Pernambuco

LITERATURA

O que tu indica? Revolução Laura, de Manuela D’ávila.

O livro conta o encontro da maternidade com a atuação política

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Manuela D’Ávila já foi vereadora, deputada estadual e federal e candidata a vice-presidente do Brasil nas últimas eleições
Manuela D’Ávila já foi vereadora, deputada estadual e federal e candidata a vice-presidente do Brasil nas últimas eleições - Reprodução

“Revolução Laura - reflexões sobre maternidade e resistência” é um livro escrito por Manuela D’Ávila sobre sua própria experiência enquanto mãe (de Laura!) e mulher que participa de espaços políticos institucionais. Manuela D’Ávila já foi vereadora, deputada estadual e federal e candidata a vice-presidente do Brasil nas últimas eleições.

No lançamento do livro em Recife, Manuela D’Ávila chegou a caracterizar seu livro como despretensioso. Talvez o seja por não trazer fórmulas teóricas ou conceitos acadêmicos. Mas é um livro potente que faz a gente pensar desde a maternidade sem romantismos até em como o patriarcado se expressa na política institucional.   

Manuela D’Ávila com seu livro nos mune com outros elementos, ao meu ver, muito caros ao fazer político hoje. Em tempos em que a polarização se dá cada vez mais entre os que propagandeiam a barbárie que é a combinação do neoliberalismo econômico com o neofascismo - barbárie já expressa na ascensão de governos que capitaneiam e incentivam a intolerância às diferenças enquanto promovem a retirada completa de direitos da classe trabalhadora, resultando na piora das nossas condições de vida com o aumento da violência e do desemprego e da informalidade - e àquelas e àqueles que defendem a democracia, o que a radicalidade da coerência entre o que defendemos como projeto de país e nossas decisões mais cotidianas tem a nos ensinar?

O cotidiano é político. Uma sociedade estruturada pela capitalismo, pelo racismo e pelo patriarcado não dimensiona a esfera do cuidado enquanto trabalho e enquanto imprescindível para a reprodução da vida humana. Ora, se é interesse de toda a família e de toda a sociedade ter pessoas alimentadas, vestidas e amadas, porque a sustentabilidade da vida humana, os trabalhos domésticos e de cuidados, devem apenas recair sob responsabilidade das mulheres, e sobretudo mulheres negras? Um projeto de país soberano, democrático e com justiça social - contra a barbárie! -, deve dimensionar as demandas de cuidado e propor políticas públicas que socializem os trabalhos de cuidados e domésticos, pois é ainda nesta sobrecarga de trabalho sobre as mulheres que se assentam as desigualdades entre nós e os homens.

Com sua decisão de fazer se encontrarem a maternidade e a atuação política institucional, e o livro é sobre o encontro desses mundos que o patriarcado quer pintar de dicotômicos e mesmo inconciliáveis, Manuela D’Ávila provoca uma série de questões que vai desde qual projeto de sociedade, com quais bandeiras, contém em si a plena justiça social, com a superação da divisão sexual e racial do trabalho, mas também sobre quais práticas estamos empregando no nosso fazer político. Se há quem encontre sua força social para levar nosso país às ruínas organizando o ódio, a intolerância, a violência, o que a aparente leveza e simplicidade do livro de Manuela D’Ávila tem a nos ensinar? Crianças existem, e com constatações supostamente óbvias como essa, o livro “Revolução Laura” é um convite a nos humanizar, lembrar que assim como as crianças existem, existe a necessidade de cuidar, que cuidado é trabalho, mas que também existe a inocência e que amor constrói e que o amor é prática e que se expressa no acolhimento das diferenças e na solidariedade para superar as desigualdades. Leiam! 

*Elisa Maria é advogada e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
 

Edição: Monyse Ravenna