Em audiência de conciliação realizada na última quarta-feira (24), no Foro de Justiça Federal em Belo Horizonte, foi determinada a autorização para que a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) possa escalonar aumento tarifário para as passagens de metrô a partir da próxima quarta-feira (01). Na reunião, estiveram presentes representantes da CBTU, Advocacia Geral da União, Ministério Público Federal (MPF) e Instituto de Defesa Coletiva.
A partir da próxima semana, a passagem de metrô poderá ser reajustada de R$1,60 para R$2,10. Foram indicados novos aumentos graduais até 1º de março de 2020, seis no total, quando é previsto que a tarifa passe a custar R$4. Esse aumento escalonado representará um crescimento de 150% em cima do valor atual. Em contrapartida, a CBTU se comprometeu a investir, até 31 de dezembro, R$ 2 milhões em projetos voltados a mobilidade urbana, meio ambiente e/ou sustentabilidade, no sistema metroferroviário.
De acordo com Levi Arruda, do Sindicato dos Metroviários (Sindmetro-PE), o aumento proposto não irá melhorar a qualidade do transporte público oferecido para a população e também não irá melhorar as condições de trabalho dos profissionais do metrô. “O dinheiro arrecadado é dividido. Parte vai para uma cota do governo federal e outra parte, que deveria ir para o sistema de metrô, vai, na verdade, para as empresas de ônibus administrarem. É o sindicato das empresas de ônibus que administra o dinheiro que deveria vir para o metrô. Só que, hoje, essas empresas de ônibus já tem uma dívida de quase R$ 100 milhões com o metrô, porque não repassam esse dinheiro. Não vai melhorar a vida nem do trabalhador, nem da população que usa o metrô do recife”, explica.
Levi também relembrou que, em 2018, sob pressão de organizações e da sociedade civil, a Justiça derrubou uma decisão de aumento da tarifa do metrô. “Não tinha nenhuma planilha explicando esses custos. De onde tiraram essa história do aumento de metrô? Agora, eles vêm com esse aumento absurdo, para a gente pagar a conta e dizer que é porque o governo não está mais dando subsídio. Metrô é transporte público, é direito dos cidadãos. Então, o governo tem que colocar a sua parcela de contribuição. Se possível, a tarifa é pra ser zero”, reforça.
Os aumentos foram autorizados para os transportes metroferroviários de Recife, Belo Horizonte, João Pessoa, Maceió e Natal. Através de nota, a companhia justificou que “após audiência de conciliação na 15ª Vara da Justiça Federal de Minas Gerais, a CBTU iniciará a implementação do reequilíbrio tarifário de maneira progressiva.” A CBTU reforça que “há cerca de 13 anos não há alteração nas tarifas em Belo Horizonte, 15 anos em Natal, Maceió e João Pessoa e sete anos em Recife, atingindo avançada defasagem ante ao custo de manutenção do sistema.”
No entanto, para Paloma Macena, que trabalha como auxiliar administrativo e utiliza regularmente o transporte público metroviário para se locomover, ainda que a tarifa de metrô do Recife não sofra reajuste há alguns anos, “o aumento é muito alto e o do ano que vem, então, nem se fala”. Ela afirma que o gasto a mais irá fazer falta no seu orçamento mensal e que a qualidade do serviço oferecido não justifica o preço cobrado. “Nos horários de pico os metrôs ficam superlotados. O ar-condicionado não funciona e já presenciei metrôs quebrando no meio do caminho”, afirma.
Com o aumento de R$1,60 para R$2,10 os usuários que fazem duas viagens por dia (uma de ida e uma de volta) irão desembolsar, diariamente, R$1 a mais. Por mês, serão R$20 a mais para quem faz viagens todos os dias úteis. Em 2020, com a tarifa a R$4, os usuários que utilizam o metrô duas vezes por dia, de segunda a sexta-feira, terão que desembolsar R$160 por mês para acessar o transporte metroviário. Esse valor representa mais de 15% do salário mínimo estabelecido para 2020 pelo presidente Jair Bolsonaro, previsto em R$1.040.
Tabela dos aumentos
Atualmente: R$ 1,60
1º de maio a 30 de junho de 2019: R$ 2,10
1º de julho a 31 de agosto de 2019: R$ 2,60
1º de setembro a 31 de outubro de 2019: R$ 3
1º de novembro a 31 de dezembro de 2019: R$ 3,40
1º de janeiro a 28 de fevereiro de 2020: R$ 3,70
1º de março a 30 de abril de 2020: R$ 4
Edição: Monyse Ravenna
