Pernambuco

reputação

Moro nomeia pernambucano que relativizou abuso sexual de PMs contra adolescentes

Wilson Damázio deixou a Secretaria de Defesa de Pernambuco em 2013 após declarações consideradas inapropriadas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Hoje ele vive na Bahia, onde presta consultoria em desenvolvimento gerencial
Hoje ele vive na Bahia, onde presta consultoria em desenvolvimento gerencial - Governo de Pernambuco

O ministro Sérgio Moro nomeou, para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) do Ministério da Justiça, o delegado federal aposentado Wilson Salles Damázio, ex-secretário de Defesa Social de Pernambuco, de onde foi exonerado após relativizar denúncia de violência sexual contra adolescentes por parte de policiais militares.

Em 2013, Wilson Damázio deixou a SDS, protagonizando o último "episódio" de uma série de reportagens da jornalista Fabiana Moraes. A repórter publicou no Jornal do Commercio um conteúdo jornalístico especial em memória dos 80 anos do livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Fabiana comparou o comportamento dos senhores em relação às mulheres escravizadas, descrito na obra de Freyre, com o comportamento de policiais em relação a garotas -- algumas menores de 18 anos -- que se prostituíam na Avenida Norte, no Recife (PE).

Na série, Fabiana apresentou casos em que policiais abusavam das moças, obrigando-as a se exibir. De acordo com a matéria, um PM chegou a colocar a arma na cabeça de uma adolescente de 13 anos exigindo que a menina tivesse relações sexuais com ele. Esse e outros casos de violência envolviam agentes das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicleta (Rocam), do Grupo de Ações Táticas Itinerantes (Gati) e da Patrulha do Bairro.

Ao longo da conversa o delegado aposentado disse que a polícia "tem muitos problemas, com mulheres principalmente" e apresentou seu ponto de vista. "Elas às vezes até se acham porque estão com policial. O policial exerce um fascínio no dito sexo frágil. Eu não sei por que é que mulher gosta tanto de farda. Todo policial militar mais antigo tem duas famílias, tem uma amante, duas", contou. Fez, ainda, questão de apresentar memórias. "A gente ia pra Floresta [cidade do Sertão], para esses lugares, quando chegávamos lá, colocávamos o colete, as meninas ficavam tudo 'sassaricadas'. Para ela, é o máximo estar dando para um policial. Dentro da viatura, então, o fetiche vai lá em cima, é coisa de doido", avaliou.

Na mesma entrevista, Damázio classifica a homossexualidade como "desvio de conduta" e faz uma comparação desproporcional. Ao falar de policiais que violentaram sexualmente uma prostituta mantendo uma arma na cabeça, ele alega que "desvio de conduta a gente tem em todo lugar: tem na casa da gente, tem um irmão que é homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu?", disse Damázio.

Natural de Olinda, Wilson Damázio começou a carreira como policial civil, depois, foi agente, delegado e superintendente da Polícia Federal no estado. Passou ainda pelo Ministério da Justiça, na diretoria de Sistema Prisional Federal, até que assumiu a SDS de 2010 a 2013, durante o governo Eduardo Campos. Hoje ele vive na Bahia, onde tem prestado consultoria em desenvolvimento gerencial.

Questionado pela revista Época sobre a nomeação, o Ministério da Justiça tentou se desvincular, alegando que as declarações de Damázio não refletem a posição do ministério e que a nomeação do delegado aposentado foi por motivos técnicos.

O CNPCP é composto por 13 membros titulares e mais 13 suplentes, mas os 26 são convocados para as reuniões mensais em Brasília. Entre os titulares está o pernambucano Pedro Eurico Barros e Silva, secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. Outro pernambucano nomeado, mas como suplente, é o juiz Roberto Costa Bivar, da Vara de Execução Penal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Na ocasião da nomeação ganhou destaque o nome de Ilona Szabó, cientista política especializada em redução da violência, política de drogas e estudos de conflitos e paz. A rede bolsonarista não gostou da nomeação de Szabó e, após pressão, Sérgio Moro revogou o nome da cientista política, deixando a cadeira vaga.

Edição: Marcos Barbosa