a Executiva: o Diretório e o Encontro Nacional. As reuniões decisórias ocorrem na próxima sexta-feira (3) e sábado (4), respectivamente. No domingo se encerra o prazo final dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que os partidos aprovarem suas candidaturas.
Mas antes, nesta quinta-feira a (2), a partir das 17h, o PT de Pernambuco precisa decidir, em seu Encontro de Tática Eleitoral, se opta pela candidatura própria ou por uma aliança com o PSB. “Vamos ao encontro e teremos maioria dos votos. Essa questão será discutida até as últimas instâncias”, garantiu Marília. O Encontro Estadual já foi adiado três vezes devido às costuras nacionais. Dele participam 300 delegados eleitos no Processo de Eleição Direta (PED) durante o ano de 2017.
No acordo nacional com o PSB, o PT retiraria a candidatura de Arraes, enquanto o PSB retira o nome de Márcio Lacerda da corrida pelo Governo de Minas Gerais, favorecendo a reeleição de Fernando Pimentel (PT). O partido também quis do PSB o apoio nacional à candidatura de Lula, mas a aliança não é aceita no PSB, que está mais próximo da candidatura de Ciro Gomes (PDT). Mas caso o nome de Marília seja mesmo retirado do pleito em Pernambuco, o PSB do estado se comprometeu em costurar um acordo para o partido ficar neutro nacionalmente, evitando a aliança com Ciro. Paulo Camara também teria se comprometido com a defesa de Lula em Pernambuco e com a reeleição do senador Humberto Costa (PT) para o Senado. O senador petista é o grande defensor da aliança entre os dois partidos no estado. O PSB decide sua posição nacional no próximo domingo (5).
“A preço de banana”
A vereadora também destacou que o que o PSB promete ao PT em troca da retirada de seu nome é muito pouco. “Não acreditamos que esta decisão da Executiva seja o melhor para a candidatura de Lula. Querem retirar uma candidatura que tem condições de efetivamente defendê-lo aqui no estado, em troca de quê?! De um 'não apoio'. Isso é muito pouco”, reclamou. Entre as várias críticas ao PSB, seu ex-partido, ela disse que o núcleo do partido em Pernambuco “não tem força política” nacionalmente. “Eles não têm liderança nacional para conduzir o partido como um todo numa aliança formal com o PT e nem com alguma outra candidatura. Eles decidiram ficar neutros porque não tinham outra posição para oferecer”, opinou.
A pré-candidata disse que um apoio formal do PSB à candidatura de Lula seria o suficiente para ela se retirar do pleito em nome da aliança. “Nossa postura sempre foi de construir apoio ao presidente Lula, buscando tirar o PT do isolamento nacionalmente, com alianças. O apoio formal do PSB seria um gesto importante. Apesar de achar que essa não é a melhor maneira de unir a esquerda, ainda assim nós aceitaríamos”, garantiu Marília.
Arraes também se queixou de uma suposta “guerra de nervos” que ela e o partido estão enfrentando há meses diante do esforço do PSB para evitar que o PT tenha candidatura própria no estado. “É um esforço dentro de gabinetes, sem diálogo com as bases, sem diálogo com a militância de dentrou do PT ou de fora”, criticou. Sua candidatura, em contrapartida, teria “apoio massivo da sociedade”. “Eu não tenho o direito de retirar a candidatura e colocar a esperança das pessoas numa mesa, como moeda de troca, e da forma que foi colocada: a preço de banana”, reclamou.
Há dirigentes se queixando que a mudança de rumo foi “abrupta”, porque o partido seguia numa direção e, de repente, fecha um acordo de outra posição, aceitando a neutralidade do PSB como suficiente. As queixas sobraram até para o PCdoB, que teria “armado” muito nos bastidores do PT para que o partido firmasse o acordo com o PSB. O PCdoB e o PSB são aliados de longa data em Pernambuco.
Desgastado, acéfalo e cambaleante
Sem contar com a possibilidade real de ser envolvida numa aliança com o PSB na corrida eleitoral dos próximos meses, Marília Arraes não poupou críticas à condução política de Paulo Camara em Pernambuco. Ela o descreveu como “extremamente desgastado”, seu governo como “ruim”, disse que o grupo político que o rodeia é “acéfalo”, que “não sabe para onde vai” e “cambaleia ideologicamente”.
Para ela, o governador “não tem as condições políticas de fazer a defesa do presidente Lula”, destacando que Camara foi um dos articuladores para a posição do PSB nacional à direita nos últimos anos, citando ainda o apoio a Aécio Neves no 2º turno das eleições de 2014. Ela também lembrou que o governador liberou seus secretários para irem a Brasília votar a favor do golpe que retirou de Dilma Rousseff (PT) da Presidência, em 2016. “O que ele quer é uma tábua de salvação para um governo ruim”, resumiu a petista.
A vereadora disse que uma candidatura própria seria importante até mesmo se fosse “só para marcar posição e fazer palanque para Lula”, mas que retirar a candidatura própria no cenário posto é ainda mais grave. “Ao longo desses meses a candidatura ganhou corpo, apoio da população e passou a preocupar os adversários, que estão a todo custo fazendo manobras para evitar a nossa candidatura. Em todos os cenários nós [o PT] vencemos no 2º turno”, disse, em referência às pesquisas. Ela também aproveitou a coletiva de imprensa para alfinetar o Jornal do Commercio, que, segundo ela, teria uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau (IPMN) que deveria ter sido publicada nesta quarta-feira (1º), mas que o jornal preferiu não divulgar.
Sem Marília
Nas pesquisas internas do partido, percebe-se que os votos de Marília seriam pulverizados entre as demais candidaturas. Mas há dirigentes que avaliam que, caso o nome de Marília seja retirado do páreo, a candidatura que pode herdar mais votos é a da advogada e historiadora Danielle Portela, do PSOL. Nesse cenário, Danielle seria não apenas a única candidata mulher ao Governo de Pernambuco, mas a única à esquerda, o que pode aproximar os movimentos organizados da esquerda. Os militantes petistas “mais disciplinados”, no entanto, podem votar na candidatura de Paulo Camara devido à aliança. Mas o PT também perde a oportunidade de aproximar setores da sociedade que rejeitam o governo Paulo Camara e os entrega de bandeja para a direita, com a candidatura de Armando Monteiro Neto (PTB).
Edição: Monyse Ravena