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Editorial | 18 de maio: dia nacional da luta antimanicomial

A lógica manicomial construiu grandes hospitais onde as pessoas sentenciadas a aguardar o fim de suas vidas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Com a redemocratização, o movimento constrói força social para iniciar o processo de mudança de paradigma de cuidados em saúde mental
Com a redemocratização, o movimento constrói força social para iniciar o processo de mudança de paradigma de cuidados em saúde mental - Reprodução

Há pouco mais de 30 anos, o dia 18 de maio é marcado em todo o país em mobilizações de variadas expressões, pelo Dia Nacional de Luta Antimanicomial. De nome difícil de falar num primeiro momento, também acompanha a apropriação de um conceito por uma classe social dominante para justificar o aprisionamento e mortes de diversos segmentos da população: o da loucura. 
Apesar deste distanciamento colocado ao longo dos séculos pela ciência e pelo poder judiciário na forma de permitir – ou não – a circulação das pessoas pela cidade, trata-se de uma bandeira de fácil compreensão por quem se aproxime, de alguma maneira, da temática ou, e, principalmente pelos indivíduos e famílias vítimas dessa forma de organizar rede de serviços de saúde, e por consequência, forma de cuidar do povo. 
A lógica manicomial construiu grandes unidades hospitalares (a maior parte delas privadas) onde as pessoas eram encaminhadas e sentenciadas a aguardar o fim de suas vidas. Maus tratos, torturas, negligência, afastamento de familiares, negação de identidades, exclusão de projetos de vida, racismo institucional e violência sexual foram, e ainda são, práticas comuns nessas instituições que por vezes mudam na aparência mas permanecem na lógica, como são o caso das Comunidades Terapêuticas atualmente. 
Com o processo de redemocratização, o movimento de luta antimanicomial consegue construir força social suficiente para iniciar um potente processo de mudança de paradigma de cuidado em saúde mental, e por isso, mudança nas legislações e nas políticas de saúde. Sendo menos importante entender compreensões diagnósticas ou a multiplicidade de ofertas terapêuticas, trata-se de entender que a bandeira levantada com muita responsabilidade fala de compreender o ser humano em sua dignidade, no respeito a seus desejos e história, nas suas relações sociais. 
Esses avanços são relatados porque hoje a liberdade proporciona voz e organização política para resistir aos retrocessos propostos de forma assustadora pelo governo federal. Nesta semana também marcada pela mobilização nacional contra os cortes nos investimentos nas Universidades públicas, trazemos o entendimento do manicômio como sistema de opressões essencial para o sistema capitalista. A estrutura de um hospital psiquiátrico representa uma sociedade de desigualdades de direitos e de acesso, onde uma parte dela é frequentemente obrigada a não existir e esconder-se, em políticas de morte ou de prisões nas mais diversas instituições. 
Diminuir o acesso ao conhecimento, impedir formulação de conhecimento, impedir o avanço da ciência no país é também construir muros que silenciam e invisibilizam a classe trabalhadora com recortes importantes de raça, gênero e orientação sexual. Que nesse dia, consigamos fortalecer nosso conjunto de lutas e resistências que apontam para um projeto de país sem nenhum tipo de manicômio e que, mais que nunca, compreenda a educação, o conhecimento como práticas de liberdade.

Edição: Monyse Ravenna