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FUTEBOL

Náutico finalmente reencontra os Aflitos

Timbu encerra ciclo de 5 anos na Arena e reinaugura sua verdadeira casa

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Adílson Cirilo de Souza é flanelinha e comemora o retorno do time para os Aflitos
Adílson Cirilo de Souza é flanelinha e comemora o retorno do time para os Aflitos - Vinícius Sobreira

Neste domingo (16) o Clube Náutico Capibaribe reinaugura seu tradicional estádio no bairro dos Aflitos, zona norte do Recife. A mudança dos jogos de futebol para a Arena de Pernambuco, ainda em 2013, dividiu a torcida timbu. Mas, cinco anos depois e com o acúmulo de dois rebaixamentos, é unânime que o resgate do Náutico passa pela volta à casa onde o Alvirrubro mandou seus jogos por 74 anos.

A festa começa já no início da tarde, com shows de artistas alvirrubros e um jogo comemorativo de despedida de Kuki, envolvendo atletas que se destacaram no clube nos últimos 20 anos. Por fim, o time principal do Náutico entra em campo contra o clube argentino Newell's Old Boys. A reabertura dos Aflitos tem mobilizado a torcida e representa o reencontro de muitos alvirrubros com o Náutico e com figuras que há décadas fazem parte do dia a dia do clube, mas que não puderam trabalhar na Arena.

Uma das figuras mais populares é Samuel Santos, o “Vevête”. Seu pai, Severino Marques, tinha o mesmo apelido e vendeu sorvete caseiro nos Aflitos de 1942 até o início dos anos 2000. “Ele trabalhou até bem perto de morrer. Eu já acompanhava ele desde os 17 anos e continuei aqui”, conta Vevête, hoje com 61 anos, 44 dos quais frequentando o clube na avenida Rosa e Silva.

Foto: Vinícius Sobreira

Nos últimos cinco anos, com o Náutico na Arena, o sorveteiro teve que buscar outros pontos. “Venho aqui três vezes na semana. Mas vou para o centro da cidade e Parque 13 de Maio”, conta. Os preços são acessíveis: cada bola custa um real. Morango e creme são os sabores mais vendidos. Perguntado sobre um jogo que o marcou, cita a virada sobre o Bahia por 4x1, na Série B de 2004, quando o seu ídolo Kuki marcou 3 gols e superou um jejum de 12 jogos.

Quem também tem mais de 40 anos dentro do Náutico é Felisberto da Silva, o “Barulho”, apelido que também herdou do pai Antônio José Nunes, vendedor de laranja e cachorro-quente nos Aflitos desde a década de 1930. Felisberto começou aos 10 anos, no início dos anos 1960, quando ia levar o almoço para o pai. “Ele trabalhou aqui durante 57 anos. Todo dia de treino vendia laranja, mas nos dias de jogos era cachorro-quente”, recorda. A clientela ia do torcedor ao dirigente, passando por atletas e comissão técnica. Com a morte do pai, nos anos 1980, Felisberto assumiu a tarefa.

Foto: Divulgação/Naútico

Mas nos últimos 5 anos ele pouco foi à Rosa e Silva, mantendo-se apenas com as laranjas no Centro de Treinamento do Náutico, na Guabiraba, a 10 km dos Aflitos. “Financeiramente não mudou muito, mas foi triste perder o convívio com muitos amigos do clube e pessoas que conheço”, lamenta. Sua melhor memória dos Aflitos não poderia ser outra: a vitória por 1x0 sobre o Sport, em 21 de julho de 1968, jogo que deu o sexto título Pernambucano consecutivo ao Náutico, tornando o alvirrubro o único hexacampeão estadual, marca que perdura até hoje. “Eu estava lá, tinha 14 anos. Só não vi em 1963, mas de 64 a 68 eu vi todos. Meu pai vendia cachorro-quente em baixo das sociais, mas quando começava a partida eu subia para as cadeiras para ver o jogo”. Barulho se mostra confiante para que seu cachorro-quente volte a acompanhar os jogos no estádio. “Conversei com o presidente [Edno Melo] e ele disse que meu lugar é garantido”, comemora.

E quem circula pela Rua 48 ou Rua da Angustura já deve ter visto uma figura que está lá todos os dias, sempre com a camisa do Náutico. É Adílson Cirilo de Souza, o “Chupeta”, flanelinha que trabalha naquelas ruas cuidando e lavando carros e auxiliando os prédios vizinhos sempre que demandado. Alvirrubro desde o berço, começou a trabalhar no local aos 15 anos e sentiu o impacto econômico e principalmente emocional da saída dos jogos no estádio. “Era para jogar nos Aflitos. Na Arena não tem futuro. Jogo tem que ser aqui, pertinho”, lamenta. “Houve o impacto [no bolso], porque em dia de jogos eu ganhava um trocadinho, mas bom que vai voltar. Além de melhorar o movimento, vai ficar perto. É melhor que ir para a Arena”, pontua, sempre em referência à dificuldade de acesso à Arena de Pernambuco, que fica na cidade de São Lourenço da Mata, a 20 km dos Aflitos.

Foto: Vinícius Sobreira

Adílson teve sua primeira camisa alvirrubra aos 20 anos. Hoje, aos 63, não sabe quantas tem, mas afirma serem mais de 10. “Todo dia uso uma”, afirma, entre risos. Um time que o marcou foi o que jogou a Série A de 2007 e 2008, do qual ele destaca os nomes de Kuki e Elicarlos. Seu expediente nas ruas vai das 11h às 22h30, lavando em média três veículos e cuidando de muitos outros. Mas o trabalho nem sempre impede Chupeta de assistir aos jogos nas arquibancadas dos Aflitos. “Algumas vezes eu entro, quando tenho um tempinho. E nesse domingo eu vou, já é certo. Assim que acalmar o movimento na rua eu entro. Vou assistir Kuki”, garante.

Edição: Marcos Barbosa