Pernambuco

ELEIÇÕES

No Recife, Haddad e Manuela fazem maior caminhada desta eleição

No estado natal de Lula, chapa da coligação “O Brasil Feliz de Novo” passou ainda por Caruaru e vai a Petrolina

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Ato político também foi marcado por vaias de petistas contra políticos do PSB
Ato político também foi marcado por vaias de petistas contra políticos do PSB - Ricardo Stuckert

Na tarde deste sábado (22) o presidenciável Fernando Haddad (PT) e sua vice Manuela D’Ávila (PCdoB) realizaram caminhada no Recife com dezenas de milhares pessoas. Acompanhados do governador Paulo Camara (PSB), da candidata a vice Luciana Santos (PCdoB) e do senador Humberto Costa (PT), o grupo arrastou a multidão num percurso que saiu da Praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, cruzando o rio e chegando à Praça da Independência, no bairro de Santo Antônio.
No discurso, Fernando Haddad lembrou do quão positivo foram os governos Lula para a região Nordeste. “O Brasil crescia 4%, enquanto o Nordeste crescia 9%. Isso aconteceu porque pela primeira vez um presidente olhou para a região, porque Lula sabia a dívida histórica que o Brasil tem com o Nordeste”. E lembrou seus 7 anos como ministro da Educação, citando os campi de Institutos Federais, universidades e vagas do Prouni e Fies. “O nordestino com oportunidade é um danado. Passa no vestibular, passa no ITA e nas melhores universidades do país”.
A palavra “oportunidades” foi das mais mencionadas pelo ex-ministro. Ele disse que as pessoas que não tiveram tantas oportunidades na vida precisam que alguém pegue em suas mãos. “Às vezes é um Bolsa Família, às vezes é um estágio, às vezes uma universidade. No nosso governo os pobres jamais estarão condenados a um destino pré-determinado”, afirmou. Diante da Ocupação Marielle Franco, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Haddad elogiou a luta por direitos sociais e a homenagem. “É uma linda homenagem a todas as mulheres guerreiras como ela, negras, militantes de esquerda e com coragem de desafiar os poderosos na luta por uma causa justa”.
Sem citar nomes, Haddad criticou as posições e falas do candidato Jair Bolsonaro (PSL). “Eles ofendem a honra do negro, da mulher, do nordestino. Não vamos admitir violência e intolerância. Vamos voltar a ser felizes com todo mundo, sem revanchismo, com um projeto nacional que olhe com carinho especial quem mais precisa”.
A candidata a vice-presidenta na chapa de Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB) lembrou que Pernambuco é o estado natal do ex-presidente Lula (PT). “Pernambuco é o estado que deu ao Brasil o seu mais ilustre filho, Luiz Inácio Lula da Silva, filho de Dona Lindu, que criou seus filhos sozinha como tantas mulheres criam seus filhos”, disse, aproveitando para estocar o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB). “O povo sabe que as mulheres brasileiras são imprescindíveis para termos um País com educação e saúde públicas”. Em tom de brincadeira, a ex-deputada federal descreveu a caminhada como “extraordinária” e “maior caminhada da eleição”. “É a primeira vez que faço um discurso no Galo da Madrugada”, brincou.
Após o ato, Manuela D'Ávila seguiu para o Rio Grande do Norte, enquanto Fernando Haddad foi para Caruaru, onde fez nova caminhada. A dupla participa, neste domingo, de ato em Juazeiro (Bahia) e Petrolina, no sertão pernambucano.

Propostas
Em entrevista à imprensa no fim do ato, Fernando Haddad aproveitou a data do “Dia pela Mobilidade Urbana” para falar de uma das propostas para a área. “Queremos apoiar a criação de corredores exclusivos de ônibus, ciclovias e aumentar a segurança do pedestre”, afirmou, em referência a algumas de suas marcas de quando comandou a Prefeitura de São Paulo (2012-2016). O presidenciável promete ainda repassar aos prefeitos uma parte da CIDE, imposto sobre combustíveis arrecadado pelo Governo Federal. “Esse recurso será para os prefeitos investirem em mobilidade. Alguns querem baixar ou pelo menos manter as tarifas dos ônibus, mas não têm verba para isso. Quanto mais transporte público [ônibus] e ativo [bicicleta, caminhada] menos poluição nas cidades”, completou.
Na área da saúde o candidato do PT prometeu ainda ampliar a rede do programa Mais Médicos, com médicos especialistas. Sobre infraestrutura Haddad falou da ferrovia Transnordestina e da Transposição do São Francisco, que serão retomadas logo após revogar o Teto de Gastos Públicos. E sobre educação, falou que nos estados com baixo desempenho no Enem os centros federais de educação serão obrigados a ter escolas de ensino médio, aumentando a rede de IFs, escolas militares, Senac, Senai, Sesi e outras. “Não devemos tentar resolver os problemas do país na base do autoritarismo”, afirmou.
O senador Humberto Costa (PT) fez uma comparação entre seu adversário na disputa do senado, Mendonça Filho (DEM), e seu aliado Haddad. “Você é o maior ministro da Educação que o Brasil já teve. Já do lado deles está o pior ministro da Educação da história do Brasil, que é Mendonça Filho. Você, Lula e Dilma criaram o Prouni, Mendonça cortou; vocês criaram o Ciência Sem Fronteiras, ele cortou; vocês criaram o Fies sem fiador, ele acabou”, disparou o petista.
PT, PSB e as vaias
A caminhada deste sábado marcou ainda a volta de um ato de campanha que reuniu as militâncias do PT e PSB, algo que não ocorria desde 2010. Mas nem todos estavam à vontade com a situação. A militância petista vaiou o governador Paulo Camara durante metade de sua fala, que ele preferiu encerrar com pouco mais de 2 minutos de discurso. Antes de falar o governador já havia recebido vaias ao ser mencionado nos discursos de Humberto e Luciana Santos, além de ser alvo gritos de “golpista” durante a caminhada. O constrangimento se repetiu no discurso de Haddad, quando o presidenciável mencionou Paulo Camara, Renata Campos e João Campos.
Em sua curta fala, Camara disse estar honrado por ter o apoio de Lula em Pernambuco e disparou contra a principal chapa adversária, que tem Armando Monteiro (PTB), Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB). “Temos que vencer essas pessoas que foram contra os trabalhadores, que votaram pelo aumento do preço da gasolina e do gás, que querem vencer a Chesf e privatizar o rio São Francisco. Eles querem fazer aqui em Pernambuco o mesmo mal que fizeram ao Brasil”, disse o governador. O pessebista prometeu ainda empenho e trabalho em todo o estado para reeleger Humberto Costa e eleger Fernando Haddad presidente.
Diante das vaias a Paulo Camara, sua aliada Luciana Santos (PCdoB) buscou apaziguar a militância. “Neste momento não podemos ter dúvidas. Esta eleição tem dois lados: ou estamos no lado do povo, da soberania nacional, dos trabalhadores, ou estaremos do lado do Temer. Do lado de lá estão dois ministros de Temer e um dos líderes de Temer no Senado”.

Em Pernambuco o PT defendeu majoritariamente uma candidatura própria em oposição ao PSB. A candidatura petista seria encabeçada por Marília Arraes, que será candidata a deputada federal. Ela, que foi para o PT ao sair justamente do PSB, não quis participar da caminhada deste sábado. No entanto, outros candidatos proporcionais que defendiam a candidatura de Marília ao governo apareceram no ato. Carlos Veras disse não sentir incômodo. “Este ato é nosso. Haddad é candidato a presidente pelo meu partido, o PT. Quem está vindo apoiar é Paulo e a militância do PSB, então são bem vindos para elegermos Haddad presidente”. Márcia Lacerda resumiu afirmando que “o plano nacional é mais importante neste momento”.
Flávia Hellen defendeu a unidade na disputa nacional. “Precisamos somar por Haddad e Manuela. O que nos une é maior que as divergências”. Sylvia Siqueira Campos disse não apoiar Paulo Camara, mas julgou importante ir. “Se o PT não estiver com o nosso candidato nas ruas, estaremos colocando em risco o projeto nacional”. Mais afastada da multidão estava Liana Cirne, a candidata próxima de Marília Arraes. “O importante é trabalharmos para eleger Haddad. Só não ficarei para o momento do palanque”, informou. Teresa Leitão fez a mesma opção. Teresa Leitão e Dyanne Barros também estavam presentes.

Edição: Monyse Ravena