Nesta segunda-feira (10) o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco realizou encontro no Assentamento Normandia, em Caruaru, com a presença do governador Paulo Câmara (PSB), da deputada e candidata a vice Luciana Santos (PCdoB), do senador Humberto Costa (PT) e outras figuras da coligação Frente Popular de Pernambuco. No encontro, o MST oficializou o apoio do movimento à reeleição de Camara, que por sua vez se comprometeu com demandas dos sem terra nas áreas de saúde, educação, cultura e reforma agrária.
No documento divulgado pelo movimento, o MST espera que as forças políticas que integram a Frente Popular aprofundem o “compromisso com o desenvolvimento da agricultura camponesa e com a reforma agrária”. A carta lembra ainda que o MST está “seguindo a aliança nacional da campanha Lula Presidente”, representada no estado pela chapa que une PSB, PCdoB e PT.
Por parte da gestão Paulo Câmara, ficou a promessa de incorporar na próxima gestão do Governo do Estado demandas dos trabalhadores rurais, criando dentro da Secretaria de Educação uma secretaria executiva de Educação no Campo, em substituição a atual gerência; nas áreas de Saúde e Cultura as respectivas secretarias devem abarcar gerências de Cultura do Campo e Saúde do Campo. Além dos três órgãos, o governador se comprometeu com a criação de uma Secretaria de Desenvolvimento Rural e Reforma Agrária. “A criação da Secretaria de Desenvolvimento Rural e Reforma Agrária será o primeiro ato do nosso futuro governo”, prometeu Paulo Câmara. “A gente sai daqui com muito mais responsabilidade, mas sabendo que tudo com o que nos comprometemos é possível ser feito e será feito”, reafirmou.
Na análise do MST, cuja fala coube a Jaime Amorim, a eleição que se avizinha tem papel relevante na luta de classes, representando uma possibilidade de “derrotar o golpe”. “A direita conservadora quer assumir o Governo de Pernambuco. E precisamos impedir mais esse retrocesso”, alertou, em referência à chapa encabeçada por Armando Monteiro (PTB). “Viveremos momentos difíceis pela frente, mas também é um momento bom para fazer política, porque fica claro quem são os inimigos e quem são os aliados com quem podemos contar”. Sobre as críticas que podem vir de organizações de esquerda que no último período fizeram oposição ao PSB, Jaime resumiu: “quem sai na frente está colocando a cara à tapa – e nós estamos saindo na frente. A cada momento novo precisamos olhar a conjuntura e saber nos posicionar”.
O dirigente do MST também destacou que este não será um apoio “da boca para fora”. “Quando assumimos uma tarefa, assumimos ela de verdade, com unhas e dentes, para garantir que ela não seja só uma decisão da direção. Vamos transformar esta decisão num grande movimento de massa nesse mês [que resta até o dia 7 de outubro]”, disse Amorim. O movimento se comprometeu em realizar 32 plenárias regionais nas próximas semanas para impulsionar a campanha de Paulo Câmara e conquistar votos. “Leve daqui a certeza de que seremos bons combatentes, para transformar essas eleições num momento tático importante de derrota do golpe e de construção de um novo momento político em Pernambuco e no Brasil”, disse Jaime a Paulo Câmara.
O governador, por sua vez, agradeceu e comemorou o “realinhamento da esquerda” no estado. “É uma honra estarmos recebendo esse apoio do MST, que vai além das eleições, pois será fundamental para governar Pernambuco nos próximos 4 anos”, disse Câmara. “Esse realinhamento do campo da esquerda, unindo PT, PCdoB e PSB, tem um objetivo muito claro, que é fazer Pernambuco andar para frente, apesar de todos os desafios”, completou o governador. Ele destacou programas de seu governo voltados para a população do campo, como a ampliação do abastecimento de água através de adutoras, a assistência rural, a regularização de terras, mas ponderou que “ainda temos muito o que fazer”.
Câmara também criticou o Governo Federal, afirmando que Temer é “um presidente sem nenhum compromisso com o Brasil e com o Nordeste”, dizendo ainda que Pernambuco teria sofrido perseguição. Neste cenário, a volta da aliança entre PSB, PT e PCdoB seria também “o compromisso de ajudar o Brasil a ser feliz de novo, elegendo o presidente Lula e Haddad”, completou o governador.
Lula, Haddad e o Congresso Nacional
No ato o MST também reafirmou seu compromisso com as reeleições do senador Humberto Costa e da deputada estadual Teresa Leitão, além de empenho em eleger Carlos Veras à Câmara Federal e Doriel Barros à Assembleia Legislativa de Pernambuco. Todos são filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT). Também do PT foram lembrados como companheiros do MST a vereadora de Petrolina Cristina Costa, candidata a deputada estadual; a vereadora do Recife Marília Arraes, candidata a deputada federal; o ex-deputado federal e candidato Fernando Ferro. Além deles, também foram citados como companheiros e aliados os demais candidatos do PT, do PCdoB, PSOL, PDT e PCO.
Jaime destacou, no entanto, que a grande prioridade do MST “é lutar pela liberdade de Lula e para que ele tenha condições de ser candidato”. Mas avaliou as dificuldades e como agir diante delas. “Se a elite golpista, através do Poder Judiciário, impedir a candidatura de Lula, ele não estará sozinho, pois será representado por milhões de brasileiros”. E determinou: “e então a tarefa de cada um de nós será fazer as pessoas se sentirem representadas na figura que Lula indicar, que a priori é Fernando Haddad”.
“Violência gera violência”
Sobre o ataque sofrido por Jair Bolsonaro (PSL) no último dia 6, o dirigente do MST disse não ser a favor da violência, mas ponderou que o candidato “colheu o que plantou”. “Nós camponeses costumamos dizer uma coisa: quando a gente planta milho, nós esperamos colher milho. Se plantamos feijão, esperamos colher feijão. Então, Bolsonaro, você durante toda a vida pregou a violência, dizendo que vai matar sem terra, que é para matar ‘os petralhas’. E violência gera violência. Se quiser colher paz, que plante a paz”, sugeriu. “Não quero a morte de ninguém, mas também não tenho pena nenhuma. Contra a violência dele nós vamos pregar a paz”.
O documento do MST diz ainda que o movimento luta por uma política econômica que melhore a vida do povo, “com garantias de trabalho, educação, saúde, transporte, habitação, programas contra a violência, investimentos na agricultura camponesa, programas de apoio à população do Semiárido e recuperação de políticas públicas para crianças, mulheres, povo negro, LGBTs, idosos e jovens”. Estiveram presentes ainda o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco (Fetape), Doriel Barros; o deputado federal Wolney Queiroz (PDT); e outros integrantes do PDT e cargos de confiança do Governo do Estado.
Edição: Monyse Ravena