Pernambuco

Manifestação

Com bandeira “Universidade para todos”, jovem bolsista protesta em festa de formatura

Estudante pernambucana foi a primeira pessoa da família a conseguir acessar o ensino universitário

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Luciana fez manifestação em seu baile de formatura no curso de Direito
Luciana fez manifestação em seu baile de formatura no curso de Direito - Arquivo pessoal

Estendendo duas bandeiras com os dizeres “Jamais será laranja” e “Universidade é para todos”, Luciana Lima desceu os degraus de uma casa de festa em Apipucos para iniciar o tão aguardado baile de formatura do curso de Direito, realizado no mês de março. Rapidamente o vídeo que registrou esse momento vivido pela jovem moradora da comunidade da Ilha de Joaneiro, no bairro recifense de Campo Grande, foi compartilhado nas redes sociais e circulou por diversos grupos na internet, com bastante gente apoiando o protesto feito por ela naquela noite.
Luciana conta que a ideia foi inspirada em um outro vídeo que ela recebeu, também via redes sociais, em que uma pessoa também realizou protesto semelhante. Essa atitude inspirou a bacharel em Direito a fazer o mesmo. “Despertou em mim, a vontade de aproveitar o momento para fazer isso (o protesto). O apoio que eu tive, foi do meu noivo, para confeccionar as bandeiras. Até então, era surpresa, ninguém sabia de fato o que iria acontecer”, conta. Apesar de todos os seus colegas e familiares terem sido pegos súbito, ela conta que as reações foram muito positivas. “Tivemos a aprovação de todo mundo na minha casa. Muitas pessoas no baile apoiaram, pegaram emprestada a bandeira para tirar foto, elogiaram e gritaram junto conosco… Pessoas que nunca nem vi na vida”, relembra.
Luciana formou-se em uma tradicional universidade particular pernambucana no fim de 2018. Apesar de não ter sido beneficiada pelos programas voltados para a expansão do ensino superior que marcaram os governos de Lula e Dilma (PT), como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) ou o Programa Universidade para Todos (Prouni), ela foi estudante de escola pública e ingressou na universidade por meio de uma bolsa integral, que lhe foi concedida por ela estar dentro do considerado patamar de baixa renda. 
Em seu protesto, a jovem se propôs a contestar a afirmação feita pelo atual Ministro da Educação do governo Jair Bolsonaro (PSL), Ricardo Vélez, que afirmou em uma entrevista à Valor Econômico concedida no mês de janeiro que “universidade não é para todos”. “A ideia com a bandeira ‘Universidade é para todos’ é expor que não deve haver exclusão dos pobres ou dos negros nas universidades. A ideia foi gritar para o sistema que as portas dos privilégios foram rompidas. Universidade é para todos, educação é para todos. É um direito assegurado na Constituição”, reforça. 


No dia 1º de janeiro de 2019, em seu discurso de posse, o atual presidente do Brasil afirmou que “Nossa bandeira jamais será vermelha”, em uma referência ao socialismo. A frase foi re-significada por Luciana, com a expressão “Jamais será laranja” substituindo os dizeres, em referência aos primeiros meses do mandato de Bolsonaro, marcado por escândalos envolvendo possíveis crimes de caixa dois e laranja, como o caso do motorista Fabrício Queiroz, policial militar e ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, filho do presidente. “A bandeira do Brasil que estava desenhada como uma laranja, eu a escolhi porque acabou de surgir a polêmica associada ao Bolsonaro. Ele não é tão ético como ele se mostrou na candidatura e hoje estamos vendo toda a farsa sendo desvendada, como com a candidata laranja aqui do estado de Pernambuco”, explica.
Esse outro caso a que Luciana se refere envolve a eleição do deputado federal pernambucano Luciano Bivar, fundador e presidente nacional do PSL há 20 anos. Nas eleições de 2018, o PSL fez um repasse de R$ 400 mil do fundo partidário a Maria de Lourdes Paixão, candidata a deputada federal que recebeu menos de 300 votos. O valor recebido é superior, inclusive, ao que o partido repassou à campanha de Jair Bolsonaro. 

Vida de universitária
Se Luciana defende que a universidade é para todos, isso se dá porque o acesso ao ensino superior tem conseguido operar mudanças significativas em sua vida e na de toda a sua família. No início da faculdade, ela conciliava os estudos com o trabalho de operadora de telemarketing. A rotina puxada ficou ainda mais difícil durante o período em que a estudante esteve desempregada. Luciana começou a buscar estágios na sua área, até que conseguiu uma vaga em um escritório de advocacia. 
Hoje em dia, a jovem continua trabalhando no mesmo lugar, mas agora como assistente. “Ainda não sou advogada, porque preciso ainda fazer o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas estou estudando para ele”, conta, afirmando que é esse seu principal objetivo este ano. A bacharel em Direito declara interessar-se principalmente pelas áreas do Direito trabalhista, previdenciário e da família.  
Luciana foi a primeira pessoa da sua família a se formar no ensino superior e, por isso, acredita que estar na universidade foi algo essencial para ela ser quem é hoje. Apesar da sua mãe não ter formação acadêmica, a história de Luciana foi exemplo para que suas três irmãs também se interessassem em cursar uma faculdade: “Hoje, eu tenho uma irmã que está prestes a se formar em farmácia, a outra cursou serviço social e, depois, mudou para administração. Tem, ainda, uma que ainda não entrou na universidade, mas ela trabalha e está tentando”, explica.
 

Edição: Monyse Ravena