O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) inaugurou nesta quinta-feira (30) uma unidade do Armazém do Campo no Recife. O espaço vende produtos vindos diretamente dos acampamento e assentamentos da Reforma Agrária e da agricultura familiar.
Os mais de 120 alimentos que serão vendidos no Armazém dialogam com a resistência camponesa e a permanência das famílias na terra. Entre tubérculos, carnes, verduras, laticínios, frutas e grãos, está o arroz agroecológico do Rio Grande do Sul (RS), exemplo de como é possível construir uma produção agrícola que se diferencie das práticas do agronegócio.
A história do arroz do MST está ligada, também, à luta pela agroecologia no movimento. De acordo com Raminho Figueiredo coordenador do Armazém do Campo no Recife, desde o fim do século passado o MST tem entendido a agroecologia como uma estratégia de produção e rompimento com as bases da produção capitalista. Por essa razão, o movimento foi se aproximando das práticas de agricultura alternativa, como eram chamadas nos anos 1990 e, depois, passou a compor as redes de agroecologia.
“Isso vai representar um impacto tão grande na história do movimento, que ele vai fundar as escolas de agroecologia no paraná. Na Venezuela, o MST passou a compor a coordenação de um curso de técnicos em agroecologia”, conta. Desde então, o movimento passou a defender a agroecologia como estratégia política.
Após se aprofundar no debate da agroecologia, o MST criou a Bionatur, que produz sementes orgânicas e, a partir disso, foi surgindo a discussão de ampliação da gama de sementes orgânicas para além do âmbito das hortaliças e tubérculos. Segundo Raminho, foi nesse momento que o MST iniciou a produção de feijão de arroz orgânicos. No RS, foram feitas pesquisas e parcerias, até que se chegasse a um produto que se encaixasse nos padrões de mercado, mas saudável, o que fez o MST se tornar referência na produção de arroz orgânico para todo o mundo.
“O MST é hoje o maior produtor de arroz agroecológico na América Latina. Ele produz um arroz de qualidade e com capacidade de disputar com o mercado do capital a um preço acessível”, afirma o coordenador do Armazém. O arroz é produzido em cooperativas ligadas ao MST, fruto do incentivo à produção por meios coletivos.
Arroz no Armazém do Campo
Hoje em dia, o arroz é distribuído em diversas regiões do Brasil e, inclusive, exportado para outros países. Com o Armazém do Campo no Recife, o alimento chega a Pernambuco. De acordo com Raminho, o Armazém do Campo já tem estocadas 11 toneladas de arroz para venda nesses primeiros meses. O produto não é o único alimento trazido de outras regiões, há também o café, cachaça, mel, geleia, entre outros produtos, todos oriundos das áreas de cooperativas do Movimento Sem Terra em diversos estados brasileiros.
Sobre a acessibilidade do preço do produto agroecológico, que tem fama de ser mais caro que aqueles produzidos pelo agronegócio, Raminho tranquiliza os futuros consumidores: “Fizemos uma pesquisa no Recife sobre preços de produtos e descobrimos que a gente pode entrar no mercado disputando com a grande rede de comércio de Recife sem nenhum problema”, conta o coordenador. “Ninguém vai ter arroz no preço que nós vamos ter no Armazém do Campo” frisa.
Mas o arroz gaúcho não é o único alimento a ser comercializado que é produzido em cooperativas ligadas ao MST. Em Pernambuco, a cooperativa do MST do assentamento de Normandia, em Caruaru, funciona como centro de escoamento da produção do de vários assentamentos da Reforma Agrária de todo o estado. 61 produtos comercializados no Armazém do Campo passam pela cooperativa caruaruense.
“Isso mostra o quanto nós temos crescido enquanto movimento nesse campo específico da produção e comercialização. Muitas vezes quem está fora do movimento não tem essa visibilidade dos grandes avanços”, reforça o coordenador.
Campanha Agroecologia é o Caminho
Para Raminho Figueiredo, as propostas do Armazém do Campo e do arroz orgânico estão em total coesão com os objetivos da campanha Agroecologia é o Caminho.
“Nossa proposta é o fortalecimento da agroecologia como estratégia de produção e do diálogo com a sociedade. Nosso arroz vem nessa proposta de colocar no mercado um produto de qualidade com a produção de sementes sadias, em um mercado solidário a partir da agricultura familiar camponesa” conclui.
Edição: Monyse Ravenna