Na última segunda-feira (06), aconteceu o ato político de lançamento do Curso Pré-Enem Ciranda Popular, uma realização da Frente Brasil Popular em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Rede de Cursinhos Populares Podemos Mais, do movimento Levante Popular da Juventude. O projeto tem como objetivo formar turmas de jovens interessados em entrar na universidade, com a preparação realizada por professores voluntários.
O evento aconteceu na Praça da Conceição, no Morro da Conceição, Zona Norte do Recife. Estiveram presentes, estudantes, pais e mães, educadores, militantes de movimentos populares e organizações da sociedade civil. A ação foi viabilizada por meio de um Projeto de Extensão, registrado pelo professor Caetano de Carli, da UFRPE. As aulas acontecerão em Recife e Garanhuns.
De acordo com Caetano, houve uma demanda de aproximadamente 250 estudantes interessados em participar do curso. No entanto, dadas as condições de estrutura física, foi necessário fazer uma seleção. “Vamos estar com 40 pessoas em Recife e 60 em Garanhuns. Um total de 100 pessoas, mas pensando sempre no desafio de tentar abrir mais salas, oferecer mais turmas, porque a demanda é grande e a gente tem que dar conta dela”, afirma o professor da UFRPE.
Joyce Kelly, 18, é moradora da Bomba do Hemetério e uma das 100 estudantes que estará participando das aulas do Curso Ciranda Popular. Interessada em cursar engenharia civil, ela afirma que não tinha condições de fazer um curso preparatório e, por essa razão, estava buscando de maneira autônoma revisar os conteúdos do Enem. “O curso vai me ajudar a buscar mais entendimento das matérias da escola em que tenho complicações”, conta entusiasmada.
Para a estudante, a oportunidade de estar tendo aulas de reforço pode ser um diferencial nesse momento em que a educação brasileira tem sofrido severos cortes de orçamento sob a gestão do ministro da educação Abraham Weintraub, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). “A educação está cada vez mais difícil. O governo, infelizmente, não está nos proporcionando chances para estudar, de ser alguém melhor. A gente se sente sufocado, pressionado porque as vagas diminuíram”, lamenta.
Um dos colegas de turma de Joyce será Pedro Henrique, 21, também morador da Bomba do Hemetério, que irá realizar a prova do Enem pela terceira vez. Pedro já fez um curso técnico em confeitaria e, agora, deseja chegar ao ensino superior cursando gastronomia na UFRPE. A expectativa dele é que o curso ajude a “aprofundar mais nos conhecimentos, para que possa almejar a universidade pública”.
Pedro vê de maneira muito positiva que movimentos como o Levante Popular da Juventude realizem ações o Curso Ciranda Popular, principalmente por conta do momento político atual. “É muito importante, porque é um movimento que está ajudando outro jovem a ver o mundo de outra forma. A universidade [hoje] está muito mais difícil, por conta do governo que não faz pelo povo. Cada dia que passa, a gente vê que as coisas ficam mais difíceis do que estavam”, conclui.
Mas não só os estudantes que estão entusiasmados com o início das aulas. A professora de biologia Andressa Alves será uma das educadoras e tem boas expectativas para o projeto, principalmente porque ela se identifica bastante com os jovens que estarão nas aulas. “Eu entrei na universidade assim também. Fui aluna de escola pública e, realmente, não teria condições de entrar na universidade se não tivesse tido oportunidade de entrar em um cursinho popular. Entrei na universidade e tracei um caminho. Terminei a graduação, fiz mestrado e doutorado e, por isso, devo muito a pessoas que tiraram um tempo para poder fazer com que eu e outras pessoas conseguissem ter acesso à universidade”, conta.
Também Pedro Felipe, que estará dando aulas de história, vê que um projeto como os cursinhos populares é uma oportunidade de “quebrar os muros da universidade”. “A gente acredita que o ideal é que ensino e o desenvolvimento educacional ultrapassem [os limites da universidade] e alcancem os lugares mais distantes. A universidade no Brasil foi construída e pensada apenas para uma classe social”.
Para o professor de história, o período vivido pelos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff ampliaram o acesso à universidade e foi isso que fez com que pessoas como ele tivessem a oportunidade de ingressar no ensino superior. “Sou de uma geração que não era esperada para a universidade. Então, dentro de uma concepção de sentido social, espaços como esse são importantes, para que eu possa dar um retorno à sociedade pela formação que tive”, reforça.
Edição: Monyse Ravenna