Nunca houve tempo tão fértil para disseminação de mentiras e preconceito como a que estamos vivendo atualmente, em meio ao compartilhamento de informação em massa nas redes sociais. Como consequência, presenciamos constantemente a negação e ou relativização das atrocidades ocorridas em nosso passado recente, a exemplo da Ditadura Militar brasileira (1964-1985).
Para o bom combate à desinformação e o estímulo ao conhecimento, nada melhor que comentar sobre o livro "A repressão militar-policial no Brasil", que explora as marcas desse período e nos serve como imperativo moral do que devemos combater em nossa sociedade, o autoritarismo e a violência institucional como defensoras de uma suposta ordem, na qual o inimigo é o próprio povo brasileiro.
Escrito por presos políticos no auge da repressão do Estado militar, o livro que passou anos sendo conhecido pelo pseudônimo de João, precisou de todos os cuidados e artimanhas possíveis, contadas pelos autores, para se manter inteiro durante os anos que escreviam de dentro do Carandiru, entre 1972 e 1974. Os autores participaram de diferentes organizações de esquerda como a ALN, o Molipo e a VPR, entidades que lutaram e resistiram contra a Ditadura.
Lançado oficialmente em 2016, ano de mais um Golpe de Estado, a deposição da Presidenta Dilma Rousseff (PT), nos lembra o quanto o presente é atravessado pelo passado. Significa dizer que o golpe que sofremos guarda semelhanças com o golpe de 1964. Não à toa o seu protagonismo surgiu das mesmas frações de classe e instituições: a burguesia interna, a mídia, o judiciário e o congresso, que, num verdadeiro show de horrores, retomou em suas justificativas pelo impeachment o trio “Deus, família e propriedade”, tão central na década de 1960.
É urgente, portanto, nos voltar e compreender o histórico de atuação das instituições e dos sujeitos e sujeitas da nossa história para que possamos agir sobre o presente e criar perspectivas de futuro, onde a solidariedade seja o caminho a ser conquistado. O passado está o tempo todo nos dizendo que conhece-lo não é uma opção, mas uma necessidade.
* é historiadora e militante das Amélias: Mulheres do Projeto Popular no RN.
Edição: Monyse Ravena
