Na manhã desta sexta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) esteve no Instituto Ricardo Brennand, no Recife (PE), onde participou de reunião da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Com a presença de governadores dos nove estados do Nordeste, além de Minas Gerais e Espírito Santo (estados que compõem a Sudene), o encontro teve manifestações do lado de fora. Esta foi a primeira vez que Bolsonaro veio ao Nordeste desde que assumiu a Presidência da República. Na eleição presidencial de 2018, a região impôs uma derrota de 70% a 30% ao então candidato do PSL.
A ampla rejeição do Nordeste ao hoje presidente foi bastante mencionada nas falas que tomaram conta dos microfones do lado de fora do Instituto Ricardo Brennand (IRB), que fica a poucos metros da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Nas ruas do bairro da Várzea cerca de 150 manifestantes -- em sua maioria estudantes de graduação e pós-graduação -- criticavam os cortes no orçamento da Educação e a proposta de Reforma da Previdência. Também foram frequentes as convocações para o ato do próximo dia 30 de maio, contra os cortes na educação; e para a Greve Geral convocada para o dia 14 de junho. O ato, que saiu antes das 10h da UFPE, ficou nas proximidades do IRB até o meio-dia.
Do outro lado da rua, dividida por uma barreira policial, estavam os cerca de 100 manifestantes pró-Bolsonaro. Vestidos de verde e amarelo, com camisas com o rosto do presidente e a palavra "mito", os bolsonaristas também carregavam cartazes a favor da Reforma da Previdência, pedindo uma CPI que investigue o Supremo Tribunal Federal (STF), contra o bloco de parlamentares do chamado "centrão" e cartazes criticando veículos de imprensa. Os presentes confirmam que as pautas estarão nas faixas que levarão às ruas do bairro de Boa Viagem nesse domingo (26), onde eles esperam grande apoio dos caminhoneiros. Eles ficaram na porta do IRB até as 13h, na esperança de verem Bolsonaro. O presidente, no entanto, chegou e saiu de helicóptero, para o qual os manifestantes acenaram.
Conversa com governadores
Dentro do IRB, a reunião da Sudene com a presença de Bolsonaro foi a portas fechadas. O encontro teve como pauta principal a apresentação do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), elaborado pela Sudene e visando principalmente o período 2020-2023. O plano foi aprovado pelos governadores, que não se mostraram de todo satisfeitos. A pauta prioritária deles é recursos federais para novas obras de infraestrutura ou ao menos para a conclusão das obras paradas.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), fez uma fala de combate às desigualdades, focado na superação das desigualdades regionais, criticando a "falta de oportunidades, estrutura insuficiente, instabilidade econômica". "Precisamos do equilíbrio regional necessário para o país ser visto como Nação justa". Segundo o socialista, a melhoria da situação econômica do Nordeste será "fruto do entendimento e da parceria, em que todos cumpram o seu papel", disse.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), foi mais direta e cobrou mais recursos para os estados investirem. "Não adianta um plano bonito, mas sem orçamento", reclamou. O Fórum dos Governadores do Nordeste tenta um acordo para que 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento, do BNDES, seja destinado aos estados do Nordeste. O único recurso anunciado foi o aumento do Fundo para o Desenvolvimento do Nordeste (FNE), um fundo do Banco do Nordeste (BNB) que realiza empréstimos para empresas públicas e privadas para estimular o setor produtivo. O fundo hoje conta com R$ 23,7 bilhões e agora chega aos os R$25,8 bi.
O presidente do BNB, Romildo Rolim, tentou animar afirmando que "há projetos para o Nordeste", mas sem esclarecer quais. Não se falou em investimento público. As áreas mencionadas por Rolim -- aeroportos e geração de energia -- estão nas mãos da iniciativa privada. Outra área mencionada foi a do saneamento, que o Governo Federal tenta passar do setor público para o privado. O ministro do Desenvolvimento Regional, Ricardo Canuto, disse acreditar que pode "fazer essa região se desenvolver".
Rodeado de ministros, Bolsonaro falou em "ajudar os irmãos do Nordeste" e se colocou "apenas como um maestro que rege uma orquestra", que é composta pelos ministros. Nenhum dos 22 ministros de Bolsonaro é nordestino. Repetindo o que tem feito em relação a orçamento de quaisquer áreas, o presidente condicionou à aprovação da PEC 6/2019. "Sem a Reforma da Previdência não poderemos fazer nada aqui", disse.
Formando um bloco de oposição à agenda política de Bolsonaro, os governadores do Nordeste também estão tirando do papel um consórcio em que os estados poderão contratar obras e serviços de maneira conjunta, buscando uma atuação estratégica para reduzir os impactos da escassez de recursos públicos para a região. O superintendente da Sudene, Márcio Gordilho, é escolhido pelos governadores da região e assumiu o cargo em setembro de 2018.
Edição: Marcos Barbosa