O Programa Brasil de Fato Pernambuco, que foi ao ar na Rádio Clube 720 AM, realizou uma entrevista ao vivo com a Cônsul da Venezuela no Brasil Sonia Alvarado. Nos últimos meses a Venezuela entrou na agenda política da mídia comercial brasileira, em uma campanha de desinformação sobre os acontecimentos no país. Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, a Cônsul contou, desde sua perspectiva de cidadã venezuelana e representante internacional do país, o que realmente está acontecendo na Venezuela.
BdF: O que realmente está acontecendo na Venezuela?
Cônsul Sonia Alvarado: De fato, está acontecendo um bloqueio criminoso contra a Venezuela, que ficou mais aguçado com o governo de Donald Trump nos Estados Unidos. Nós temos problemas desde que iniciamos nossa revolução, começada pelo comandante [Hugo] Chávez. Sempre a Venezuela foi objetivo de ataque. Mas, quando chega a revolução na Venezuela e se começa a distribuir as ganâncias petroleiras para o povo venezuelano, os Estados Unidos passam a ter como objetivo principal a Venezuela porque, antigamente, os Estados Unidos eram quem dirigiam e manejavam as riquezas da Venezuela. Quando apenas 15% ficava com o povo venezuelano, enquanto 85% ficava para eles [os norte-americanos]. Então, tínhamos uma pobreza bastante grave, extrema. Até que chegou o comandante Chávez e, desde então, começamos a distribuir “uma gota de petróleo para cada cidadão da Venezuela”, como ele [Chávez] dizia.
BdF: Quais são os interesses dos Estados Unidos na Venezuela?
CSA: O petróleo, na Venezuela, sempre foi manejado pelos Estados Unidos. A Venezuela é a principal provedora dos EUA e o maior país de petróleo que existe. A Venezuela tem mais petróleo que a Arábia Saudita. Pode acabar o petróleo, que ainda tem as reservas petroleiras que para mais 300 anos. Os Estados Unidos estão ficando sem petróleo. Segundo uma pesquisa, eles têm petróleo até 2021 de reservas petroleiras. Claro, eles continuam comprando petróleo à Arábia Saudita. Mas, para eles ficarem com o petróleo da Arábia Saudita, o espaço de tempo para chegar até lá são mais de 45 dias, enquanto, desde a Venezuela, são apenas cinco dias. Então, aí você vê a facilidade. Inclusive, eu acho que ainda que o comandante Chávez tenha previsto algumas coisas, infelizmente ainda não tínhamos refinarias em conjunto lá. Tínhamos filiais da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) que, ultimamente, foram bloqueadas também, que eram o grande financiamento para cobrir todas as necessidades que estamos sofrendo hoje em dia a respeito de alimentação, medicamentos e todos os suprimentos que qualquer cidadão do mundo possa precisar
BdF: Algumas pessoas falam que a Venezuela é uma ditadura, que lá não existe democracia. Como funciona o sistema eleitoral na Venezuela?
CSA: O sistema eleitoral da Venezuela, para começar, é livre e popular. Lá, vai votar quem deseja. Ou seja, aqui eu me dei conta que no Brasil vocês são obrigados a votar, senão são sancionados de uma ou outra coisa por um documento, ou precisam explicar muito bem por que não votaram. Na Venezuela não, você vai votar porque deseja como cidadão. Mas, não tem obrigação. A segurança que tem nosso sistema eleitoral é que, primeiro, se busca uma lista com seu nome e seu número de identidade. Você encontra seu nome, vai à mesa, entrega seu cartão de identidade, você registra seu dedo indicador para votar, sai um papel por candidato que você votou e você assina a lista. Ou seja, não há possibilidade de fazer fraudes porque só você pode votar por você, porque a impressão digital é única no mundo. Então não pode outra pessoa votar por você. Então, quando falam que o sistema eleitoral está fraudado, que só ganha o governo chavista, eu acho que ganha porque somos organizados, porque a gente cansou da quarta república em que só se compartilhava as riquezas entre poucos e havia uma extrema pobreza.
BdF: Como você avalia a cobertura da mídia comercial sobre a Venezuela? E onde que as pessoas podem buscar informações que sejam mais próximas da realidade?
CSA: Infelizmente, a mídia que mais tem força aqui todo mundo sabe qual é… Ela só fala besteira, não fala nem sequer a verdade. Infelizmente, se se pode chamar “profissionais” que trabalham para ela, não têm a delicadeza de ver se é verdade ou se são Fake News. Não. Eu, quando vejo a televisão, assisto para ver o que falam. Fico muito indignada. Meu Deus, eu acho que essa pessoa sequer tem a mínima ideia do que acontece na Venezuela. Se você tem a possibilidade de ir para lá… Falam desde Washington “o que está acontecendo na Venezuela”. Então, graças a outros meios, que buscam, se interessam por saber a verdade e falar a verdade, não só com Venezuela como com outros países em que acontecem esse tipo de situações, tem que falar a verdade, a realidade de cada país.
Edição: Monyse Ravenna