O Brasil é um país referência mundial no tratamento de HIV e Aids. De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2018, em 2012, a taxa de detecção de Aids era de 21,7 casos por cada 100 mil habitantes e em 2017 o número caiu para 18,3. O resultado se deve, principalmente, ao fato de o Brasil ter sido um dos primeiros países a incorporar os medicamentos antirretrovirais, em 1995. No entanto, o congelamento de investimentos na saúde com a PEC 95 coloca em risco essa política de tratamento. O Brasil de Fato PE conversou com Wladmir Reis, que é coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Positiva (GTP+) e convive com o HIV há 26 anos.
BdF: O HIV carrega consigo uma série de preconceitos, tanto na convivência social e também sobre a sexualidade e os números da população que são mais vulneráveis a esse processo. Como é que vocês trabalham isso?
Wladimir: Eu diria que o HIV ele não é efetivamente só uma patologia, ele traz outros contextos. Quando ele chega no Brasil e ainda me lembro como ontem, ainda não estava com HIV, o ministro da saúde do Brasil da época, começo da década de 1990, dizia que AIDS não era uma doença para o Brasil, era uma doença de gays americanos e europeus e que não chegaria ao Brasil. E assim, depois de alguns anos veio a epidemia. A epidemia ela se mostrou muito ávida nesse sentido. Sobre isso eu diria é importante trazer a discussão para as populações de maior vulnerabilidade, porque no contexto da epidemia na América, não é só no Brasil, populações são mais vulneráveis são gays, travestis, transexuais, profissionais do sexo, usuários de drogas licitas e ilícitas de qualquer lugar. Eu diria que é o grande desafio ainda presente, é que as pessoas acham que o HIV está muito distante delas e ela não percebem que o HIV não tem preconceito, o preconceito é uma coisa do ser humano.
BdF: Agora com medidas do governo de Bolsonaro e a aplicação da PEC 95, que é o congelamento de gastos na saúde, qual o maior desafio para os próximos anos?
Wladimir: Quando a gente se depara com um governo conservador e com um povo que devido as dificuldades e os desafios da sociedade hoje, define um governo mais conservador, um governo que tem enquanto papel não pensar a cidadania do seu cidadão, então a gente fica extremamente preocupado. Nós estamos nos organizando, não é de hoje, o GTP tem 18 anos, então o que eu diria mais é que nada foi nos dado, enquanto garantia do SUS para o atendimento das pessoas vivendo com HIV, seja dentro da assistência, quanto do acolhimento, como da prevenção ao HIV. Pensar que estamos diante de um fato novo de que essa política não funciona me deixa muito estarrecido por que são fatos comprovados a nível boletins epidemiológicos, no Brasil, na América Latina e no Mundo.
BdF: Nesse processo da política de prevenção e combate, como está em Pernambuco? Como é o acesso ao tratamento e como é que vocês veem o possível desafio de diminuição?
Wladimir: A gente percebe que hoje, enquanto fato, a gente ainda precisa avançar mais na perspectiva da prevenção. Porque hoje a epidemia ela tem um outro contexto social, então são populações de maior vulnerabilidade, não efetivamente de populações que sejam essas ou aquelas, mas da vulnerabilidade na hora da negociação da relação sexual. Então muitos heterossexuais, muitas pessoas que efetivamente não são pensadas a partir desse lugar, elas estão sorologicamente positivas, isso é muito mais fácil de você perceber dentro dos serviços de saúde. O estado de Pernambuco tem uma gama de serviços de saúde, hospitais de referência que você vai se deparar com muitas pessoas, muitos homens, com muitas mulheres, com muitas crianças que vivem com HIV.
BdF: Quais os maiores desafios para 2019?
Wladimir: A gente está se reorganizando. Vamos dar continuidade a questão da testagem do HIV, do acompanhamento desse sujeito ao serviço de saúde e a adesão ao medicamento. Vamos buscar a mídia para reforçar a importância desse programa de combate a Aids. Então o nosso foco é pedir o apoio do povo brasileiro, porque a gente não pode modificar os processos que já são constituídos, que foram lutas de muitos de nós. A gente vai sensibilizar o povo para que mantenha o programa e os direitos adquiridos e alcançar mais direitos, porque nós somos cidadãos.
Edição: Monyse Ravenna