Pernambuco

CARNAVAL

Com 72 anos, Pitombeira dos Quatro Cantos nasceu do improviso de amigos

Troça carrega até hoje tradição das passistas e fantasias de luxo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Até hoje, sede do bloco é ponto de encontro para foliões antes, durante e depois do carnaval
Até hoje, sede do bloco é ponto de encontro para foliões antes, durante e depois do carnaval - Divulgação

O ano era 1947. Durante a folia de carnaval, um grupo de rapazes que moravam nos bairros do Amparo e Quatro Cantos decide sair ás ruas sem camisa, carregando galhos com pitombas e compondo músicas. Foi assim, com muito improviso e alegria que nasceu Pitombeira dos Quatro Cantos, uma das troças mais conhecidas do Carnaval de Olinda.
Com as cores amarelo e preto, uma das marcas da troça são as fantasias luxuosas,que a cada ano tem um tema, e as dezenas de passistas que sobem e descem as ladeiras do sítio histórico com coreografias sincronizadas. Otávio Bastos é passista profissional de frevo e tem um canal no Youtube dedicado ao ritmo, o Mexe Com Tudo. Para ele, conservar a tradição das passistas é importante para diferenciar os blocos e troças "Eu, particularmente, adoro ver passistas na rua. Ás vezes saem mais organizados, com aquelas roupas que a gente conhece e também alguns "menos" organizados, que abrem as rodas de frevo no meio da orquestra. É sempre bom ver os corpos em movimento".
Além disso, Pitombeira tem há 39 anos o mesmo porta estandarte, seu Agenor Manoel Tavares, que tem a mesma idade da troça. Pitombeira sai sempre na segunda de carnaval, com concentração sua sede, que fica na Rua 27 de janeiro, no bairro do Carmo. Além de todo o material necessário para fazer a folia no carnaval, a sede também guarda peças históricas, como o estandarte de 1963, ano em que o bloco comemorou seu décimo ano com estandarte. Aliás, as cores da peça podem até variar, mas o que caracteriza o maior símbolo do Pitombeira é a pintura da Rua Prudente de Morais bem no centro do estandarte, ladeado de galhos de pitombeiras. O formato em losango também é obrigatório.
Além de diversos materiais que contam a história da troça, a sede funciona durante o restante do ano como um bar. É lá que o “bate-bate com doce”, uma mistura alcoólica de polpa de maracujá, melaço de cana e goiabada de tira gosto, presente na letra do hino do Pitombeira, pode ser provado. A tradição da bebida veio com o costume de “batizar” os organizadores da troça com a bebida. Hoje, o batismo acontece apenas na entrada de novos membros.
Uma outra característica forte é a relação com a música. O hino, composto por Alex Caldas em 1950, é tocado por orquestras de outros blocos com as vozes dos foliões, que tornaram a música um dos frevos clássicos da festa, já que como diz a letra, “se a turma não saísse, não havia carnaval”.
Essas tradições que acabaram se tornando as características mais marcantes do Pitombeira são mantidas com muito apreço pela organização da troça e também pelos foliões, que cobram a presença das passistas e muitos até fazem suas fantasias para desfilar com a troça. Para Otávio, "Manter a tradição é uma forma de reconhecer quem a gente é, e principalmente de onde viemos. No frevo, a música tem muita influência europeia, mas a dança é negra. Eram escravos que dançavam, e eles tinham esse corpo arredio. O frevo surge desse embate, numa situação cultural onde tudo era novo e vivo".
Em 2017, quando Pitombeira fez seu aniversário de 70 anos no dia 17 de fevereiro, o símbolo do número sete foi mantido. Sete orquestras do Recife homenagearam os sete presidentes da troça. Naquele ano, a comemoração do aniversário foi uma das maiores prévias da história da troça.
Para evitar que o bloco não saia por dificuldades financeiras, como aconteceu apenas duas vezes nesses mais de 70 anos, em 1949 e 2002, Pitombeira vem desde o setembro de 2018 organizando a arrecadação com a venda de camisas e prévias, como a do último domingo (17), quando o bloco completou 72 anos.

Edição: Monyse Ravenna