O senador pernambucano Fernando Bezerra Coelho (MDB) foi escolhido por Bolsonaro para liderar a bancada governista no Senado. Sobrinho de um governador e senador "biônico" indicado pela da ditadura, FBC fez sua trajetória por diversos partidos políticos, mas nunca se afastou das origens oligárquicas que representa.
A família Coelho sempre foi um núcleo de poder no Sertão pernambucano. A primeira figura notória da família a exercer domínio no Vale do São Francisco foi Clementino de Souza Coelho (1885-1952), conhecido na região como Coronel Quelê, latifundiário e industrial reconhecido como “chefe político” de Petrolina e região.
Um dos seus filhos, Nilo Coelho, morou na Bahia mudou-se para Petrolina com o objetivo de construir sua carreira política. E conseguiu: deputado estadual (1947-51) e federal (1951-66), aliou-se aos militares no golpe e ditadura instalada a partir de 1964. O General Castelo Branco nomeou Nilo governador de Pernambuco (1967-71) e, em seguida, senador (1978-83). Durante a ditadura os Coelho também tiveram três prefeitos de Petrolina, cargo que Nilo nunca ocupou, mas onde sua família sempre esteve.
Fernando Bezerra Coelho é sobrinho de Nilo. Como o tio, FBC também iniciou sua carreira política como deputado estadual (1983-1987), eleito pelo PDS - antigo ARENA, partido dos militares e que deu suporte à ditadura. Quando a sigla mudou de nome novamente, para PFL, Bezerra Coelho ainda estava lá. Depois mudou-se para o PMDB, partido pelo qual foi eleito para a Câmara Federal (1987-1992), seguindo a trilha do tio.
Deixou o mandato de deputado federal para suceder (de 1993 a 1997) seu primo Guilherme Coelho na prefeitura de Petrolina. Ao fim do mandato de FBC, Guilherme voltou à prefeitura e, num esquema de alternância com o primo, Fernando Bezerra também voltou a ser prefeito (2001-04), agora já pelo PPS, partido que atua como “linha auxiliar” do PSDB.
Foi reeleito na prefeitura, mas abandonou o cargo na metade do mandato, em 2006, para assumir - a convite do governador Eduardo Campos - a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e, mais importante, presidir o Complexo Portuário de Suape. Nesse período FBC migrou para o Partido Socialista Brasileiro (PSB).
É pela gestão de Suape que Bezerra Coelho é investigado na Operação Lava-Jato. As suspeitas da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República (PGR) são de que FBC recebeu R$ 41,5 milhões de propina em contratos com as construtoras Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa. O valor teria sido desviado da construção da Refinaria Abreu e Lima. A PGR acusa o senador de dezenas de operações de lavagem de dinheiro, num esquema para financiar a campanha de 2010 para a reeleição do então governador Eduardo Campos (PSB).
Com a confiança de Eduardo, foi indicado pelo PSB para assumir o Ministério da Integração Nacional (2011-13) no primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT). No cargo, foi criticado por fornecer cisternas de plástico à população do semiárido, em vez das cisternas de placa de concreto. Deixou o cargo para se candidatar ao Senado Federal pelo PSB, sendo recompensado com doações da indústria do plástico para a campanha.
Traições
Como senador, Bezerra Coelho votou a favor do golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff, a mesma que lhe nomeou ministro anos antes. Meses depois se esforçou para conseguir um espaço para a família no governo Temer (MDB), contrariando a vontade do seu partido, já que o PSB assumiu postura de independência.
FBC foi bem sucedido e conseguiu o Ministério de Minas e Energia para o seu filho Fernando Bezerra Coelho Filho, deputado federal, que acabaria deixando o PSB para entrar no DEM, recolocando o sobrenome da família de volta às origens, já que o DEM foi o PFL, PDS e Arena.
No mesmo 2016 da derrubada de Dilma, FBC conseguiu que seu outro filho, o deputado estadual Miguel Coelho (PSB), fosse o 9º Coelho eleito para a Prefeitura de Petrolina. Miguel segue no PSB, por enquanto. Já o filho caçula de FBC, Antônio Coelho (DEM), foi eleito em 2018 para seu primeiro mandato como deputado estadual de Pernambuco.
O pai, FBC, migrou para o partido de Temer, o MDB, mas também lá é acusado de traição pelos dirigentes estaduais do partido, o deputado federal Raul Henry e o senador Jarbas Vasconcelos. Na eleição de 2018, ao ver o MDB caminhando para uma aliança local com o PSB, Fernando Bezerra tentou passar a perna no seu antigo partido e no atual ao mesmo tempo, buscando uma indicação "biônica" via diretório nacional para que ele controlasse o partido em Pernambuco. O movimento foi impedido pela Justiça e a sigla segue comandada por Henry.
Agora, no governo mais militarizado desde o período da ditadura, FBC se posiciona onde sua família sempre esteve e vai representar os interesses do governo Bolsonaro no Senado Federal. Fernando Bezerra Coelho, eleito senador em 2014, tem mandato até 2022, quando sua trajetória será colocada novamente sob avaliação do povo pernambucano.
Os donos da Prefeitura
Do fim do século 19 até o início do século 21, nada menos que nove prefeitos de Petrolina possuem o poderoso sobrenome Coelho: Lucindo Benício Rodrigues Coelho (1898-1901), Chispiniano Chispim Coelho Brandão (1910-12), Antônio Coelho (1930), José de Souza Coelho (1955-59 e 1964-69), Geraldo de Souza Coelho (1973-77), Augusto de Souza Coelho (1982-88), Guilherme da Cruz Coelho (1989-92), Fernando Bezerra Coelho (1993-96, 2001-2004 e 2005-06) e, atualmente, Miguel Coelho (2016-20). A família esteve a frente da Prefeitura de Petrolina em 51 anos dos últimos 120 anos.
Edição: Monyse Ravena