Pernambuco

Mobilização

"Precisamos de unidade na campanha de Lula”, diz Jaime Amorim

Jaime passou 26 dias em Greve de Fome por Justiça no STF, em Brasília

Brasil de Fato | Caruaru (PE) |
Jaime: "Temos que jogar a luta política por outro patamar"
Jaime: "Temos que jogar a luta política por outro patamar" - PH Reinaux

Com 58 anos, Jaime Amorim é integrante da Direção Nacional do MST e representante da América do Sul na Coordenação Internacional da Via Campesina. Jaime é catarinense e está há 26 anos morando em Pernambuco.
Brasil de Fato: Qual a sua avaliação sobre os resultados e os impactos dos 26 dias de greve de fome?
Jaime Amorim: Todo o nosso trabalho durante esses 26 dias estava nessa ideia de alterar o processo dentro do poder judiciário, tanto é que já nos primeiros dias nós definimos como bandeira fundamental a votação das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC's). Esse processo, ele vai conduzindo todo o período da greve de fome, essa bandeira principal das ADC's. Ocorre que nos últimos dias teve uma alteração, que foi a decisão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) de exigir que o Brasil cumpra a liminar que permite que Lula seja candidato e possa disputar as eleições mesmo preso. Isso fez com que nós também buscássemos em todas as audiências que tivemos. Então nós entendemos que a greve conseguiu criar esse debate no Brasil, conseguimos reverter muitas coisas no Poder Judiciário, nós fomos recebidos por sete ministros, por cinco diretamente e dois por gabinetes, o que nunca na história foi feito. Então nós entendemos que apesar de não ter conseguido a liberdade de Lula e a elegibilidade, pra ele disputar a eleição, nós construímos um caminho importante, de debate sobre o país que estamos vivendo, as consequências do golpe e a necessidade poder superar o golpe em diversas fases.
Brasil de Fato: Como está o seu processo de recuperação após a greve?
Jaime: Nós durante a greve de fome fomos criando um estado emocional pra um longo período de greve de fome. Quando se faz uma greve com tempo determinado, de que amanhã se resolve o problema, então o desgaste é muito maior. Quando nós chegamos no 26º dia, se alimentando basicamente de água e soro, nosso corpo estava ainda em condições de prosseguir mais alguns dias, mas debilitado. No meu caso, a média de perda foi de meio quilo por dia, então nos primeiros momentos a gente perde mais a gordura do corpo e já no segundo momento perde massa muscular. Por isso estávamos bem debilitados. Ao decidir o encerramento da greve nós tivemos orientação de profissionais nessa ideia de como nós deveríamos readaptar o corpo agora ao voltar a se alimentar. Estou cuidando para fazer poucas atividades, não fazer atividades públicas, seguir as normas orientadas da alimentação, tentando não ingerir muitos alimentos sólidos, consumir bastante líquido e frutas, enfim, para poder recuperar a massa, mas estou bem, pronto para novas batalhas.

Brasil de Fato: Quais os próximos passos pata os movimentos populares?
Jaime: A nossa carta de encerramento aponta pra isso, a chamada dos militantes, agora nós temos que jogar a luta política por outro patamar, aproveitando todos esses movimentos até agora. Temos trabalhado agora a luta tática, que é ir para as ruas disputar as eleições e ganhar. Fazer com que Lula seja candidato e ganhe as eleições no primeiro turno. Essa é a primeira parte. Mas não derrotamos o golpe só com as eleições, o golpe não é só do ponto de vista do Executivo, então ele está entranhado nas estruturas do Estado, no poder político, Judiciário, Executivo, então nós vamos ter que garantir o processo para permitir que Lula não governe para o povo, o que ele tentou fazer da outra vez. Nós queremos que Lula governe com o povo, aí o povo na rua tencionando para garantir que ele faça aquilo que foi combinado, sem esperar o momento político para fazer. E como estratégica fundamental a construção do Congresso do Povo Brasileiro. Acelerar, fazer bons congressos no municípios, agitando a população, fazendo propaganda e agitação no meio do povo, fazer congressos estaduais e especificamente aqui em Pernambuco que marque como uma construção de novas forças políticas no estado e fazer o congresso nacional que é mais que um encontro, é um congresso que vai fazer o projeto do povo brasileiro, o projeto popular para o Brasil.
Brasil de Fato: Depois desse período de mobilização nacional, qual a sua opinião sobre o processo eleitoral pernambucano?
Jaime: Apesar de estar na greve de fome eu acompanhei quase que diretamente o desenrolar do processo em Pernambuco. Creio que todos nós ficamos muito tristes porque foi construído o nome de Marília Arraes e não tenho dúvida nenhuma de que nesse momento nós teríamos quase garantido a eleição dela ainda no primeiro turno. Mas, a decisão do PT nacional foi de construir o processo de aliança. Em um primeiro momento é claro que a gente fica um pouco indignado e quer abrir mão, mas isso requer agora de nós, especificamente da gente, o reagrupamento, agora temos que reconstruir. Acho que o Partido dos Trabalhadores na medida em que faz uma chapa específica para disputar as vagas para deputados federais e estaduais, acertou, e faz parte do processo, agora tem que dar um alinhamento, na unidade da campanha de Lula. É determinante, priorizar a militância que tem que ir pra rua e acho que cada grupo, cada organização vai ter que ir construindo a melhor forma de se posicionar com candidatos e senadores e governadores. Não nos cabem muitas opções. O PT nacional fez aliança com o governador Paulo Câmara, o que certamente deve levar grande parte do PT a esse alinhamento e também certamente uma grande parte das organizações. O mais importante é que nesse processo seja construída uma militância nova, sem vício de tendência, de partido, e que pode fazer uma política muito bonita, muito forte em Pernambuco, nomes novos. Marília representa isso, assim como Carlos Veras, Doriel Barros, Teresa Leitão.

Edição: Monyse Ravena