Nesta terça-feira (2) quatro dos candidatos ao Governo de Pernambuco participaram do último debate televisivo do primeiro turno. Pelas regras, não houve perguntas de jornalistas, cabendo exclusivamente aos candidatos formularem perguntas e escolherem livremente um adversário para respondê-la. Isso facilitou com que o governador Paulo Camara (PSB) fosse o "alvo" favorito dos adversários. Entre os temas, destaque para os recursos naturais de Pernambuco.
Camara trouxe ao debate a privatização da Eletrobras e o projeto de privatização da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), que ele considera como "privatizar o rio São Francisco", se posicionando contrário à proposta do governo Temer. Para o governador, "o rio precisa de revitalização, não de privatização". Maurício Rands também se disse contra a privatização. "A proposta coloca em risco a gestão desse patrimônio ambiental do povo brasileiro, tão importante para o desenvolvimento da região", afirmou, lembrando ainda que Temer conduziu o projeto ao lado do então ministro Fernando Bezerra Coelho Filho, deputado federal do DEM e candidato à reeleição em Pernambuco.
Questionado por Dani Portela, Paulo Camara defendeu os investimentos realizados para o convívio com o semiárido. "Enfrentamos 7 anos de seca e precisamos fazer com que a água chegasse às cidades e na zona rural. Fizemos grande investimento em cisternas, pequenas barragens, perfuração de poços, justamente para dar condições ao agricultor familiar para produzir e ter sua própria renda", disse. A candidata do PSOL rebateu. "Os investimentos estão caindo. No fim do governo Eduardo Campos eram 104 mil famílias assistidas pelas políticas. Em 2016 esse número era de 44 mil".
Num embate com o governador, o candidato Maurício Rands reclamou das adutoras inconclusas e trouxe à tona a questão das barragens para evitar novas cheias na Zona da Mata Sul. "Os deputados federais de Pernambuco colocaram R$ 133 milhões no orçamento da União para que o nosso estado construísse as barragens [de Igarapeba e Panelas]. Mas o seu governo não teve projeto idôneo para receber os recursos. Isso não pode acontecer", disse Rands.
A candidata Dani Portela cobrou as promessas do candidato do PSB há quatro anos. "Paulo prometeu regularizar 40 mil imóveis ocupados pela população de baixa renda, prometeu também construir 20 mil unidades habitacionais", lembrou, destacando ainda a situação em que vivem as pessoas que não têm acesso ao direito à moradia. "Infelizmente muitas pessoas chegam ao fim do mês e têm de decidir entre se alimentar e pagar aluguel. A crise piorou o nível de desigualdade. De acordo com o Ministério Público, em 2017, só no Recife eram mais de 3 mil desabrigados". Paulo Camara disse estar cumprindo a promessa. "Construímos 11 mil e 500 casas e estamos com 9 mil em andamento. Entregamos mais de 40 mil títulos de posse nas cidades e zona rural", alegou.
Ao ser questionado sobre violência contra a mulher, Maurício Rands (PROS) apresentou a proposta de construir mais delegacias especializadas no atendimento à mulher, adequá-las ao atendimento de casos de violência contra a população LGBT e garantir o funcionamento dessas delegacias durante os fins de semana. "As pessoas trans, por exemplo, vão numa delegacia fazer a denúncia e muitas acabam recebendo uma dupla punição", afirmou. "Precisamos de reorientação na política de Segurança Pública, com olhar especial para os grupos que são vítimas mais contínuas da violência - seja violência da bandidagem; seja a violência da proximidade, como o feminicídio; ou ainda a violência por parte da polícia".
Paulo x Armando
Os dois candidatos que aparecem a frente nas pesquisas de intenção de voto, Paulo Camara (PSB) e Armando Monteiro (PTB), protagonizaram os principais embates da noite, com elevação do tom nas acusações. Já no primeiro bloco Monteiro falou da Operação Torrentes, da Polícia Federal, em pergunta para a candidata Dani Portela (PSOL), mas com evidente ataque ao governador.
No segundo bloco o embate foi direto. O tema da pergunta seria estradas, mas Armando não usou o tempo para fazer críticas a Paulo Camara e não conseguiu elaborar a questão. O governador candidato à reeleição lembrou que o desemprego no Brasil começou a crescer em 2015, ano em que Armando era ministro do Desenvolvimento Econômico. "Você foi ministro que deveria trazer desenvolvimento, mas só vimos o desemprego crescer. Você foi o ministro do desemprego e não trouxe nada para Pernambuco", disparou Paulo.
O senador do PTB retrucou, acusando o governador de mentir e de ser responsável direta e indiretamente pelo desemprego em Pernambuco. "É o governo do faz-de-conta, da propaganda e da mentira. Está dizendo que a culpa do desemprego é do ministro de Dilma? Pernambuco é campeão de desemprego. Ele agora diz que a culpa da crise é de Temer, mas quem colocou Temer lá foi ele. Se a culpa é de Temer, eu digo que a culpa é de Paulo. Paulo é campeão em transferir responsabilidade", disse Monteiro.
O governador rebateu. "Eu vim para discutir Pernambuco, enquanto Armando é campeão de querer enganar a população. Ele colocou uma estrela, mas todo mundo sabe que o PT apoia Paulo Camara. Depois usou a imagem de Lula, mas Lula apoia Paulo Camara. Agora usa a imagem de Eduardo Campos, que nunca confiou em Armando Monteiro", atacou. "Armando chegou em Brasília e só votou contra os trabalhadores. Armando votou pela Reforma Trabalhista. Por quê? Porque ele é patrão. Quem é patrão não olha para os que mais precisam, não olha para o trabalhador", disse o governador, lembrando ainda ser servidor público.
O duelo entre os dois favoritos a um provável segundo turno voltou a se repetir no terceiro bloco, com Armando provocando novamente com o tema corrupção. Os candidatos debateram ainda temas como educação, segurança, transporte ferroviário, transporte metropolitano, responsabilidade fiscal, funcionarismo público.
Mas em parte do debate as perguntas deveriam estar dentro de temas sorteados, enquanto noutro momento as perguntas eram de tema livre. O debate foi promovido pela Rede Globo, das 22h às 23h30, com a participação de Paulo Camara (PSB), Armando Monteiro (PTB), Maurício Rands (PROS) e Dani Portela (PSOL). Ficaram de fora os candidatos Julio Lóssio (Rede), Ana Patrícia (PCO) e Simone Fontana (PSTU).
Edição: Monyse Ravena