Pernambuco

Mulheres

Pernambucanas unidas contra Bolsonaro

Manifestações no Recife e interior criticam discurso de ódio do candidato

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Manifestação em Afogados da Ingazeira, no Pajeú
Manifestação em Afogados da Ingazeira, no Pajeú - Janaína Nogueira

Nas últimas semanas a expressão “ele não” tomou conta das redes sociais no Brasil e no mundo, unindo mulheres indignadas com o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), que tem histórico de falas públicas de caráter violento, preconceituoso e machista. A movimentação cresceu e famosas do Brasil e do mundo se colocaram publicamente contra o candidato e contra o que ele representa. Neste sábado (29), os protestos tomam as ruas, pedindo um País sem violência contra a mulher.

No Brasil, estão agendadas manifestações de mulheres em 24 das 27 unidades federativas, além de protestos de brasileiras em pelo menos 10 outros países. No estado de Pernambuco, haverá manifestações na capital e no interior. No Recife, as mulheres se reúnem a partir das 14h, na Praça do Derby.

Entre as manifestantes está a professora da rede estadual de ensino Marinalva Lourenço. Ela é mãe de uma mulher lésbica e vê com preocupação a candidatura de Bolsonaro. “Ele prega a violência e discrimina as pessoas LGBTs. Durante toda a vida política ele sempre se posicionou contra mulheres, contra pessoas negras”, disse. Marinalva integra o movimento Mães pela Igualdade, grupo nacional que existe há mais de 10 anos, reunindo mães que lutam pelos direitos de seus filhos e filhas gays, lésbicas, bissexuais e transexuais. "Vamos para o protesto dizer que ele não representa o bem da nossa sociedade", disse.

Esta semana vieram à tona documentos do Ministério das Relações Exteriores de 2011, mostrando que a cidadã brasileira Ana Cristina Valle teria deixado o Brasil dois anos antes, em 2009, e pedido asilo político na Noruega, alegando que estava sofrendo ameaças de morte por parte do ex-marido, o deputado Jair Bolsonaro. Os dois travavam uma disputa judicial pela guarda de um dos filhos, então com 12 anos.

Atualmente Ana Valle já voltou a morar no Brasil, apoia a candidatura do ex-marido e está candidata a deputada federal no Rio de Janeiro usando o nome Cristina Bolsonaro. Mas os brasileiros que conviveram com Ana Valle na Noruega confirmam, em matéria da Folha de S. Paulo, que ela relatava a todos ter sido ameaçada de morte e que sua cabeça “vale R$50 mil”.

Sobre o caso, Marinalva opinou. "Em situações assim as mulheres precisam fazer a denúncia", alertou. "Se ela tivesse feito, talvez ele não estivesse no patamar que está hoje, de querer ser presidente do país", avalia a educadora.
A agente de apoio a crianças especiais Senhorinha Joana Alves é outra que vai à manifestação. Ela considera que o candidato representa “esse sistema que oprime as pessoas e retira nossos direitos”. “Ele é a expressão verbal e política da homofobia, da desigualdade de gênero, do racismo, de todos os desrespeitos às diversidades. Ele é o porta-voz dessa cultura retrógrada”, avaliou.

Mulher negra e lésbica, Senhorinha considera que é dever de toda a sociedade combater a discriminação e o discurso de violência contra minorias. “O negro, a negra, o homossexual, os adolescentes conquistaram direitos com tanta luta e dificuldades. Eles não podem perder seus poucos direitos”, avaliou.

Senhorinha também é estudante universitária e moradora do subúrbio de Olinda. Para ela, o voto é um momento de defender mais direitos para as pessoas. “A gente precisa acordar, se alertar, procurar ver quem realmente representa os direitos do povo. Essa figura aí só representa esse sistema que oprime, violenta as mulheres”, alertou. “Eu digo que ‘ele não’ porque ele representa a retirada dos direitos que as mulheres conquistaram até agora”.

Interior do estado
As manifestações de mulheres contra Bolsonaro não acontecem só no Recife. Em Afogados da Ingazeira já houve uma manifestação, no último sábado (21), na praça central da cidade. Uma das organizadoras, Janaína Nogueira, conta que a movimentação nacional despertou vontade. “Uma amiga tomou a iniciativa de construir a movimentação aqui, me pediu ajuda e decidimos criar um grupo de whatsapp para ir colocando outras mulheres”, conta.

No dia, cerca de 500 pessoas, em sua maioria mulheres, foram às ruas com bolas roxas e brancas dizer que não aceitam o discurso violento e machista do candidato Jair Bolsonaro. “Foi lindo, pacífico, tinha crianças também. Mas infelizmente acabei com o grupo do whatsapp, porque a cidade é pequena e a movimentação já estava fazendo meu nome aparecer muito”, lamenta Janaína.

Também no Sertão, Petrolina terá a manifestação às 9h do sábado, com caminhada saindo da Praça do Bambuzinho. Outras cidades sertanejas também se levantarão contra o ex-militar: Arcoverde, Carnaíba, Sertânia e Iguaracy. Em Caruaru, um ato está marcado também para este sábado, às 13h30, em frente ao INSS. Ainda no Agreste, estão previstos atos em Gravatá, Pesqueira, Belo Jardim, Santa Cruz do Capibaribe e Surubim.

Edição: Catarina de Angola