Pernambuco

Greve de Fome

Jaime Amorim: "Resistir ao golpe é lutar para impedir mais retrocessos no SUS"

Há 21 dias em greve de fome por justiça no STF, dirigente do MST defende o Programa Mais Médicos e a saúde pública

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Jaime Amorim em ato público realizado após o registro da candidatura de Lula
Jaime Amorim em ato público realizado após o registro da candidatura de Lula - Adilvane Spezia

“A fome pode intervir como força social, capaz de modificar a conduta e o comportamento do homem, agindo, assim, em consequência, como um fator de desajuste entre indivíduos, povos e nações. ‘Mal é de fome e não de raça’ constitui, pois, a luta contra a fome, concebida em termos objetivos, o único caminho para a sobrevivência de nossa civilização, ameaçada em sua substância vital por seus próprios excessos, pelos abusos do poder econômico, por sua orgulhosa cegueira.”
Josué de Castro

Neste dia realizamos muitas reuniões para acertar os passos para a semana que poderá ser decisiva na disputa política e judicial. Recebemos muitas visitas, como a  da dupla sertaneja Zé Mulato e Cassiano, que cantaram cantigas sertanejas antigas. Revisitando um texto de “Geografia da Fome” de Josué de Castro, até como forma de homenageá-lo, vou tentar fazer um paralelo de forma simplista entre críticas de Josué de Castro e o Programa Mais Médicos, política feita a partir do Governo Dilma. 

Para Josué de Castro o “progresso social" não se exprime apenas pelo volume da renda global ou pela renda média per capita, que é uma “abstração estatística” e complementa afirmando que “o que falta é vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome”.

No Brasil, a saúde sempre foi tratada como atendimento médico em consultórios e hospitais para o tratamento de doenças. Médico sempre tratado como doutor, com status de classe média alta, quase como um ser intocável, distante do povo. Para o povo, quando tinha médico, era sinônimo de filas nos poucos hospitais e o tratamento como uma obrigação, sempre com má vontade. Os profissionais de saúde, médicos em especial, atendiam em hospitais públicos, tinham seus consultórios e ainda atendiam em hospitais privados. Portanto, quando chega ao espaço público, nem olhava para o paciente. Perguntava o que sentiam e entregavam uma receita quase padrão para todas as doenças, salvo boas exceções que fugiam da regra. Apesar da Constituição de 1988 ter criado o Sistema Único de Saúde, um dos melhores programas de saúde pública do mundo, isso não mudou a pratica e a lógica da saúde no Brasil.

O Programa Mais Médicos, inicialmente com médicos e medicas cubanas, fez uma revolução no atendimento básico de saúde em todo Brasil. Este programa é uma das questões fundamentais para o povo, que mesmo em silêncio, já que não conseguimos os mobilizar nas ruas, demostre nas pesquisas a opinião de intenção de votos para Presidente da República. Aí você imagina que esse mesmo povo antigamente enfrentava intermináveis filas de hospitais e postos de saúde para pegar uma ficha para atendimento e agora tem um médico no posto de saúde próximo de sua casa. Eles, que nunca conseguiram conversar com um médico, agora são atendidos com dignidade!

O programa foi lançado em 8 de julho de 2013 pela presidenta Dilma, com o objetivo de suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil. O programa pretendia levar 15 mil médicos para as áreas onde faltam profissionais. Em 3  anos de programa, segundo balanço do Governo Dilma, foi possível implantar e colocar em desenvolvimento os seus três eixos pilares: a estratégia de contratação emergencial de médicos, a expansão do número de vagas para os cursos de Medicina e Residência Médica em várias regiões do país, e a implantação de um novo currículo com uma formação voltada para o atendimento mais humanizado, com foco na valorização da atenção básica, além de ações voltadas à infraestrutura das Unidades Básicas de Saúde. Esses profissionais estão garantindo atendimento a 63 milhões de brasileiros que não contavam com atendimento médico e que agora encontram atendimento nas unidades de saúde próximas de suas casas.

Os resultados alcançados pelo o Programa Mais Médicos, bem como sua aprovação pelos usuários do SUS, já comprovam o sucesso dessa ampla e inovadora iniciativa. Isso já seria suficiente para atestar que a dimensão mais imediata do projeto vem sendo atingida com sucesso. Atualmente, o Programa Mais Médicos conta com um total 18.240 vagas em 4.058 municípios de todo o país, cobrindo 73% das cidades brasileiras e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs).

A classe médica brasileira através de suas representações de classe, em sua maioria formada por homens brancos, que dificilmente aceitavam trabalhar em municípios do interior, pois preferiam a comodidade das capitais e regiões metropolitanas, reagiram de imediato contra o programa. Notícias da imprensa sobre o “formato da importação" de médicos de outros países foi alvo de duras críticas de associações representativas da categoria, sociedade civil, estudantes da área da saúde e inclusive do Ministério Público do Trabalho. Na política, a extrema direita reagiu de imediato, noticiando que “Os senadores tucanos Cássio Cunha Lima, da Paraíba, e Aloysio Nunes Ferreira, de São Paulo, apresentaram um projeto de decreto legislativo para cancelar o acordo entre o governo brasileiro e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) que permite a vinda de médicos cubanos para o Brasil, dentro do âmbito do programa Mais Médicos. A intenção é impedir que a legislação trabalhista brasileira continue a ser desrespeitada, e que os cubanos e suas famílias continuem a ser feitos reféns da ditadura que vigora em seu país”.  

O que está em jogo hoje são duas coisas básicas, o risco do desmantelamento e sucateamento do SUS, por falta de verba e por interesses de privatização e terceirização do sistema público de saúde e aos poucos o encerramento do Programa Mais Médicos, voltando ao retrocesso anterior. É certo que ainda falta muito para avançar, mas o pouco que se avançou em programas e políticas públicas como o SAMU, UPAS, UPAS especializadas, Hospitais da Mulher, Programa Mais Médicos, Farmácia Popular, construção de hospitais regionais no interior do país, investimentos em pesquisas, fortalecimento da Fiocruz, além de criação de novos cursos de medicina e de outras áreas da saúde para municípios do interior do estado puderam popularizar e qualificar a medicina e a área de saúde como um todo. Resistir ao golpe é lutar para impedir mais retrocessos no Sistema Único De Saúde no Brasil, já tão precário.


LULA LIVRE, LULA INOCENTE, LULA REGISTRADO, LULA PRESIDENTE


 

Edição: Marcos Barbosa