Pernambuco

AGRICULTURA

Hortas urbanas garantem alimentos saudáveis, seguros e baratos

Em Petrolina, a horta comunitária da escola Otacílio Nunes aproxima consumidores da produção de alimentos orgânicos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Reginaldo Corrêa trabalha há quase 30 anos na horta
Reginaldo Corrêa trabalha há quase 30 anos na horta - Vanessa Gonzaga

Um dos principais pontos de referência do bairro Areia Branca, em Petrolina, é a Escola de Referência em Ensino Médio Otácilio Nunes de Souza. No coração do bairro, a escola já foi até Escola Técnica Federal de Pernambuco (ETFPE), que lançou as bases para a criação do Instituto Federal na cidade. Não é apenas pela referência em educação no ensino médio que a escola é conhecida. Nos fundos das salas de aula, desde o início da década de 1980, funciona num espaço de cerca de 0,5 hectares uma horta urbana.
Reginaldo Corrêa, chamado pelos colegas de trabalho e clientes de Galego, trabalha na horta há mais de 30 anos. Desde criança ele aprendeu a trabalhar com a agricultura, já que sua mãe também trabalhava numa horta comunitária no bairro Gercino Coelho. “Meu pai morreu quando eu tinha 5 anos, aí ela foi trabalhar na horta e levava os maiores junto, pra irem aprendendo. Ela criou nós 5 com o dinheiro desse trabalho”. Ele planta as mesmas variedades que aprendeu a lidar com a mãe. Cebolinha, alface, coentro, manjericão, beterraba, espinafre e mais outras folhagens, todas orgânicas, que garantem o seu sustento e o da sua família.
Cerca de 30 pessoas trabalham na “Horta do Otacílio”, apelidada pelos moradores do bairro e regiões vizinhas. Homens e mulheres cultivam hortaliças, frutas, tubérculos e plantas medicinais. Uma das vantagens em relação às feiras livres da cidade é o contato direto da clientela com os agricultores e agricultoras, o que também impacta no preço, garantindo produtos mais baratos, seguros e saudáveis do que os produzidos com agrotóxicos. Além disso, a horta funciona todos os dias das 6h da manhã às 18h, exceto nas tardes de domingo, ao contrário das feiras, que acontecem em um turno uma vez por semana.
Daniel Santos trabalha há mais de 10 anos na horta. Aos 16 anos ele passou a trabalhar para ajudar a família. Daniel já tentou trabalhar em outros empregos, mas sempre volta pra horta, porque “o retorno financeiro é certo e aqui a gente sabe quanto tira por mês”. Essa é uma questão coletiva para os produtores, que deixaram outros empregos para trabalhar para si mesmos. Todos trabalham no mínimo há 10 anos no local e nem mesmo nos períodos de seca a produção para, o que garante a estabilidade financeira das famílias. Por mês, a renda total da horta é de cerca de 10 salários mínimos, pelos cálculos da associação de produtores. Mesmo com tanto tempo de existência, os agricultores não têm nenhum tipo de incentivo à produção ou acesso aos programas de fomento a agricultura. A gestão da escola cede o terreno e paga a água utilizada, tendo em troca a garantia de que a área não vai ficar abandonada e improdutiva, como era antes da criação da horta.
“Se eu tivesse minha própria terra ia ser melhor, mas aqui a gente já está na cidade, não precisa pagar pra trazer as coisas. Nossa vantagem é essa aqui, estar direto com o consumidor”, explica Daniel, que tem um número fixo de clientes há anos.
Mesmo sem apoio de órgãos governamentais, a feira resiste cumprindo um papel importante de produzir alimentos saudáveis e com preços acessíveis, o que democratiza o acesso à alimentação de qualidade para as camadas populares e ajuda a criar um vínculo entre produtores e consumidores, garantindo que os clientes conheçam o trajeto do alimento, da terra à mesa. Mesmo com as vantagens envolvidas na produção urbana, o que ajuda a assegurar a produção é mesmo o amor pelo trabalho, garante Reginaldo.

Edição: Monyse Ravenna