Para o povo pernambucano, ter consciência negra é ser capaz de reconhecer a importância da cultura e da história da população do próprio estado. Na terça-feira (20), foi comemorado o Dia da Consciência Negra, data que homenageia o aniversário de morte de Zumbi, uma das principais referências do movimento de resistência que se fazia no Quilombo dos Palmares, localizado na Capitania Pernambuco, em região que hoje pertence ao estado de Alagoas.
Zumbi foi assassinado em 1695, e sua cabeça ficou exposta no Pátio do Carmo, no Recife, até a completa decomposição, como forma de desmentir para a população a lenda de que ele seria imortal. Uma ação que, na verdade, só reafirmou a imortalidade de Zumbi, que entrou para a história nacional e tornou-se símbolo inspirador da resistência que se faz até os dias atuais pelos movimentos políticos e culturais antirracistas.
Também os elementos culturais mais reconhecidos e tradicionais pernambucanos, como o frevo, o maracatu, o afoxé e a capoeira, só para mencionar alguns, são originados na luta e organização popular afro-brasileira. Essa herança também se expressa na pele do seu povo. Segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos quase nove milhões de habitantes de Pernambuco, aproximadamente 60% são pardos ou negros.
Dessa forma, em referência ao 20 de novembro, o Brasil de Fato Pernambuco listou alguns pontos de referência da herança cultural negra no Recife e no estado. Territórios nos quais um passado de sacrifício e relutância se faz permanente em memórias, cores, símbolos, credos e ritmos.
Conceição das Crioulas
A comunidade fica localizada no sertão pernambucano, no município de Salgueiro, e é conhecida por sua história de luta pelo território e por seu artesanato. A história do Quilombo é narrada pelos mais velhos, cujas memórias são transmitidas de geração para geração. Segundo contam os mais antigos, a comunidade teve origem ainda no século XVIII, com a chegada de seis negras na região. Inicialmente, elas arrendaram uma área de três léguas em quadra, cujo pagamento foi feito aos poucos, por meio do trabalho na fiação de algodão e sua venda. Parte da terra comprada foi doada para a construção de uma capela, onde foi colocada uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. A partir disso, a comunidade ficou batizada como Conceição das Crioulas. O ofício artesanal desenvolvido sobretudo pelas mulheres da comunidade e a luta pela posse e uso da terra pelos quilombolas são heranças que seguem vivas na comunidade.
Pátio de São Pedro
Localizado em frente à Igreja de São Pedro dos Clérigos, o Pátio de São Pedro e seu entorno sempre estiveram muito ligados aos movimentos culturais e históricos do Recife. Atualmente, acontecem no pátio as atividades da Terça Negra, fruto do movimento político, cultural e religioso que reúne apresentações artísticas e culturais de tradição africana e regional. Os encontros acontecem uma vez ao mês, em uma terça-feira, com exceção do mês de novembro quando, em comemoração ao Dia da Consciência Negra, foram realizadas atividades em todas as terças-feiras do mês, sendo a última delas o próximo dia 27.
Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos
Próxima ao Pátio de São Pedro, também no bairro de Santo Antônio, está localizada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, templo católico edificado no século XVII pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, associação formada por trabalhadores negros escravizados. No altar da Igreja, a maioria das imagens são de santos negros. São eles: São Benedito, São Baltazar, Santa Efigênia e São Moisés, Santo Antônio de Catalagirona e Santo Elesbão.
Chão de Estrelas
Localizada na fronteira entre Recife e Olinda, a comunidade Chão de Estrelas ficou conhecida por sua importância para a vida cultural pernambucana. O maracatu e o coco são exemplos das raízes africanas que seguem dando frutos na região. O Brasil de Fato PE voltará a contar a história do Quilombo Chão de Estrelas futuramente no nosso jornal.
Edição: Monyse Ravena