Após a chegada da lama tóxica da Vale nas barragens de Três Marias e Retiro Baixo, uma das preocupações tem sido a contaminação do Rio São Francisco, que em algumas cidades já vem apresentando sinais de contaminação, como a turbidez da água. Caso a suspeita de contaminação se concretize, serão mais de 500 municípios afetados social e economicamente.
Impactos na pesca artesanal
Para quem trabalha com a pesca artesanal, são diversos impactos de diferentes dimensões, desde a contaminação e extinção de algumas espécies de pescado até o adoecimento físico e mental dos pescadores e pescadoras, como explica Elionice Sacramento, do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais. “A contaminação impacta as espécies de pescado e impacta os pescadores e as pescadoras na saúde física, porque são corpos que estão em imersos nessas águas contaminadas e que tem o rio como um ambiente de trabalho. Há também o adoecimento mental porque aqueles trabalhadores vêem o seu território de vida, identidade e sustento impactado”, afirma.
Um outro problema elencado é a falta de comunicação do Estado sobre os níveis e locais de contaminação, o que gera desinformação sobre as áreas ainda disponíveis para a pesca: “A nossa missão, que é colocar na mesa de todo brasileiro alimentos de qualidade fica comprometida quando a gente não tem o apoio do Estado no sentido de tentar políticas públicas com seriedade, porque existe um conflito em relação a divulgação ou não, a confirmação ou não dessas notícias [sobre a contaminação]. O Estado fica tentando dissimular o problema porque não quer tratar e ás vezes a gente fica na situação de ter que compactuar com esse silenciamento” ressalta.
Impactos para a população
Se a contaminação das águas do Velho Chico com o esgoto vindo das cidades já preocupa, a chegada dos resíduos tóxicos pode impedir a população de consumir a água, como explica João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco: “Existem tecnologias nas estações de tratamento que deixam a água contaminada com o esgoto potável, mas água com rejeitos não, porque os metais pesados não são retirados com a tecnologia atual das estações de tratamento”. Um dos maiores problemas relacionados ao consumo da água com metais pesados como chumbo, zinco, ferro, mercúrio e outras substâncias é o comprometimento da saúde da população. “Eles são muito prejudiciais para a vida das pessoas. Esses metais podem ocasionar problemas neurológicos, por isso o cuidado com esse tema”, explica.
Hoje, a lama tóxica está no curso do Rio Paraopeba e nas barragens que vão em direção ao São Francisco, assim, frequentemente as chuvas nessa região podem misturar novamente o resíduo tóxico com a água. Uma solução apontada por João é a retirada mecânica dos resíduos, mas isso pode gerar outros problemas: “O que a gente não pode é transferir problemas. O rejeito tem que ser tirado, mas vamos botar aonde? dependendo de onde esse rejeito for colocado, ele vai contaminar outro afluente do rio” questiona.
Impactos para a agricultura familiar
Na produção de alimentos, o principal problema é a contaminação. Levando em consideração que os alimentos agroecológicos e vindos da agricultura familiar são uma opção saudável e segura, a contaminação desses alimentos com metais pesados pode causar o mesmo impacto do que o consumo direto da água. Um outro problema na produção dos alimentos com a água são os possíveis problemas de saúde aos produtores, que terão contato diário com água contaminada e também aos alimentos, que podem reduzir em quantidade e qualidade, já que a água utilizada na irrigação estará imprópria.
Além disso, Cícero Félix, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), reforça o impacto na vida da população que consome os alimentos e das comunidades que os produzem: “Em cadeia, toda a população está sendo atingida. São impactos ambientais, econômicos e sociais, porque a capacidade de produção e a qualidade desses alimentos fica comprometida. Os impactos ainda são imensuráveis. A vida das pessoas é afetada nessa instabilidade de não saber que tipo de água estão usando para diversas finalidades. São águas que vem para promover a vida ou para provocar a morte de plantas, peixes e até pessoas?
Edição: Marcos Barbosa