O Advento do Senhor e os direitos humanos
Nestes dias, o mundo comemora o aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Assembleia Geral da ONU a assinou e publicou no dia 10 de dezembro de 1948.
Em nossos dias, o papa Francisco nos tem chamado a atenção para o fato de que, em uma sociedade que absolutiza o mercado e diviniza o dinheiro, a vida humana e, especialmente, os direitos dos pobres, têm sido ignorados e desrespeitados. Isso não é diferente no Brasil onde se fala de privatizações de serviços públicos, sem se levar em conta os direitos humanos na sua amplitude.
Por isso, as pastorais sociais se unem a todas as pessoas que trabalham pela justiça para celebrar a atualidade dos Direitos Humanos para todos e todas e exigir o seu cumprimento como forma de organizar a sociedade.
No Recife, a Comissão de Justiça e Paz, junto com o fórum de articulação de leigos/as da arquidiocese, estarão promovendo uma vigília de meditação e oração que se fará na noite dessa 2ª feira, 10 de dezembro, no pátio do Palácio dos Manguinhos. Esta iniciativa se insere bem na celebração do tempo do Advento, que nos convida à conversão e ao compromisso com a vida.
No 1º domingo do Advento, a Igreja nos faz ouvir como texto do evangelho, as palavras do discurso escatológico de Jesus. Ali, ele nos adverte sobre a vinda do Filho do Homem, ou seja, a manifestação de sua vinda como juiz do mundo e salvador dos injustiçados e que virá para nos julgar sobre a maneira como amamos.
No evangelho de Mateus, esse discurso ocupa os capítulos 24 a 25. Esse se conclui com a parábola do juízo final, na qual Jesus diz: “O que fizestes a um desses pequeninos, foi a mim que fizestes”. Portanto, o modo de acolher a vinda de Jesus, hoje, é descobri-lo e a ele aderir nos rostos dos pobres, injustiçados e de todas as pessoas que precisam de solidariedade.
Em nossa Igreja, ainda há irmãos e irmãs que dividem fé e vida. Consideram justa a preocupação com os direitos humanos, mas é como se esse assunto não fizesse parte da fé ou fosse apenas um apêndice da missão da Igreja que deveria se concentrar apenas na dimensão religiosa. Foi exatamente isso que Jesus condenou no templo.
Num dos discursos que, a cada ano, costumamos escutar durante o Advento, Jesus fala do templo e do tipo de religião restrita à Casa do Senhor. Ele lamenta porque amava o santuário e sabia o que ele representava para o povo. Conforme Marcos, os discípulos se admiravam: “Mestre, olha que edifício lindo!. Mas Jesus respondeu: “Vocês estão vendo essas grandes construções? De tudo isso, não ficará pedra sobre pedra” (Mc 13, 1-2).
Por isso, como pastor dessa Igreja de Deus, convido todos os irmãos e irmãs a aproveitarem bem o feliz tempo do Advento, para revisar sua vida e atitudes, especialmente levando em conta os Direitos Humanos. Faz-se necessário promover as devidas mudanças pessoais em função do Reino de Deus e ajudar no processo de conversão da comunidade, tendo em vista a pessoa de Jesus Cristo que veio, vem e virá.
*Dom Antônio Fernando Saburido é monge e sacerdote beneditino, arcebispo de Olinda e Recife desde 2009.
Edição: Vinícius Sobreira